:: ‘Falaê’
Marli Gonçalves em: Soltando as frangas.
Plenos dias de uma agitação correndo solta por aí, os blocos na avenida, perfumada de xixi e suor. As fantasias mais doidas afloram. Saem cortejos de reis e rainhas banguelas e desnutridos. Tudo parece mais colorido, mais lisérgico, e é Carnaval no país do samba. Aqui, todo dia é Carnaval. Sorria, você pode estar sendo filmado. Começe a cantar, assobiar, disfarçar para ir saindo de fininho,
“ô Coisinha Tão Bonitinha Do Pai,
ô Coisinha Tão Bonitinha Do Pai”…
– Cachaça não é água não… Cachaça vem do alambique…
Líder do governo acha que cachaça é água e alimenta. E vai para o bar tomar champanhe que agora ele é importante. Um intelectual metido que ia e não vai mais porque andou diagnosticando a ministra que ia chefiá-lo já arrumou boquinha em outro bloco. O povo lá de cima, com caneta na mão, em um dia age como a rainha má, “Cortem as contas!”. No outro anuncia gastos e saco de bondades com o meu, o seu, o nosso. Diz que corta viagens, mas vai lá verificar a agenda de alguns destes seres – vai ficar besta de ver como somos tão representados em vários lugares deste mundão. Aproveitando os feriados, vai, já fica por ali…
– Agora vou mudar minha conduta/ Eu vou pra luta /Pois eu quero me aprumar/ Vou tratar você com força bruta/ Pra poder me reabilitar/ Pois esta vida não está sopa/ E eu pergunto com que roupa?
Tom Coelho em: Au revoir Carnaval!
“Os momentos de intensa felicidade são, por natureza, fugazes.
Se todo dia é Carnaval, acabou o Carnaval.
A garota de Ipanema é, por definição,
a ‘que vem e que passa’, jamais a que fica.”
(Eduardo Giannetti da Fonseca)
Perguntei a um amigo como havia se saído em uma entrevista de seleção para a qual fora convocado e que aguardava com grande ansiedade. Ele me respondeu resignado: “Foi desmarcada. Agendaram para depois do Carnaval”.
Almoçando com um empresário, notei sua apreensão com as vendas neste mês. “Todos os anos é a mesma coisa. Clientes ativos deixam para repor estoques apenas em março e novos clientes preferem negociar orçamentos após o Carnaval”, relatou-me.
Reinício das aulas na faculdade. Entro na sala e sinto-me como em um auditório, tamanho o número de cadeiras vagas. Presentes apenas 30% dos alunos, que me confortam: “Primeira semana de aula é meio devagar mesmo, professor. Depois do Carnaval estarão todos aqui”.
Oportunidades de trabalho não preenchidas, produtos não fabricados, aulas não ministradas, conhecimento não compartilhado.
Coluna Carlos Brickmann / O Senado, quem diria, tucanou o obituário
Todos os meios de comunicação têm prontinhos os necrológios de personalidades que, a seu ver, têm perspectivas mais próximas de livrar-se dos problemas da vida. De vez em quando acontece (e não é de hoje): já se divulgou o elogio fúnebre do escritor americano Mark Twain alguns anos antes de seu tempo regulamentar, já se divulgou o obituário do papa João Paulo 2º – o que motivou um dos mais notáveis desmentidos do rádio, “lamentamos informar que o papa não morreu”. Este colunista já escreveu há muito tempo uma meia dúzia de necrológios que, espera ardentemente, continuarão por muito tempo sem uso – e que, quando necessário, sejam utilizados no momento correto, e não antes dele.
Pois agora aconteceu com o senador José Sarney (PMDB-Amapá): alguém, inadvertidamente, liberou seu obituário. Bobagem perigosa: o homem é tão forte que, quando saiu uma notinha contra ele no Twitter de uma funcionária, ele disse que não se importava, que a moça deveria ser mantida no cargo, e ela foi demitida assim mesmo. Mas o melhor da história veio em seguida: o pessoal do Senado tucanou o obituário e passou a chamá-lo de “biografia” – o que, aliás, um obituário não deixa de ser. É claro que na biografia de alguém vivo se diz que ele “é” senador; num obituário, que ele “era”, “foi” senador. E os verbos da “biografia” estavam todos no pretérito, como se seus tempos já se tivessem passado.
Erraram da primeira vez. E tentaram corrigir o erro como é de hábito no país: buscando mascarar a verdade. Não dá: Sarney está vivo. Muitíssimo vivo.
