É uma pena, mas a belíssima Ilhéus não é só beleza, nem só uma cidade mal cuidada onde, algumas vezes, os maus tratos passam até despercebidos diante de sua exuberante beleza natural.

Ilhéus tem um problema sério, que é a desqualificação de sua mão de obra. Isso numa cidade turística e com aspirações a receber um complexo intermodal de grande porte é como uma facada no coração, sem piedade e fatal. Ruim para alguns empreendedores locais. Muito bom para empreendedores externos, especializados, com outra visão de negócio, e que certamente virão aqui se estabelecer, prestar bom atendimento, oferecer bons produtos e serviços a preços competitivos e desbancar os da casa.

Sabemos que a monocultura do cacau gerou riqueza no seu auge e complicações na sua queda. Uma dessas complicações foi o êxodo, do campo para a cidade, de uma mão de obra cuja única especialização era a lavoura. Essas pessoas foram empurradas para outras atividades profissionais sem a menor qualificação. Claro, era uma questão de sobrevivência. Mas perdurou. E perdura por gerações.

Nossas deficiências vão desde um simples reparo numa tubulação hidráulica, até a promocão de eventos e espetáculos. Já pensou num show musical onde faltam bebidas e sanitários para os pagantes? Já pensou num espetáculo em teatro abarrotado de gente e sem ar condicionado (ridículo e irresponsável as cadeiras plásticas para acomodar o público excedente)? Já pensou, em plena manhã de um ensolarado domingo, não encontrar lambreta numa cabana de praia? E por aí vai. E haja problemas de serviço mal feito, não cumprimento de prazos e até falta de caráter de certos pedreiros, carpinteiros, marceneiros, mecânicos, vidraceiros, marmoreiros, serralheiros, jardineiros, pintores, eletricistas, encanadores, comerciantes, comerciários e muito mais…

Nosso atendimento no comércio e na prestação de serviços é o pior possível. Confesso que nunca vi igual, nem mesmo em cidades mais pobres e mais carentes de formação. Parece que temos um fantasma da empáfia e da má vontade circundando as cabecinhas dos nossos profissionais do comércio de produtos e serviços. Não agravando a todos, mas à maioria. E ainda tem a velha fórmula do: “estou fazendo um favor ao cliente em lhe vender um produto ou prestar um serviço”, ainda presente no imaginário de alguns. Fruto do coronelismo? Talvez. Mas os tempos mudaram, e como mudaram! Hoje, “nariz empinado” não bota ninguém pra frente. Só competência.

Que mudemos, então, nossos maus hábitos e nos preparemos para o desenvolvimento. Antes tarde do que nunca.

Nilson Pessoa

Ilhéus/Ba.