Coluna Carlos Brickmann / “Sonhar mais um sonho impossível”
Muita gente se irritou ao saber que o Sistema Nacional de Alerta e Prevenção de Desastres Naturais, iniciado em 2005 e até agora parado por falta de verbas, vai ficar pronto só em 2015, depois de três ou mais temporadas de chuvas.
Muita gente se alegrou ao saber que o tal sistema finalmente vai andar e ficará pronto em 2015: afinal de contas, antes tarde do que nunca.
Os dois lados podem se decepcionar: na verdade, na verdade, ninguém lá de cima se preocupa com o sistema. Mas, como o Brasil se comprometeu com a ONU a elaborá-lo, e o prazo previsto no acordo é 2015, ficou tudo para 2015. Aí virão desculpas mais novas. Como diz Chico Buarque, amanhã vai ser outro dia.
O fato é que políticos e administradores não gostam desse tipo de obra, por falta de retorno eleitoral. Imaginemos um plano de drenagem magnífico, magnificamente executado. Mesmo que chova muito, não haverá enchentes, nem prejuízos, nem deslizamentos, nem acontecerá nada. Para o eleitor, se nada acontecer é porque nada devia acontecer mesmo, e não há motivos para retribuir com seu voto a quem fez o plano e executou-o. Os administradores podem ficar roucos de informar que, sem as obras, haveria enchentes. Como enchentes não houve, para o eleitor eles estão apenas se vangloriando. E agradeçamos à Providência Divina.
É complicado: exige que políticos e administradores tenham espírito público suficiente para fazer o que é necessário sem esperar reconhecimento imediato. Mas talvez seja mais produtivo aguardar que as coisas se arrumem sozinhas.
Dinheiro no cofre é vendaval
A propósito dos planos de defesa contra desastres naturais, de 2004 a 2010 o Governo Federal economizou quase R$ 2 bilhões previstos no Orçamento. Na prevenção de danos e prejuízos, gastou pouco menos de um quarto disso, 23% – uns R$ 540 milhões, espalhados pelo país. Há certos casos em que a economia é a base da porcaria – e esse é um deles. Isso explica por que na Austrália, onde choveu mais que no Rio, o número de mortos não ultrapasse 3% dos nossos.
Onde está o dinheiro
Mas não acuse o Tesouro de pão-durismo. A folha de pagamento do Congresso Nacional, segundo o portal Contas Abertas, passa de R$ 5,3 bilhões em 2010 para cerca de R$ 6,2 bilhões neste ano – elevação de 860 milhões de reais (só o aumento da despesa é mais do que se gastou em prevenção de acidentes naturais nos sete anos anteriores – ver nota acima). O espetacular aumento de salários dos nobres congressistas se reflete também no pagamento de aposentados e pensionistas das duas Casas. Importante: o aumento de despesas quase bilionário não inclui a elevação dos salários parlamentares em Estados e municípios.
Brasileiro é bonzinho
E também não acuse o Brasil de pão-durismo. O chanceler Antônio Patriota prometeu ao presidente paraguaio Fernando Lugo “todo o empenho do Governo brasileiro” para pagar mais pela energia de Itaipu. Detalhe: o Paraguai não participou do pagamento da obra e o preço que receberia pela energia está fixado em acordo ainda em plena vigência. Enfim, o chanceler prometeu que o Brasil pagará o triplo do custo de hoje. Garantiu que, com a maioria que tem no Congresso, o Governo Federal não terá dificuldade em conseguir a aprovação do novo gasto.
Pergunta-se: se o acordo não expirou, por que mudá-lo, tornando-o mais caro?
Volta, Delúbio!
O “nosso Delúbio”, como era carinhosamente chamado pelo ex-presidente Lula, quer voltar ao PT, de onde foi expulso na esteira do escândalo do Mensalão. A volta de Delúbio é um ato de justiça: o ministro que perseguiu um caseiro está de volta, o parlamentar dos atos secretos articula o retorno de Renan Calheiros à Presidência do Senado, os bancos do Mensalão continuam numa boa, o presidente da República afastado do cargo sob tremenda carga de acusações é um pilar da base governista, o senador que ofereceu fazendas de vários andares como garantia para empréstimos oficiais é um ícone parlamentar. Por que só Delúbio está pagando a conta? Volta, Delúbio! Seu lugar é entre seus pares!
Acertando as contas
E devolvam o Land Rover pro Silvinho!
Insegurança pública
Cena ocorrida nesta segunda em São José dos Campos, SP: o delegado do 6º DP, Francisco Marino, em excelente forma física, estacionou o carro na vaga de deficientes, em frente ao Fórum. O advogado Anatoly Magalhães, que só se locomove em cadeira de rodas e ficou sem vaga, protestou. O delegado cobriu o advogado deficiente físico de coronhadas. O Boletim de Ocorrência foi lavrado no 1º Distrito Policial da cidade.
E o pessoal que vigia o Fórum, deixou tudo acontecer sem problemas?
Amor tucano
Geraldo detestava Sergio Guerra que também não gostava de Geraldo que não gostava de Serra e só de vez em quando gostava de Aécio que não gostava de ninguém, exceto dele mesmo, mas sabe fingir que é uma beleza.
Os tucanos são a única legenda que merece o nome que tem: partido.