Confirmada a pretensão em 2007, manifestei-me em alguns escritos tentando  exercer a cidadania–, contrário à realização da Copa no Brasil. Os motivos iam da incoerência do país realizar o evento com pessoas morrendo na porta de hospitais, por exemplo, ao meu descrédito por  já ter lido e ouvido envolvida até em corrupção com a FIFA. Entretanto, não cheguei, vale dizer, a radicalizar engrossando a fila dos que fecharam os olhos às possibilidades da geração de emprego e outros benefícios com as previstas obras de estádios, infraestrutura, transporte, enfim às probabilidades de movimentar a economia pra cima, apesar da prática de superfaturamento de empreiteiras ocupasse diuturnamente as manchetes de jornais.

Consciente do apito surdo em todos, restou-me ‘desarmar os espíritos’ e a ela assistir, dobrando-me aos impulsos da paixão nacional. Os rumores de tumultos em dias de jogo, inclusive do Mundial não acontecer, motivados pela continuidade das manifestações populares ficaram nisso, nada aconteceu de mais grave. Belos jogos, estádios lotados, gente de várias nacionalidades zanzando pelas capitais brasileiras dando aquele toque de alegria, fizeram a Copa um sucesso, aliás, quase. Infelizmente deixaram de acontecer, mesmo sem prejudicá-la, a conclusão em  razão de nossa nefasta cultura do improviso, do mau planejamento, de importantes projetos ligados à mobilidade urbana. Por outro lado, a segurança esta, sobretudo a sob o comando federal bombou ao chutar pra longe, entre outros ilícitos, a temida exacerbação da violência.

Pena que tal êxito a seleção canarinho não tenha logrado. Vixe! Foi vexame demais! O time não vinha bem desde o início; vencia, mas não convencia. A conquista das Confederações em cima da Espanha pode ter envaidecido os dirigentes e sido um dos fatores do insucesso. Neymar, comprovadamente um craque, fez falta. Agora, a de alçar sua camisa no momento do hino nacional, aqui pra nós, foi uma tremenda escorregada, uma verdadeira bola nas costas.  Ali se ausentou o espírito de pátria, de grupo, e possivelmente abalado psicologicamente a confiança do substituto. Felipão foi o crucificando pelo papelão. Isso é de praxe no futebol, e brasileiro por excelência: Se ganhou o cara é tido como herói, perdeu, vira vilão. Mas tem sempre uma reviravolta. Em 2002 este mesmo Filipão fora convocado pela opinião pública, lembra? O “parrudo”, o “turrão”, o “volantão” Dunga, como assim era conhecido o execrado técnico de 2010, foi o sorteado desta feita. Conhecido pela seriedade nas atitudes teve grande repercussão o fato de ele peitar na época privilégios de uma poderosa emissora de televisão, recorda?

Em princípio nada contra em absoluto ao glorioso capitão do tetra, só que me integro à turma dos 200 milhões de entendidos que deseja uma mudança completa de mentalidade no futebol brasileiro, um “choque de gestão” como se diz. E nada Ave  Maria!de ir à cata de heróis salvadores. Futebol hoje em dia se faz com talento sim, mas também com muito sentido de conjunto, com muita organização.  O famoso dramaturgo alemão Bertold Brecht não desaprovava um país com heróis, mas ele já dizia que “Miserável país aquele que precisa de heróis”. Entendeu? Pronto. Basta os da CBF seguirem tintim por tintim os passos da alemã, seleção que além de encantar o mundo com seu futebol –claro, com a ajudinha de nossos Pataxós–, mostrou seu lado fraterno ao doar generosos recursos  à comunidade de Cabrália. Isso sem dizer da visibilidade que proporcionara à cidade (inclui-se neste quesito a da Suíça, se diga) e por tabela a toda a Região Sul da Bahia.

Como pitaco final, me resta torcer que a administração pública brasileira que teve a capacidade, apesar dos pesares, de organizar um evento de tamanha envergadura como uma Copa do Mundo, faça disso um exemplo para que em futuras edições dos jornais, ocorram em primeira página com  costumeiras letras garrafais registros noticiando que no Brasil ninguém mais morre na fila de hospitais por falta de atendimento. Quanto a FIFA… Bom, as notícias dependem dela.

Heckel Januário