PLANETA ÁGUA EM PÂNICO
Por JUVENTINO RIBEIRO

JUVENTINO RIBEIRO
No passado dia 24 de fevereiro, a ONU disparou um alarme sobre a falta de água que está a ocorrer em vários países. Estudos revelaram que 48 países, com população estimada em quase 3 bilhões de habitantes, até 2025 estarão a passar por privação de água para consumo doméstico e para produção de alimentos.
Na década de 70, já se prognosticava a diminuição de água potável no mundo, quando se afirmava que, por volta do ano 2050, haveria guerras por causa de sua escassez. Tais previsões já estão a se concretizar com bastante antecedência, à vista da ocorrência de vários conflitos, confirmando essa pavorosa profecia.
Embora o Brasil seja o maior detentor de recursos hídricos, tanto em superfície quanto em aquíferos, o mau uso da água, a falta de política preventiva de escassez e de distribuição têm levado populações ao desespero. A contaminação do subsolo por agrotóxicos é agravante que carece de especial atenção dos órgãos fiscalizadores das atividades que colocam em risco essas reservas subterrâneas.
“Um aquífero é toda formação geológica subterrânea capaz de armazenar água e que possua permeabilidade suficiente para permitir que esta se movimente. São verdadeiros reservatórios subterrâneos de água, formados por rochas com características porosas e permeáveis que retêm a água das chuvas infiltrada pelo solo e a transmitem, sob a ação d um diferencial de pressão hidrostática, para que, aos poucos, abasteça rios e poços artesianos.
É através dos aquíferos que os cursos de águas superficiais (rios, lagos, nascentes, fontes, pântanos e afins) são mantidos estáveis e o excesso de água é evitado através da absorção de água da chuva. Como podem ser utilizadas como fonte de água para consumo, exigem cuidados para sua preservação, a fim de evitar sua contaminação”. (http://www.oeco.org.br/dicionario-ambiental/28001-o-que-e-um-aquifero).
Enchentes no norte do país; pouca água, falta de água, estiagem, em outras regiões. Este é o panorama descortinado num país de dimensões continentais, onde impera a falta de planejamento de governantes para preservar nossos mananciais hídricos e proteger populações de cheias dos rios.
Foi necessário faltar água em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, os três estados mais populosos e mais influentes do país, para que virasse assunto massificante da mídia. As regiões áridas e semiáridas do Nordeste Brasileiro ainda continuam a depender da boa vontade política para debelar as mazelas das longas estiagens, sem merecer alarde dessa mídia tendenciosa.
Na minha infância e juventude, convivi com as agruras de longas estiagens na Região Norte de Minas, quando aprendi a dar o merecido valor à água. Esse assunto nunca havia me apavorado, mas o sábio tempo me leva sempre ao questionamento sobre esse tema que tanto aflige a coletividade. Esse precioso e indispensável líquido é de suma importância e só nos apercebemos disso quando nos falta.
Há um ano, estive em meu torrão natal e segui até Januária-MG, por onde passa o outrora caudaloso e piscoso Rio São Francisco. Não há mais o vai-e-vem das embarcações que movimentavam o antigo porto. Percorri a cidade à procura de um restaurante que me servisse um surubim, dourado ou curimatá. Só encontrei um que servia peixe de criatório, de baixa qualidade.
Havia muitos anos que não ia por lá. O rio que agora vi me causou enorme decepção e revolta. Está a morrer em velocidade exponencial. A grande quantidade de pivôs de irrigação na região de Pirapora-MG, aliada à aplicação de agrotóxicos, são alguns dos causadores da morte decretada do outrora famoso “Rio da Integração Nacional”, que serpenteia por férteis terras e outrora proporcionava sustento a seus barranqueiros e ribeirinhos com fartura de peixe.
Às vezes, sob uma refrescante e demorada ducha, transporto-me àqueles tempos e, imediatamente, interrompo esse momento de prazer com certo remorso, por dispender, em um só banho, quantidade de água suficiente para dez banhos daquela época. Meu grande alento é me lembrar das pescarias e dos banhos nos riachos e lagoas, quando caudalosos, em raras temporadas chuvosas.
Tenho me monitorado constantemente e acho que é fácil para cada ser humano se engajar em projeto de uso racional da água, incluindo-se alternativas para seu reaproveitamento. Devemos conclamar a todos para se engajarem nessa cruzada e incentivar para que cada um faça a sua parte.
É apenas uma pequena e factível parcela de contribuição para nossa inserção nesse processo de responsabilidade social, benéfico não só para o homem, mas para todos os demais seres terrestres. É a vida do planeta que está a nos implorar. Ela está em risco, quer seguir seu curso e depende de nós.