REALIZAÇÕES E HISTÓRIA DA CEPLAC – 1957-2014

 2011 – VÃO FAZER O “DESMONTE” DA CEPLAC

 

                O tempo passa e os problemas da região do cacau continuam. De promessas em promessas, de discussões entre “entendidos”, profissionais e produtores ficam apenas as “esperanças” de melhores dias.

Uma lista do Cacau, criada na internet atualiza informações, provoca encontros virtuais, com ideias e sugestões, criação de Associação e um intercambio salutar entre produtores de cacau, técnicos, interessados na economia regional e até políticos participam.

Iniciativas de promover encontros reais existiram; aí se discutiu problemas e algumas proposições para as soluções desejadas. Alguns “líderes” com coragem conseguem participar das reuniões com o governo, certamente tentando explicar a crise regional, com números e fatos; crise que se prolonga por alguns anos, sem a menor sensibilidade e ação do governo e de seus órgãos executores da política agropecuária.

Caracterizam-se dois tipos de problemas:

1 – O endividamento dos produtores de cacau e em consequência o comércio, a indústria e a sociedade como um todo; famílias, escolas, faculdades, governos municipais, empresas de todo tipo, operários, trabalhadores rurais (estes agora vivendo nas cidades), todos com a mesma dificuldade financeira.

Foram feitas inúmeras reuniões e projetos. Planos difíceis de serem elaborados e ainda mais, sem execução rápida e satisfatória.

Quem caminha pelas cidades da região do cacau encontra dezenas, centenas de trabalhadores e suas famílias, demitidos das fazendas por incapacidade financeira dos proprietários em mantê-los. O endividamento e a baixa produtividade do cacau devido à Vassoura de Bruxa, a falta de assistência técnica, as decepções com as promessas dos políticos e do governo atual levam a população a uma crise de desanimo e revolta.

Quando se constata a situação em que se encontram os ex-trabalhadores rurais (250.000 aprox.), agora sem habitação, alimentação, emprego e dinheiro, duvida-se que, neste momento, a região esteja influenciada por políticos do partido dos trabalhadores. A luta por soluções para a economia do cacau inclui toda a gama de associações ou classes. A crise econômica financeira atacou toda a sociedade sul baiano, inclusive os trabalhadores rurais e de forma “sorrateira” como a Vassoura de Bruxa.

Breve, teremos as eleições municipais. Certamente virão “aqueles” com palavreado estudado, com gestos e comportamento amigável, entremeados de promessas e soluções irrealizáveis. Que se pensa fazer? Talvez, aceitar as promessas ou algo mais, e votar como as reuniões secretas do Senado, “secretamente”.

Triste é não ver, nem ler uma Declaração Formal da Direção da Ceplac sobre toda esta situação. Falta faz do tempo em que José Haroldo, diretor da Ceplac era questionado, pressionado pelos produtores sobre a solução dos problemas do cacau. E ele não fugia, enfrentava com números, argumentos, seriedade e honestidade. Na verdade, ele estava no cargo pelo desejo dos produtores e para eles teria que ser transparente e sincero.

2 – O segundo problema que afeta neste momento, e poderá afetar mais profundamente é, o tão falado “Desmonte da Ceplac”. O cenário das discussões sobre o tema tem sido além da imprensa, a Lista do Cacau. Alguns manifestantes dizem que nada sabem o que fazer da Ceplac; outros arriscam sugestões e demonstram interesse em discutir, ainda outros querendo ser inovadores, sem conhecimento da história e dos objetivos da Ceplac apresentam propostas que camuflam um desmonte e, ainda temos àqueles que dizem que a instituição e “nada” são a mesma coisa.

Infelizmente a história dos feitos e realizações da Ceplac é desconhecida ou esquecida propositalmente. O interesse politico partidário ou técnico promocional é maior que a manutenção da instituição, corrigindo seus erros e defeitos. É grande a carência de lideres, atuantes, competentes e idealistas.

Parece que o envolvimento dos dois problemas – endividamento e desmonte da Ceplac – têm prejudicado a luta pela solução de ambos. O esforço dos produtores e suas organizações têm que ser hercúleo para conseguir decisões corretas e urgentes. Os dois problemas afetam toda a sociedade do sul da Bahia.

