Brimo Rabat. Assalamoalaykom!
Marabàh masah el-kayr. Bismillah.

Havia me prometido não mais incomoda-lo com e-mail e/ou mensagens outras que pudessem se constituir em estorvo à sua paz e merecida tranquilidade.
Fugi à promessa por entender que o conteúdo desta não transporte nada alem do usual e costumeiro mister do jornalismo, da literatura contemporânea, do exercício da análise crítica e da terapia do escrever por escrever confessionalmente; nunca arvorando representatividade, bandeiras, ideologias, etc… Apenas amor.

Ha aproximadamente duas semanas recebi um e-mail dum conhecido e neófito blogueiro, talvez caronista, “convocando-me”(?) a subscrever um abaixo-assinado para dar andamento a uma possível ação popular, suponho, para o encaminhamento dum pedido de ipeachman do Prefeito Newton. Uma idéia para mim cagada em profusa
diarréia.

Com muito custo, pois também havia me prometido nunca mais falar sobre malas, duplicatas protestadas, ferros velhos, cornos, pensão alimentícias, polícia, políticos, ladrões, gente falsa, maus caráter, tristezas, pesares, dor, etc.

Fugi ao meu próprio fathwa condenatório e deitei a escrever sobre esse infausto e inusitado convite para anuir ao “ABAIXO ASSINADO”, tão efetivo e prazeroso quanto o ato de fartar-me num lauto prato de merda ainda fumegando o vapor da cozinha, ou seria do cuzinho?

Submeto os meus escritos à sua inteligente e racional apreciação sem nenhuma pretensão de vê-los publicados, contudo sua opinião sobre a matéria representa o bem maior que posso almejar, considerando o respeito, o conhecimento e a maturidade que te devoto com a sincera e declarada humildade. Aprecie com a moderação e condescendência típicas dum amigo. Obrigado.

Fraterno e cordial abraço.
Mehmed

Safári em Ilhéus para caça ao Prefeito: A análise do mérito; o objeto e a critica na opinião dum proletário e iletrado cidadão. Um Zé do povo.

Corre pela cidade um edito convocatório na forma de abaixo-assinado a fim de reunir assinaturas para o encaminhamento do pedido de ipeachiman do prefeito Newton! Ora convenhamos: somos obrigados enquanto eleitores, a votar em quem quer que seja candidato haja vista, tenha o mesmo passado aprovado pelo crivo da Justiça Eleitoral que os considerou aptos a ocuparem cargos eletivos. Agora o direito de “desvotar” (desculpem-me o neologismo), de destituir, não se inclui entre as prerrogativas do eleitor; salvo, se por plebiscito popular legalmente instituído por Assembléia Constituinte.

Tenho respeito e admiração pelo blogueiro que deu conteúdo a essa matéria, entretanto, o autor desta “idéia” me pareceu um tanto influenciado por fatores emocionais outros, que obnubilaram a sua coerência e racionalidade. Explico: Tirar o prefeito Newton do cargo pra botar quem em seu lugar? Não vejo ninguém confiável e à altura para ocupar sua vacância, caso essa sandice se fizesse conclusa. Isso faz lembrar a minha criloira Edimunda: Ela adora esse negócio de bota, tira; bota, tira; de enfia, desenfia; enfia desenfia; ela tem lá suas razões estritamente pessoais; agora quanto a generalizarmos essa “dança do Tudo Enfiado” diga-se, que deu errado para a “professorinha lasciva” e, repassá-la para o campo político-eleitoral; é uma sandice absurda; um haraquiri coletivo, uma descorna invertida.

Razões perceptíveis existem no clamor popular que grita a plenos pulmões pelo incremento urgente de mudanças estruturais e político-administrativas profundas por parte do nosso Prefeito flex. Digo “flex” com boas e justificadas razões. – nós os citadinos, conhecemos dois prefeitos “Newtons” em duas eras distintas -. Um vice-prefeito Newton assumindo a vacância do prefeito cassado, Valderico. E outro prefeito Newton, eleito com quase de 60% dos votos, numa nítida demonstração de semi-aclamação por méritos de confiança, capacidade e honradez presumidos pelo povo. Eu também votei com ele; não nego.

