CÓDIGO DE ÉTICA: CASO PETROBRAS
Por JUVENTINO RIBEIRO

Juventino Ribeiro.
A Petrobras implantou seu código de ética em 1998, o qual passou por várias revisões gerando três versões até agosto de 2005. A premissa dos trabalhos de elaboração do código era obter a maior participação possível dos funcionários. Cada edição demorava, em média, seis meses de árduas tarefas de equipes da Diretoria de Recursos Humanos, entrevistando colaboradores e promovendo muitas reuniões.
Pelos desmandos que há muito tempo tem ocorrido na Petrobras, a elaboração do código não levou em conta o conteúdo da mais importante obra do filósofo Baruch Spinoza, publicada após sua morte, em 1677, o livro “Ética”. Essa obra prima tem sido até hoje de leitura obrigatória para estudantes de filosofia de todo o Planeta. Kant e outros pensadores, também quintessenciaram o assunto.
A partir da década de 90 grandes empresas brasileiras aderiram ao modismo de implantação de códigos de ética, sob a égide de que não bastava manter boa conduta com clientes, fornecedores e governo. A lição tem que começar dentro de casa, no cotidiano com seus colaboradores. Entretanto, o pensamento de Spinoza, e demais pensadores também teria sido esquecido quando da elaboração desses códigos, principalmente das grandes empreiteiras, artífices dos escândalos que tem infestado os noticiários.
Comportamentos aéticos na Petrobras já eram de meu conhecimento desde 1978, quando fora contador de uma multinacional americana. Ela fornecia serviços para plataformas, tendo operado 22 rebocadores distribuídos nos litorais do Pará, Sergipe e Rio de Janeiro. Certo dia o CEO da empresa me disse, em tom de lamento, que a empresa não operaria mais no Brasil, porque não concordava em pagar 5% aos larápios da Petrobras.
Deduz-se, assim, que a sobrevivência de um fornecedor em determinado nicho de mercado fica impossível se ele aplicar, incondicionalmente, seu próprio código de ética e resolver não compactuar com práticas de corrupção. O toma lá, dá cá tem sido sistêmico até mesmo em muitas empresas privadas. É questão de cultura, está no sangue. Conheço empresa varejista para a qual não se vende sem que o encarregado de compras leve algum. Os donos até sabem, mas são lenientes.
A erva daninha que se alastrou e que hoje se tenta extirpar na maior estatal brasileira fora plantada há mais de 4 décadas. Alastrou com leniência até mesmo de gente de fardas verde oliva, que posavam de paladinos da moralidade, hermeticamente blindados por escudo de um regime de exceção que vigorou ao longo dos anos de chumbo.
Ricardo Semler, num artigo na Folha de São Paulo, do passado 21 de novembro, diz que até em Paris sabia-se dos ”cochons des dix pour cent” ou “os porquinhos que cobravam 10 por cento” por fora sobre as importações de petróleo. Semler questiona, ainda: “Agora tem gente fazendo passeata pela volta dos militares e uma elite escandalizada com os desvios na Petrobras. Santa hipocrisia, onde estavam os envergonhados do país, nas décadas em que houve evasão pelos empresários de mais de R$ 1 trilhão – cem vezes mais do que o caso Petrobrás?”.