EXECUÇÃO DOS BRASILEIROS
Por JUVENTINO RIBEIRO

JUVENTINO RIBEIRO
Não sou a favor de pena de morte, entretanto, respeito e acho até louvável a atitude de um povo que promulga leis para serem cumpridas. Lá, quem comete algum delito tem consciência da exata dimensão de suas consequências, sem subterfúgios. Sou, sim, ferrenho defensor da eliminação pacífica de traficantes, através do afastamento das pessoas do consumo de drogas. Afinal, sem alguém para consumir, não haverá traficantes.
Isso fez-nos perceber que lá não há decisões com base em jeitinhos, encontrados em emaranhados de leis e interpretações diversas que criam jurisprudências benéficas a criminosos. Lá, a interpretação do judiciário está colimada na tradição, na moral e nos bons costumes de um povo que não admite convivência com a balbúrdia provocada por consumidores de drogas.
Acho que os pedidos de clemência da Governante Brasileira e da Anistia Internacional teriam sido mera formalidade em forma de alento para os parentes e amigos do executado, visando a amainar a animosidade proporcionada pelo ato de condenação extrema. Afinal, foi o primeiro caso de um brasileiro em tal situação, já havendo o segundo a espera do mesmo fim, por ter cometido o mesmo delito. Deveriam, sim, ter envidado esforços por clemência, ao longo de mais de uma década em que o processo tramitou.
Acho que aquele tribunal proporcionou as cabíveis chances de defesa, restando-nos, afinal, uma excelente advertência a quem se envereda pelo mundo do crime. Restou-nos, ainda, um exemplo para aqueles que decidem em nossos tribunais onde, muitas vezes, impera a incestuosa convivência com o crime.
No México, outro brasileiro também foi executado, mas seu algoz entrou sorrateiramente em sua vida como coisa cristalina que lhe fazia sonhar e voar ou como a menina veneno com um jeito sereno de ser. Proporcionava-lhe ânimo e inspiração para seus negócios, acompanhava-o invariavelmente nas descontraídas baladas, entretanto, sem saber que seu algoz já lhe havia preparado o holocausto. Não há que se lamentar por sua execução. Seus entes queridos deveriam se lamentar sim, mas pela omissão de todos que poderiam ter feito algo por ele, ao longo de seus 35 anos de vida e não o fizerem.
Que as execuções desses brasileiros sirvam de lição para seus conterrâneos que não cumprem e nem fazem cumprir nossas leis. Que sirvam de alento às vítimas do tráfico, portadoras de profundas e indeléveis cicatrizes. Aliviadas, e até vingadas, perceberam que em algum lugar desse mundo a justiça é aplicada com rigor, abrandando um pouco a perene e torturante sensação de impotência, provocada pela indolência e leniência de nosso judiciário.