Pediatras querem teste do coraçãozinho para todos os recém-nascidos
Exame simples e de baixo custo ajuda a detectar cardiopatias congênitas críticas
Recentemente incorporado à triagem neonatal do Sistema Único de Saúde pelo Ministério da Saúde, a oximetria de pulso contribui para detectar cardiopatias congênitas precocemente. A Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP) defende o instrumento para detectar problemas que poderia não se manifestar nos primeiros dias de vida.
A apresentação clínica do recém-nascido com CC pode variar de ausência de sintomas até o colapso cardiovascular.
“Lembrando que como todo teste de triagem, é possível que o exame venha alterado e durante a avaliação cardiológica não se confirme a cardiopatia, ou pode ocorrer o contrário, o teste apresenta-se normal, mas a criança apresenta cardiopatia, o que é mais raro. Claro que o diagnóstico antenatal é melhor, pois o conhecimento prévio permite programar o nascimento em local com serviço cardiológico. Entretanto, indica-se a ecocardiografia fetal apenas nos casos em que a gestante apresenta fator de risco, tais como diabetes ou cardiopatia congênita. Nos casos em que não foi realizado o exame, é importante realizar o teste do coraçãozinho”, destaca dra. Lilian dos Santos Rodrigues Sadeck, vice-presidente do Departamento de Neonatologia da SPSP.
Por meio de um oxímetro de pulso, é medida a saturação de oxigênio no membro superior direito e em um dos membros inferiores. O ideal é que a saturação esteja maior do que 95% e a diferença entre os membros superiores e inferiores seja menor do que 3%. Caso venha alterado, o exame deve ser repetido após uma hora. Com resultado persistente, é indicado avaliação cardiológica e ecocardiograma. O bebê não recebe alta até o esclarecimento da alteração e prosseguimento no tratamento.
“O teste identifica a maioria das cardiopatias críticas. Se realizado entre 24 e 48 horas de vida, tem sensibilidade de 80% e especificidade próxima de 100%”, comenta dra. Liane Hulle Catani, vice-presidente do Departamento de Cardiologia da SPSP.
As cardiopatias congênitas, em geral, atingem oito a cada mil nascidos vivos. Os quadros críticos são dois em mil bebês. Em outras triagens, as incidências são: fenilcetonúria (1 a cada 10 mil), anemia falciforme (1,5 a cada 1 mil), hipotireoidismo e fibrose cística (1 para 2,5 mil). Em termos de prevalência, a oximetria de pulso está justificada.
“Dentre as possíveis cardiopatias congênitas críticas estão interrupção de arco aórtico, alguns tipos de transposições das grandes artérias, atresia da artéria pulmonar e síndrome de hipoplasia do coração esquerdo, que se não recebem tratamento adequado precocemente, podem levar à morte”, alerta dra. Liane.
Avaliação antenatal
O ideal é identificar as cardiopatias congênitas na vida intrauterina. Mães que apresentam fatores de risco como a própria CC e diabetes aumentam as possibilidades de o bebê possuir a mesma patologia de 10 a 14% e de 5 a 30%, respectivamente.
“A indicação de ecocardiograma fetal baseado em grupos de risco não contemplam todos os casos de CC. São indispensáveis outras formas de detecção e para tanto o teste do coraçãozinho em todos os RN após 48 horas de vida é ferramenta valiosa”, explica dra. Lilian.
Ao detectar a cardiopatia congênita no feto, a gestante deve ser encaminhada para um serviço de pré-natal de risco, com atendimento especializado, UTI neonatal e cardiológica para o RN logo após o nascimento. O diagnóstico antenatal, os cuidados neonatais e a abordagem cardiológica precoce desses pacientes melhoram muito a chance de sobrevida, especialmente no grupo de RN portadores de CC crítica.
Tramita na Câmara Municipal de Ilhéus um Projeto de Lei, de autoria do Vereador Fabio Magal que obriga as Maternidades, Hospitais e Clinicas onde as crianças nascerem a realizarem o Teste do Coraçãozinho (Oximetria de Pulso). Resta saber se o Prefeito vai sancionar.