Agora comparando os elementos discrepantes, as inconsistências e o marketing utilizado quando ainda incidiam sobre nós os efeitos deletérios de baixa auto-estima pós-traumática resultante dos respingos cáusticos do governo cassado que se abateu sobre o povo; concluímos que foi simplesmente uma grande demonstração de oportunismo político. Vimos tardiamente que erramos duas vezes seguidas, por malévola indução e merchandising enganoso.

Do primeiro mandato, ascendendo de vice para o ápice de primeiro mandatário do município, ainda no “modelo original” básico; pudemos conhecer um prefeito criterioso; que tateava cuidadoso entre as contas remanescentes do ex-prefeito, enquanto economizava centavos do erário público; quando negava diárias de R$120,00 ou as reduzia por pernoites em ônibus noturnos para viagens dos servidores de 1º e 2º escalões que, se não bem explicadas e justificadas por necessidades inadiáveis para as tratativas de assuntos prioritários do município com o Governo Estadual em Salvador, seriam solenemente negadas na integralidade. Que chegava ao Palácio às sete da manhã e saía regularmente às 19:30 hs ou 20:00 hs, exausto para ainda cumprir o ritual dos “beija-pés” à porta do Palácio; que visitava os pontos críticos da cidade, carentes da interferência e ação da máquina municipal; que discutia exaustivamente nas reuniões semanais do secretariado todas as ações possíveis em prol da cidade, embora sabendo da inexistência de recursos em caixa para executá-las; que administrou sem dinheiro e, do pouco que o município arrecadava, aplicava criteriosamente cada centavo com a devida auditagem nas prestações de contas; que era acessível, cordial e receptivo às boas idéias e sugestões de seus assessores mais próximos à época. Quando determinava ações e acompanhava par e passo o processo de execução. Quando não admitia a livre Gestão Participativa desassistida e desacompanhada das vistas e análise crítica do gestor.

De grandes obras do mandato-tampão, lembro-me nitidamente dos meios-fios do centro da cidade pintados a cal e do quebra-pau para colocar a duras penas, a cancela eletrônica cedida pela SUDIC e construir as guaritas, naquele furdunço quando queriam fechar o nosso aeroporto; e mais nada que recorde a minha memória recente.

Do segundo e malfadado mandato em curso, já prefeito “flex” eleito, transmutado e experiente; nada de meritório me vem à memória, senão a decepção geral do povo causada pela inércia e inépcia administrativa; pelo caos e abandono a que foi relegada a nossa cidade. Da tristeza que sentimos ao vê-la estiolar agônica na fila dos indigentes, dos carentes, dos excluídos. Da Babel dos Secretários supostamente poderosos, cada um agindo e vociferando poderes irrecorríveis para si. De pictórico, há pontuais escândalos divulgados por blogs e sites sobre atuação de alguns secretários à frente de setores críticos para a municipalidade; de oitivas eloquentes eivadas de retórica e inconsistências levadas no palco cênico da Casa do Povo com absoluta inocuidade, como já era esperado e, da tibieza das declarações públicas em releases vazios, sem conteúdo convincente e/ou muito menos elucidativo.

Da pomposa Reforma Político-administrativa que inversamente encharcou ainda mais as folhas salariais onerando os debilitados orçamentos e finanças do município; E da Praça da Discórdia, cenário do assassinato arbóreo dos fícus japoneses para dar lugar requintado projeto urbano-paisagístico em execução, seguindo alinha romana das Termas de Carácala. Uma babel onde Venus de Milo desfila entre tabuleiros de umbus, banguês de DVDs piratas e carrinhos de mão modelos varanasianos (1) onde assam enfumaçados churrasquinhos de “não-sei-o-que” a um Real o espeto. Coisa de primeiro mundo. “Nós estamos lascados, mas como agulhões, nunca perdemos a linha. Nós somos chiques e refinados!” Fala sério oh!

