Ir.’. Everaldo

Teriam sido as idéias liberais trazidas pela Revolução Francesa indiretamente responsáveis pela introdução da doutrina maçônica no Brasil? À partir de agora abordaremos a presença da Maçonaria por trás dos mais diversos momentos de nossa história, da independência à abertura política dos anos 80.

A Maçonaria está presente em nossa história desde o tempo do Brasil Colônia, tendo sido incorporada, a princípio, por alguns revolucionários da Inconfidência Mineira e da Conjuração Baiana no final do século XVIII. Sua força política se fez sentir quando ela assumiu os ideais do liberalismo anticolonialista, posição avançada que sustentou os movimentos que levaram à independência do Brasil. Na medida em que o Estado Brasileiro ia se consolidando, sua influência cresceu a olhos vistos. Tanto que a história do Brasil Império se confunde com a história da própria Maçonaria, que absorveu não só os Andradas do Primeiro Reinado como também as principais lideranças do Segundo.

Apesar de só ter ganho sua primeira obediência em 1822, a Maçonaria brasileira teve início em 1797, com a Loja Cavaleiros da Luz, criada no povoado de Barra, em Salvador, Bahia. A capital da colônia, no entanto, só abraçaria o movimento em 1800-1801, quando maçons portugueses fundaram no Rio de Janeiro a Loja União, que mais tarde passou a ser chamada de Reunião pelo fato de outros maçons a ela terem se filiado.

Com o passar desses primeiros anos do século XIX, o movimento só fazia crescer. Em 1802, foi instalada na Bahia a Loja  Virtude e Razão (que ressurgiria em 3 de março de 1807 como Loja Virtude e Razão Restaurada), da qual saíram, em 1807, a Loja Humanidade e, em 1813, a Loja União. Em 1809, o Príncipe Regente D. João recebeu uma longa lista de nomes de maçons para serem presos, e reagiu dizendo que “foram estes que me salvaram”. Mas não havia dúvidas de que o movimento Maçônico no Brasil estava cada vez mais envolvido com causas políticas, insurreições e revoltas, o que irritava bastante Portugal.

Em 1809, foi fundada uma loja em Pernambuco da qual fizeram parte os padres Miguel Joaquim de Almeida e Castro, João Ribeiro Peixoto e Luiz José Cavalcante Lins. Esta Loja já tinha intenções puramente políticas. Tal ideologia se disseminou com tanta força na região que, em 1816, já havia uma Grande Loja Provincial reunindo as Lojas Pernambuco do Oriente, Pernambuco do Ocidente, Restauração e Patriotismo e Guatimozim. A Loja Distintiva, fundada em São Gonçalo (RJ) em 1812, por sua vez, era explicitamente republicana e revolucionária. Esta valia-se de sinais, toques e palavras diferentes das outras Lojas, e tinha como emblema um índio vendado e preso com grilhões. Denunciada, ela logo acabou sendo dissolvida. Seus arquivos, posteriormente, foram lançados ao mar, na altura da ilha dos Ratos.

Novos rumos

O ano de 1821 havia começado para D. João VI da mesma forma que o de 1807. O Grande Oriente Lusitano o havia levado, quinze anos antes, a transferir a sede do governo monárquico português para o Rio de Janeiro. Quinze anos depois, esse mesmo Grande Oriente o obrigaria a voltar para Lisboa. Com a ausência do monarca, quem passaria a representá-lo em nosso país seria seu filho, D. Pedro.

A sucessão de acontecimentos acabou levando à criação, em 17 de junho de 1822, da primeira Obediência maçônica do Brasil; o Grande Oriente Brasílico (ou Brasiliano) com a finalidade principal de lutar pela independência política do Brasil. Para que fosse fundado o Grande Oriente, a Loja Commercio e Artes (criada em 12 de dezembro de 1815, na residência do Dr. João José Bahia) teve importância fundamental, pois reunia estudantes brasileiros que haviam retornado da Universidade de Coimbra (Portugal), onde haviam sido iniciados maçons, e comprometidos radicalmente com a luta pela independência das províncias ultramarinas de Portugal na América do Sul – ou seja, o Reino do Brasil.

O Grande Oriente Brasílico foi, praticamente, uma entidade política, que se dedicou, com afinco, à luta pela independência do Brasil, mas que posteriormente se extinguiria devido a disputas políticas pelo poder. Tal embate, teoricamente incompatível com a doutrina maçônica, foi alvo de críticas, mas a luta pela independência do Brasil justificava qualquer tipo de atitude e permanece, até hoje, como o grande marco da história da maçonaria brasileira. Efetivamente, quando foi criado, o Grande Oriente tinha como objetivo principal engajar a Maçonaria, como Instituição, na luta pela independência do Brasil e tal determinação, inclusive, consta de forma explícita nas atas das primeiras reuniões da Obediência. Tanto que ela só admitia a iniciação ou filiação em suas Lojas de pessoas que se comprometessem com tal ideal.

Em 30 de março de 1818, o Alvará Régio de D. João VI proibiu “ todas e quaesquer Sociedades Secretas, de qualquer Denominação que ellas sejam”.  Afinal de contas, esses tipos de organizações tinham o poder de gerar movimentos regionais nacionalistas, que mesmo empenhados em obter a independência do Brasil, possuíam caráter geralmente republicano, e não podiam, naturalmente, agradar à Coroa.

Na nossa próxima edição (parte II) traremos informações sobre a atuação da Maçonaria durante o novo império.

 

JOSÉ EVERALDO ANDRADE SOUZA

MESTRE-MAÇOM DA LOJA ELIAS OCKÉ – N° 1841

FEDERADA AO GRANDE ORIENTE DO BRASIL – RITO BRASILEIRO

ORIENTE DE ILHÉUS – BAHIA