Lobobão…
Fernando Rizzolo em: Escrevendo para os Pássaros
Passar longo tempo sem escrever agita e anestesia a alma. Porque escrever não é ofício diário, com horário, transcende, sim, todos os momentos de avaria da consciência cotidiana, para que num determinado estado de “contar uma história” nos leve a um lugar cômodo e tudo seja então posto a um plano de confissão. Bom tempo fiquei sem escrever; fiquei divorciado de outubro até agora. Motivos calaram minha voz e me fizeram descobrir que de todos os textos, ou de todas as reflexões, pouco ficou de consistência plena. Afinal, num país em que poucos leem não poderia esperar brandoso eco de leitores calados.
Cooperativas, reciclagem e a inclusão social
Ede Maria Reis Ferrão*
Nas ultimas décadas, as questões ambientais passaram a ser discutidas no amplo conceito de Desenvolvimento Sustentável, com uma abordagem realista das necessidades humanas, as quais envolvem dimensões sociais, econômicas, políticas e culturais.
A reciclagem se apresenta como ferramenta essencial para conciliar os avanços da tecnologia com o gerenciamento sustentável dos bens naturais.
A reciclagem gera uma cadeia de benefícios que se estendem do ambiental ao social, tais como: alternativa consistente para o alivio do problema global do acúmulo e destinação do lixo urbano, diminuição da extração de produtos naturais, o consumo de energia e a poluição, nicho de mercado que oferece oportunidades de negócio aliadas a inclusão social e a geração de renda para populações carentes.
Marli Gonçalves em: “Para o que servem as mulheres”.
Coisinha chata esta de querer diminuir a importância das coisas pondo carimbo “Mulher” para diferenciá-las, e pior ainda em situações que nada têm a ver com o formato dos órgãos sexuais, se para dentro ou puxadinhos.
Vou tentar não desfiar feminismo por aqui, até porque para variar um pouco vai ter gente atirando impropérios, de um lado e de outro, os desacordados, que ouviram cantar o galo e a galinha, mas não sabem de onde vem o som. De um lado, a importância das conquistas de espaço das mulheres, uma batalha secular comemorada no dia 8 de março. De outro, a maldita divisão: gente homem e gente mulher.
Por exemplo, outro dia teve “muié” se matando para ganhar votos para um tal Destaque Mulher Imprensa. Tratava-se de algo a ver com matérias e reportagens sobre a condição da mulher? Não! Tratava-se de algo importante? Não! Era apenas para escolher quem é a “queridinha” do momento, entre os jornalistas. Mas vou eu falar que é machismo, concessão, utilização indevida !?! Psiu, calada!. E, claro, nada contra quem ganhou – até porque houve… Votação!
Com a chegada de Dilma Rousseff à Presidência a situação está ficando atordoantemente chata, repetitiva, samba de uma nota só, e espero que todos estejam preparados para a avalanche de mensagens edificantes sobre Mulher que receberemos, ouviremos e que entrarão por todos os nossos buracos nos próximos dias. Mulher, mãe dadivosa. Mulher, Rainha do Lar. Mulher, esposa e pétala de rosa. Mulher, o mundo é seu. Afinal, para que servem as mulheres?
Tom Coelho em: Diferenciação
“Quando todos pensam igual é porque ninguém está pensando.” (Walter Lippman)
Dia destes entrei em uma loja Fran’s Café para um espresso com pão de queijo. Fiquei surpreso ao receber o café cuidadosamente apoiado sobre uma pequena bandeja, acompanhado de um elegante copo contendo água mineral gasosa e um folheto explicando tratar-se de uma tradição italiana: a água com gás aguça as papilas, enaltecendo o sabor do café que será sorvido. E toda esta atenção sem custo adicional.
Num destes finais de semana, dirigi-me a um cinema da rede Cinemark acreditando que, em virtude do grande número de salas, as filas seriam pouco significativas. Ledo engano. Apreciei fila para adquirir o ingresso, fila para acessar a sala e fila para comprar pipoca e refrigerante a preços aviltantes.
Meses atrás, resolvi retomar a prática da natação e fui ter um diálogo com minha antiga academia, a Runner. Solicitei-lhes uma condição diferenciada para regressar, mas responderam que eu deveria me adequar às normas vigentes para novos alunos. Seria uma assertiva aceitável, se não tivesse partido do departamento de fidelização da empresa que, teoricamente, deveria zelar pela manutenção de seus associados.
Três situações distintas, envolvendo empresas de renome, que nos fazem refletir sobre a questão dos preços relativos e, acima disto, sobre o que vem a ser diferenciação.
Concorrência monopolística
BBB despenca na audiência. Será o último?
Segundo a coluna “Outro Canal”, da Folha, a 11ª edição do programa Big Brother Brasil, da Rede Globo, registra a pior média de audiência do reality show ao longo dos últimos anos. Apesar de ser veiculado após a novela “Insensato Coração”, que se mantém na casa dos 32 pontos do Ibope, o BBB-11 teve abrupta queda de telespectadores e registrou média de 25,7 pontos de audiência.
