De ainda tema fresquinho, este escrito-diálogo foi publicado neste R2CPress e no Diário de Ilhéus em 17.10.2009. Como as opiniões são passiveis de mudança, achamos conveniente traze-lo novamente à reflexão do caro leitor.

Na Capitania dos Ilhéus quando o assunto é Olimpíadas e Copa do Mundo o antagonismo é patente:

– Ora Walter, você não vê que essa história de Copa e Jogos Olímpicos é só auê e que depois não é essa vantagem todo como se comenta!

– Não, Pantera, não é assim não. Você já parou para observar o efeito multiplicador de cada dólar com a realização desses eventos!? Coloque bicho, em sua cabeça: será a boa oportunidade de o governo investir no social.

– Qualé, desde quando governo algum se preocupou com essa parte. Tire pela nossa distribuição de renda. Se dessa forma, seria uma maravilha; eu disse, seria.

– Peraí Pantera. Tá apelando é? Tem países piores no planeta!

– Ok, eu concordo, mas para o nosso, dito emergente, tido como a oitava, sei lá, décima economia do mundo, é muito pouco seu Walter, é muito pouco…

– Sim, meu caro, mas você se esqueceu de levar em conta o Pré-Sal que definitivamente irá melhorar a qualidade de vida do brasileiro! E vou lhe dar uma notícia alvissareira. Sabia que na nossa Região, de Belmonte a Ilhéus, o Pré-Sal abunda? Não chegou a ver por acaso a euforia do governador nos jornais com a descoberta?

– Lá vem você com esse tal de Pré-Sal. Se esse óleo fosse esse balaio todo, seriamos uma Suécia. Veja, somos autossuficientes em petróleo, não é isso? e  me diga: Quando foi que a gasolina baixou de preço? Nunca! E outra: será mais uma ilusão implantada na Região.

– Não, amigo Pantera, ela não baixa porque na Petrobras existe a contabilização da importação e exportação e aí, você entende, né… Tá certo que aqui sempre fomos iludidos com uns governos filho-da- p., mas em Salvador receber a Copa qual a sua objeção? Bicho, Salvador virará um canteiro de obras, “podes crer”; e isso refletirá na Bahia inteira. Para se ter uma idéia, a FIFA exige cabelo e barba nos trinques: transporte, segurança etc., etc. na maior perfeição.

– Eu não entendo não Dr. Walter. Essas contas da Petrobras é conversa pra boi dormir. Adoro Salvador, e seria importante pra cidade e os moradores os benefícios, mas sinceramente, duvido que em 2014, metade dos problemas da capital estejam resolvidos. Eu sei sim de que com o anunciado da Copa o babado agora virou a ligação do Aeroporto à Rótula do Abacaxi. E sabe por qual via? metrô, meu amigo! E bem você conhece como soteropolitano, que metrô de Salvador apesar da curta distância, caminha a passos de cágado.

– E a maquete projetada da Fonte Nova na internet?  Coisa de Primeiro Mundo seu Pantera, Primeiro Mundo! Para ser sincero, eu compreendo entre outros defeitos, que o sistema de transporte de Salvador é uma esculhambação retada, mas tenho absoluta certeza  que mais tarde baterei nesse ombrinho descrente: “Viu, Panterinha, que você estava errado!”.

– Aguardarei, aguardarei. Mas não vá igualmente se iludir com os futuros grandes investimentos no Rio não; Olimpíada passa e a normalidade continua. Está lembrado do Pan-americano e da ECO-92? O Rio à época pareceu até uma cidade escandinava; acabada as festas, babau.

– Já é tarde, bicho. Vamos deixar essa de Rio pra outro dia; você polêmico e eu não ficando atrás, certamente iremos sair daqui meia-noite. E é bem provável que descambaríamos para o nosso famoso Porto Sul, e aí só chamando o nosso amigo Marcos Penha pra entrar na parada. Então, vou indo. Um abraço, Pantera. Tchau.

– Tchau. Um abraço.

O local: Praça da Irene. Embora a discussão de Eduardo Reis (Pantera) com o engenheiro Walter Costa, tenha se tornada ardorosa, acabou numa boa, como me contara tintim por tintim um confidente amigo – e deles também –que a tudo assistira de camarote.

 Heckel Januário