A Ceplac passou por mais de sete tentativas de institucionalização. Todas fracassaram. Depois da decisão de Collor transferindo para o regime jurídico público, ela passou a ser um apêndice, não muito confortável no Ministério da Agricultura. Daí em diante, novo projeto, mais burocracia, mais desprestigio, mais dificuldades em caracterizar os funcionários, em especial pesquisador e extensionista e finalmente igualando-os como Fiscal Agropecuário. Ridículo.  Representa indicador de que o Ministério, ou melhor, o Governo Federal não tem interesse em revitalizar a organização de objetivos científicos e educacionais e que teve um passado glorioso, criado e mantido por produtores de cacau.

De Ministro a Ministro foi a Ceplac perdendo seu papel, sua participação no desenvolvimento da região cacaueira. A classe produtora rural se desorganizou, ficou apática; a sociedade ainda acreditava nas promessas politicas, os funcionários vendo seu idealismo ir por ladeira abaixo.

Foram pensados vários modelos institucionais: Autarquia, Agência Executora, Seplac com s (superintendência), Instituto e Empresa Pública. No momento atual, às escondidas da região, trama-se um desmonte da organização. Alguns imóveis já foram tomados pelo governo, as Emarcs transferidas para o Ministério da Educação (mesmo sendo invadidas pelo MST). Só falta transformar experimentos científicos do Centro de Pesquisas em áreas de acampamento para trabalhadores sem terra.

Na verdade a organização sofre de vários problemas, o que dificulta sua operacionalidade e eficiência. A insegurança com relação à Direção do órgão, a falta de recursos financeiros e do estabelecimento de prioridades técnicas, o impeditivo à complementação do quadro de funcionários técnicos aposentados ha mais de vinte anos. As deficiências nos laboratórios e meios de transporte para o extensionista; tudo isto, acrescido ao desinteresse dos governos, estadual e federal, com a grave situação em que se encontra a sociedade do cacau.

É possível recuperar a Ceplac?

Neste modelo organizacional ou como os modelos já propostos – NÃO. Qualquer um deles permitiria a intromissão politica partidária dominante, intervindo em nomeações, transferências, projetos técnicos, troca de favores etc. como se a instituição pertencesse a eles (vereador, prefeito, deputado federa, etc…). O exercício desta “Política de Interior” prejudica e destrói as organizações, sejam elas da Agricultura, da Educação, da Saúde etc…

No Brasil pouquíssimas instituições são praticamente imunes às tentativas de ingerência política desse nível. Uma delas é a UNIVERSIDADE. O processo político que existe nela é interno, envolvendo defesas de teses econômicas, sociais, técnicas e ideológicas, mas que são resolvidas nas discussões entre professores, cientistas e alunos de pós-graduação. Existe também, a eleição do Reitor; processo ainda defeituoso, mas democrático, com predomínio do conhecimento e experiência na escolha final por um governador ou presidente da republica no uso das prerrogativas do cargo. Mas, infelizmente a política partidária já conseguiu penetrar no campus universitário.

O que deve ser preservado na Ceplac?

Algo que as más administrações e as influências maléficas não conseguiram destruir. Os princípios, os objetivos e o sentimento idealista dos funcionários, especialmente dos cientistas e extensionistas que têm o proposito de ajudar no desenvolvimento da região. É possível reduzir o orçamento, nomear administradores incompetentes, mas jamais destruir estes sentimentos, gerados desde o inicio da instituição.

É possível preservar todos estes valores em uma nova figura institucional? É possível retornar o ânimo, a esperança e a dedicação ao trabalho?

Tudo depende das mudanças do arcabouço institucional, da preservação dos princípios e objetivos, da aceitação dos profissionais, da compreensão da sociedade, dos produtores de cacau e do convencimento aos líderes e autoridades governamentais que têm o poder decisório legal. Sim, é possível encontrar este modelo institucional e que gere além das atividades técnicas cientificas, a paz e a alegria de trabalhar com entusiasmo e eficiência.

A incorporação da Ceplac na Universidade de Santa Cruz – Federalizada.

Uma nova e grande Universidade com uma filosofia e objetivos além da formação e especialização de profissionais em diferentes áreas da ciência. A dedicação aos estudos e pesquisas dos problemas econômicos, sociais, tecnológicos, culturais e até políticos e levando a toda sociedade os novos conhecimentos, técnicas e métodos.

Mas, antes de defender esta ideia será preciso compreender um pouco mais, o que é uma UNIVERSIDADE e seu papel no processo de desenvolvimento da região sob sua maior influência.