A decadência do programa apavora a família Marinho e anima os concorrentes. O Portal R7, da TV Record, observa que a queda de audiência hoje é mais acelerada. “Na quinta edição do BBB o programa bateu em média 50,3 pontos nas quatro primeiras eliminações, enquanto nesta 11ª temporada o índice ficou em 25,7 pontos… A queda foi gradativa com o passar dos anos”.
Alegria e lucro dos concorrentes
Coluna de Carlos Brickmann / “Defendendo o indefensável”
Pense bem: se todos os políticos a defendem (só ficam contra quando estão na oposição, mas quando chegam ao bem-bom sempre estão a favor), não pode ser coisa boa. Mas, no entanto, este colunista gostaria de defender a CPMF (que, em sua nova versão, deve chamar-se Contribuição Social para a Saúde, CSS).
Quando o Bóris Casoy dirigia a Folha, comprou um desses shakes para emagrecer, e prometeu emagrecer rapidamente. Não deu certo: em vez de tomar o shake no lugar do jantar, ele o usava como parte da sobremesa. Engordou.
Com a CPMF aconteceu algo semelhante: foi proposta pelo professor Marcos Cintra como imposto único, para eliminar toda essa tranqueira tributária que atrapalha a vida do país. Mais tarde, um estudo no Congresso propôs que não fosse exatamente única: seria o imposto com funções de arrecadação, acompanhado por impostos seletivos – como um sobre substâncias nocivas, tipo cigarro, outro a ser usado de vez em quando para conter a demanda de algum produto, e assim por diante. Teríamos uns cinco impostos, no total. E a excelente burocracia profissional da Receita, uma equipe altamente qualificada, ficaria livre para reforçar com sua competência outros setores do Governo necessitados de gente boa.
Aí transformaram a coisa em mais um imposto – e, como o shake emagrecedor do Boris, não podia dar certo. Mas um imposto único, com alíquota a ser calculada, poderia suprir todas as necessidades até mesmo de um Estado inchado como o nosso. Que venha a CPMF, pois. Mas para valer: como Imposto Único.
Sopa de letrinhas
Professores em fuga
(*) Vera Lúcia Pereira dos Santos
Não constitui surpresa saber que caiu o número de formandos em cursos que preparam docentes. O desinteresse dos adolescentes pelo magistério não se revelou repentinamente. É reflexo de um processo que vem se corporificando há muito tempo no exercício do magistério, aliado à decadência do ensino público monitorado por políticas públicas equivocadas.
Como professora de escola pública nas décadas de 1970, 80 e 90, fui testemunha da aplicação de leis, regimentos e normas pretensamente democráticas, inovadoras e revolucionárias, impostas ao professor como panacéias solucionadoras de todos os problemas educacionais. A escola transformou-se em entidade predominantemente assistencialista e ao mestre era atribuída toda a responsabilidade pelo insucesso do aluno ─ a reprovação, se ultrapassada determinada porcentagem, era sinônimo de incompetência didática. O professor foi perdendo sua autonomia e, sem ela, sente-se desprestigiado, desmotivado e desestimulado e seu aluno percebe esse desencanto.
Marli Gonçalves em: Conga la Conga, Bunga-Bunga, yê-yê-yê.
Um passinho pra frente, dois passinhos pra trás. Avança no tempo. Nas descobertas. E retrocede na sabedoria e mínima noção. Assim caminha a humanidade. Ou melhor, assim dança a humanidade, conforme a música. A gente consegue até ouvi-la em determinadas ocasiões.
“…Besame, besame mucho…Como si fuera esta noche la ultima vez”… O belo bolero que uniu em romance fugaz uma ministra da Economia e um ministro da Justiça chegou até nós na forma de planos mirabolantes e expropriantes do rancor de um amor perdido. O presidente bossa-nova JK nos lembrava e estimulava que criassem uma música doce, suave, cantada baixinho. Os hinos ufanistas nos torturaram por mais de duas décadas, interrompidos por rompantes do yê-yê-yê e protestos tropicalistas. Sim, nossa história é música, sim. E dança. Nossos quadris estão sempre rebolando, um bambolê danado.
Mas, convenhamos, há muito não aparecia algo tão ritmado e expressivo do que o nome da dancinha predileta do primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi – a Bunga-Bunga. Detonou a nossa ingênua Conga la Conga, de Gretchen. Detonou a dancinha da descida na garrafa de Carla Perez e seus 105 cm de potência. Não sobrou nada nem para a coitada da eguinha pocotó. Rebolation!
Isabel Vasconcellos em: “Os Avós das Câmeras “


Cresci num lar dedicado à imagem. Meu pai, Alfredo Fomm de Vasconcellos (1908-1987) foi pioneiro na cinematografia de 16mm na América Latina e as máquinas de seu laboratório foram, em grande parte, construídas por ele próprio.