Dois de Julho, festa do povo

Dois de Julho, festa do povo

Em comemoração a independência da Bahia, o Dois de Julho, ontem (2), centenas de pessoas se reuniram para acompanhar o cortejo que percorre as principais ruas do Centro Histórico de Salvador. O festejo teve inicio com o hasteamento das bandeiras nacional, estadual, de Salvador e do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, em frente ao Panteão, no Largo da Lapinha, ao som do hino da Bahia.  Símbolo absoluto do surgimento de uma nova nação, os caboclos, foram, sem dúvida nenhuma, os personagens mais aplaudidos do desfile. Homens, mulheres, idosos e crianças, se aglomeraram para reverenciar os representantes da vitória e da independência do estado. Com 54 anos, Deusi Sacramento, vem todos os anos ao cortejo, agradecer por ter sobrevivido a um acidente, quando era pequena, que aconteceu em pleno Dois de Julho. “Quando eu era pequena fui atropelada saindo do desfile do 2 de Julho, fiquei entre a vida e a morte. Meus pais oraram bastante, voltaram pro final do desfile e colocaram um papelzinho com o pedido no altar do caboclo, e eu sobrevivi. É por isso que nunca falto a um desfile, venho aqui pedir proteção e  agradecer pela graça alcançada,” conta. Como figura extremamente popular, o culto aos cablocos agrega uma vasta gama de significados que muitas vezes ultrapassa o sentido cívico. Mandar alguém ir “chorar no pé do caboclo”, é aconselhar a procurar consolo, quando tudo mais parece perdido. Para o pai de santo, Jackson Simões, a confiança na divindade dos personagens é o que leva tanta gente, todos os anos, a depositar pedidos nos altares durante o cortejo. “Eles simbolizam a natureza, tudo que há de bom e puro no mundo. Independente da religião que seguem, as pessoas tem fé que o impossível pode ser solucionado quando vem aqui e depositam seus pedidos no altar. Esqueçam os políticos, se não fossem os caboclos, essa festa são seria do jeito que vocês estão vendo, “ explica. Com lágrimas, gritos, fé e esperança. Foi dessa forma que Neuza da Conceição, de 62 anos, seguiu todo o percurso da festa. “Hoje é comemorado a independência da Bahia, o Dois de Julho e o aniversário da minha filha. Tive um parto muito complicado, pedi ao senhor do Bonfim proteção, e por isso, todos os anos não venho mais pedir, venho aqui agradecer. Vou até o final agarrada na Cabocla que é pra ter proteção o ano todo,” conta. Símbolo da luta pela independência a escultura de madeira, em forma de caboclo, tem um porte altivo e atlético. Com uma das mãos, aponta uma lança para uma serpente, representando a tirania portuguesa, e, com a outra, segura a bandeira nacional. Já a cabocla, representa à lendária Catarina Paraguaçu a índia pela qual o náufrago português Diogo Álvares Correia, apelidado de Caramuru, teria se apaixonado. Durante todo o Dois de Julho, os tambores tocam nos terreiros de candomblé para eles. Nas tradições religiosas afro-brasileiras, os caboclos são reverenciados como seres encantados, considerados os donos da terra, por habitarem o Brasil muito antes dos africanos chegarem.