Muitas pessoas ainda consideram a Universidade, como o local onde o filho ou o neto vão estudar até obter uma graduação. Elas, pouco ou quase nada sabem da geração de novos conhecimentos, de novas tecnologias, de novos princípios e teorias econômicas; da descoberta de talentos nas artes e na música e que estas inovações estarão permanentemente à disposição de todas as classes sociais.

Outro fator importante e necessário para entender a federalização da UESC com a absorção da Ceplac é a falta de pensamento para o futuro. Imaginar o tempo em que nossos descendentes terão mais compreensão e espirito cooperativo, unindo esforços e ações em beneficio coletivo. Eles serão os homens e mulheres do futuro, serão os lideres, os construtores e os trabalhadores. Certamente serão beneficiados com uma Universidade dentro deste novo modelo organizacional.

Unir, ser mais eficiente, utilizar melhor os recursos humanos, materiais, financeiros e patrimoniais. Não perder nada do que foi construído, organizado e produzido. Nada de entregar o Cepec a outra instituição, distante dessa região ou criada politicamente, sem contribuição alguma para a economia e sociedade do cacau; ainda mais, faltam-lhe interesse e “sentimento regional”, além dos seus próprios problemas, estrutura e deficiências.

Acabar com a Extensão Rural significa cortar o enlace com os produtores rurais e suas associações; é preciso deixar os pesquisadores com mais tempo em seus laboratórios e em suas análises científicas. Infelizmente nesses últimos dias perderam-se as Emarcs para o Ministério da Educação.

Compreendendo estas duas premissas – uma nova conceituação de Universidade e uma visão do futuro – certamente haverá uma aceitação à ideia de fusão da Ceplac com a UESC e nascerá a Universidade Federal de Santa Cruz.

Que vantagens existirão para este enlace institucional?

1º – A UESC se tornará uma Universidade Federal, com mais recursos financeiros, participação no mais importante grupo de Universidades brasileiras e terá ampliação em seu horizonte técnico educacional de ação regional.

2º – Economia financeira para o Estado da Bahia, embora seja recomendável, mesmo, na forma de convênios, uma participação do governo estadual apoiando projetos, estudos e pesquisas, específicas para o desenvolvimento do sul do estado.

3º – O custo para o Governo Federal não será elevado e será menor do que o projeto de criação de uma nova Universidade Federal.

4º – Haverá definição e melhora para o funcionalismo da atual Ceplac, pois seriam enquadrados dentro dos Planos de Cargos das Universidades Federais.

5º – Maior intercambio intelectual e de pesquisas entre professores e pesquisadores das duas organizações.

6º – Pesquisadores poderiam atuar também como Professores, em especial de cursos de pós-graduação.

7º – Utilização das áreas e laboratórios do Cepec nos cursos de Agronomia e Medicina Veterinária.

8º – Não seria necessário acabar com o Centro de Pesquisas do Cacau, nem o Centro de Extensão Rural, este teria apoio do Departamento de Educação e de Comunicação da Universidade.

9º – Melhor utilização do Patrimônio físico das duas instituições (a maior parte construída com recursos dos produtores de cacau). Possibilidade de uma unidade de produção comercial (de cacau) como parte da receita do orçamento da Universidade.

10º – As áreas da Amazônia e do Espírito Santo passariam a constituir Campos Avançados da nova Universidade.

A ideia é inspirada no modelo do “Land Grant College” americano. São Universidades com o princípio de formar profissionais, manter cursos de especialização e de pós-graduação, realizar estudos e pesquisas cientificas inclusive para Empresas privadas, gerando novos conhecimentos e tecnologias e ainda transferindo todas as inovações para a sociedade americana e mundial.

Acredito que este modelo resolveria todos os problemas atuais evitando o pretenso “desmonte” e beneficiando a região sul da Bahia, especialmente no futuro.  A Universidade como é um grande Centro de Educação aberto a toda a população manterá o intercambio e diálogo permanente com os produtores de cacau, absorvendo seus problemas para estudos e questionando as soluções propostas. A vinculação com o Ministério da Educação certamente será positiva e contará com o acervo técnico e científico das Universidades Brasileiras.

Finalmente, tudo isto requer discussões na busca de compreensão e apoio, principalmente na elaboração do Projeto de Federalização e a inclusão de aspectos necessários ao desenvolvimento regional.

Ilhéus, Bahia – novembro 2011.

Jorge Raymundo Vieira – Eng. Agrônomo, MS – Técnico em Administração-

Aposentado na CEPLAC.


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