A Vitória do Lixo
Se, em Salvador, os baianos tem o Caboclo e a Cabocla da Lapinha para derramarem as suas lágrimas, nós, de Ilhéus, para isso, quando não somos religiosos, só temos o R2CPress, um serviço de alta utilidade pública onde, na maioria das vezes, nos lamuriamos com as queixas das nossas desgraças vividas no dia-a-dia na cidade.
Nos dizem os gestores: “asfaltamos quilômetros de ruas e avenidas e nenhum elogio! mas, quando aparece um pequeno buraco, lá vem as queixas publicadas”
É verdade: a conservação das ruas e avenidas é algo normal, corriqueiro, obrigatório, mas não os buracos. Por isso as queixas.
Eu, por exemplo, já me cansei de me queixar do quase-caos que vivemos em toda a cidade e o nosso povo, em parte, é co-responsável pela situação que vivemos no nosso triste dia-a-dia. Muitos tem o prazer sadista da destruição do construído, quando não quebrando, atirando o seu lixo nas ruas como se fosse uma obrigação do governo vir recolher os milhões de sacos de alimentos lançados por toda parte, presos no mato que cresce nas nossas sarjetas cheias de areia. Ou seus entulhos de obras, como vi, agora, diante da minha casa, entulho solto e sacos cheios de entulho de uma obra numa casa vizinha que, por alguns dias, teve pessoal trabalhando na pintura do seu muro da frente.
Futuquei o entulho lançado na esquina do Posto de Saúde do Pontal e vi que era material de uma reforma num banheiro, pelos azulejos, caixas de chuveiro, de toalheiros, restos de masseiras secas, sacos de entulho, uma lata com restos de madeira, muito papelão, plásticos e, até, um monte de massa fresca que sobrara daquela reforma.
Com apenas uma consulta no Google e um brevíssimo telefonema civilizado a um certo órgão federal, cheguei de imediato ao responsável por aquela obra que me disse, educadamente, haver pago a uma construtora para fazer o tal serviço no banheiro e esta, para economizar dinheiro, pôs todo o material refugado na citada esquina e bem adiante da minha casa, bloqueando o passeio de pedestres. Prometeu-me, o civilizado colega servidor público, tomar imediata providencia para a devida coleta deste material, para cumprimento exemplar das posturas municipais.
Essa guerra com o abandono progressivo da nossa cidade mina com a saúde de qualquer um, não sendo pior por conta do meio comprimido de um certo medicamento que me permite ir seguindo adiante, com um resto de falsa-paciência promovida pela farmacopeia química.
Me contaram que, em Singapura, se um fiscal pega qualquer um jogando um chiclete na rua, a multa é de U$ 100.
Como poderemos imitar, se não Singapura, muitas cidades pequenas do Sul Brasileiro? Que tipo de programa poderíamos adotar para convencer ao nosso povo não sujar mais o que já está sujo? Avisos por toda parte, com referencia ás multas previstas? Criação de um corpo de fiscais rondando a cidade e aplicando multas àqueles infratores flagrados?
Por aqui, ficam perguntas, pois não sou especialista no assunto. Mas sei que reais especialistas nessa área, poderiam lançar uma luz sobre como enfrentar tal epidemia de sujeira e lixo por toda parte. Começando pela varrição diária das ruas, a providencia mais natural possível, embora só aplicada nas ruas do centro.
Talvez, por isso, há muito, veio a moda de se fotografar Ilhéus do alto, de vôos panorâmicos. Dalí, tudo lindo mas, sem dúvida, uma propaganda enganosa e parcial desse nosso lixão que chamamos de cidade.
Guilherme Albagli de Almeida