Um prefeito dividido em dois mandatos incondizentes, mercê do antagonismo entre duas personalidades distintas desacordadas. Contudo, não se pode atribuir ao Prefeito nenhuma censura por demérito moral, mazela e/ou desvio de conduta frente ao exercício do seu mandato. O burburinho maledicente que ouvimos em off de alguns cidadãos, não passam de ilações maldosas mercê do ressentimento nutrido pelo desencanto e pachorra deixados a débito pela atual gestão, bem como pelo perfil arrogante do staff do primeiro escalão que se arroga plenipotenciário.

Não é incomum que algumas pessoas quando contrariadas em suas vontades e pretensões tornem-se vulneráveis, logo, nessa labilidade, susceptíveis à perda das noções racionais de caráter ético. Com isso, tornam-se capazes se, impossibilitadas duma ofensiva concreta em agravo ao desafeto, urdirem ofensivamente as mais abjetas infâmias ao comportamento ético e moral de outrem como forma de agressão; e de disseminá-las como supostas verdades no seio duma comunidade, não bastasse a interesseira e oportunista imprensa marrom e seus conhecidos achaques promocionais ou infamantes.

Se o prefeito está rico ou ficou mais rico que antes; se está pobre não ou ficou mais pobre em razão do exercício do cargo; por ética, não nos cabe a discussão do mérito ou do factóide, porquanto nos faltam os elementos probatórios para sustentar tais afirmativas. Além do que essa análise é indevida porquanto invade aspectos exclusivos da pessoalidade. Sou um cidadão a ética; sempre.

Se os secretários avançaram e/ou malversaram verbas do erário público, cabe ao TCM e/ou ao Ministério Público investigá-los e a luz da justiça. Deixemos para as comadres à beira do tanque da lavanderia pública o urdir da fuxicaria tendo por inspiração os fatos corriqueiros dos seus tediosos dia-a-dia da laborativa cotidiana doméstica.

Também não estou satisfeito com os governos Newton. Nem com o primeiro e, muito menos com o segundo mandato em andamento. Quem está? Esperávamos muito e nada tivemos. Contudo, entendo como racional e condizente, não assinar esse abaixo-assinado. Não vale á pena avaliarmos negativamente a imagem pública do prefeito, posto que o adventício “Abaixo Assinado”, essa aberração anacrônica, se mostra como a única ação resultante deste “Pedido de Ipeachmen” ora publicamente formulado. Nós e Newton sabemos com quais cores o estão desenhando pela cidade afora. É público, notório e condizente. Cada ação corresponde uma reação. Os pressupostos da dúvida são os elementos geradores dos atenuantes. A relatividade é um dos elementos que desconstrói a imutabilidade conceitual. Lembre-se que antigamente homens e mulheres eram enquadrados em Atentado Violento ao Pudor pelo simples fato de se beijarem em público. Hoje se beijam homens com homens, mulheres com mulheres e ate homens com mulheres numa heterogenia andrógina consensual condescendentemente assistida, sem traumas ou recalques. Quem sabe o amanhã?

Ainda ontem, ao conversar com um bom amigo, desses de natureza crédula e boa índole, tive a oportunidade de escutar a seguinte observação: _ “… Coitado do prefeito! Estão fazendo tudo calado às costas dele. Ele não sabe de nada do que está acontecendo…”

Ao que anuente; concordei: _ Você está certíssimo! Acho que ele tem uma costa muito “Ghandi”, por isso estão aproveitando para poucas e boas.

Prefiro abrir a minha Caderneta de Fiados e titular uma das páginas em nome do Prefeito Newton. Abro-lhe um último e derradeiro crédito de dois anos, rezando para que Ilhéus sobreviva ate sua quitação, se ocorrer. Findo o prazo e, na omissão pela honra dos seus débitos, farei protestá-los juntamente àqueles que lhe deram o crédito bem como o derradeiro voto.

Mehmed.

Varanasiano (1): feitos em Varanasi/Índia à beira do Bhrama Putra, local onde os corpos dos mortos são queimados e suas cinzas espargidas no rio Deus dos hinduístas.