Maria Regina Canhos Vicentin em: A pregação da Palavra
Neste último fim de semana, estive ministrando uma palestra na vizinha cidade de Igaraçu do Tietê. A temática versou sobre a mulher e a forma como se deixou escravizar pelos modismos e o culto ao corpo, esquecendo-se de suas qualidades inatas e naturais, entre elas a sensibilidade, a espiritualidade e a meiguice. Em comemoração à semana da atividade física, também ressaltamos a importância da regularidade dos exercícios, como forma de assegurarmos a saúde e a liberação de endorfinas, tão importantes para a nossa sensação de bem estar. Longe de vincular os exercícios a um corpo sarado e perfeito, a finalidade foi destacar a importância de sua ação na flexibilidade corporal, disposição geral, e prevenção de doenças. Afinal, precisamos cuidar do templo do nosso espírito. Ao término da preleção, fui procurada por uma senhora que perguntou se eu era evangélica, pelo fato de haver feito referências a passagens bíblicas durante a minha exposição. Esclareci que era católica, e que considerava que os católicos também precisavam falar.
É incrível como as pessoas já possuem um estereótipo acerca daqueles que pregam a Palavra de Deus. São evangélicos. Sim, eu entendo. Na verdade, durante muitos anos apenas eles erguiam a voz para anunciar o Reino. E de uns tempos para cá, as vozes têm ficado cada vez mais ensurdecedoras, evocando disputas de fiéis e dízimos cada vez mais obrigatórios e menos facultativos. Há momentos em que sinto pena das pessoas menos esclarecidas, que ficam à mercê dos aproveitadores da fé popular. O comércio das coisas santas anda rendendo milhões, e isso em todas as denominações religiosas. Posso até imaginar o Mestre Jesus com aquela ânsia de tecer outro chicote e expulsar os vendilhões dos templos. Coitado do Senhor! Teria tantos templos para visitar atualmente.
A pregação da Palavra virou comércio da fé. Quem dá mais por este martelinho que quebra todas as suas dificuldades e problemas? Que tal adquirir um pouquinho da Terra Santa? Tudo isso sem sair de casa; no conforto do seu lar; basta ligar… Que triste! Que maldade fazer isso com as pessoas desiludidas, desamparadas, amedrontadas, endividadas… Explorar a fé popular para conseguir as mesmas moedas que Judas angariou e que o levaram à morte. Quem desvirtua a finalidade bíblica não ficará sem castigo, tenho certeza.
O egoísmo, a ganância e a promoção pessoal estão alavancando o comércio da fé. Como as atitudes modernas estão distantes do exemplo dos verdadeiros apóstolos de Jesus que tinham tudo em comum. Alguém sabe me dizer qual o resultado da partilha atual no comércio da fé? Seria o dinheiro para os cofres do pregador e o bolso vazio para os fiéis? Alguém poderia me explicar? Acho que estou um tanto confusa. A pregação da Verdadeira Palavra virou desafio. Não há como agradar a gregos e troianos. Ou a gente fala o que realmente precisa ser dito ou é melhor ficarmos com a boca fechada!
Maria Regina Canhos Vicentin (e.mail: contato@mariaregina.com.br) é escritora.