Em beira de cais,/Nada é proibido, tudo é permitido/Capoeira, polícia, bandido./ Vento soprando de fora /Barco, maresia, marola,/Estão na beira do cais./

Em beira de cais tudo se vê, /Mingau, laranja, lelê,/Mungusá, pamonha,/Crack, peixe, maconha/Peixeira, briga, intriga amizade./Oração, sacanagem, angú,/Comida fora de hora,/É grito e saudação/Freguês, dinheiro, lundú./

Beira de cais,/ Tem de tudo pra se vê/Cooperi, gelo, peixe-falência,/Dotô-cachorro, barrigazul, hartur./Tem Candinha, Chiquinho,/Tem gringo.Pedro -porrete, cacete,/Beira de cais/“só não tem político e ladrão”

Beira de cais é sombra e sol, é correria, grito e euforia da boa pescaria que chegou./Beira de cais é barco, atracando, desatracando. À bordo, bombordo, estibordo. /É vela solta no ar/Gaivota que volta do mar./

Beira de cais /É nêga do nêgo pescador/Da boa pescaria que chegou, /É luta lida da vida,/Remo, canoa, remador, /Nêga do nêgo que voltou /

Beira de cais é óleo, graxa, motor/Barulho, sim senhor/Barulho de pescador. É pinga cerveja xangô/Baiana, baiano que amor./

É branco e preto, preto todo de branco é marrom/Tem batom é do dotô./É rede, linha, anzol/Arco e samburá/É peixe, pescador,/Tudo que vem do mar./

Beira de cais é vicio, feitiço, coisa-feita/Desfeita, mal feita./É vela, verga farol/É mastro e lona /“lama na cama, sem amor”/É tempo do tempo dar tempo/Pesca peixe, pescador./

Beira de cais tem estória/De nêga do nêgo doutor./Tem reza, tem safadeza/Tem beleza sem valor,/Tem valor sem grandeza/Tem fineza sem valor/

Beira de cais não tem onda,/Pois a onda não voltou./Beira de cais leva a onda /Só quem volta é pescador./Pescador que pesca peixe./Só peixe, é que tem valor./

Beira de cais é só riso,/ É tudo de faz-de-conta./Na conta do pescador./Se pescador pesca peixe/Não é peixe de pescador./Quem gosta muito de peixe /É a conta do doutor./

Beira de cais é tudo isso, alegria, malandragem./É trabalho todo dia/Capoeira, vadiagem./ Pesca, peixe, pescaria,/Barco, vela, bolinagem./

(ALMEIDA,J Iram)