A culpa de todos nós!

Estamos geralmente nos culpando pelo que fizemos ou não fizemos. Em outras situações, a culpa se faz presente quando buscamos culpados pelo que aconteceu ou não em nossas vidas.

Ou ainda, somos culpados pelo que acontece a outra pessoa.

Ou seja, a culpa pode ser gerada em quatro situações: culpa pelo que fizemos e não fizemos; culpa que atribuímos e que nos é atribuída.

Culpa pelo que fizemos

Há pessoas que assumem todas as culpas para si. Vivem gritando em silêncio: é tudo culpa minha , como se fossem grandes mártires, verdadeiras vítimas da vida e dos acontecimentos. Estão sempre apontado o dedo para o próprio nariz, talvez substituindo quem o fazia.

Geralmente sentem muita dificuldade em impor limites, dizer não, para evitar mais culpas do que já têm. É muito comum nos sentirmos culpados quando magoamos as pessoas que amamos. Alguns magoam sabendo o que podem causar. Outros não têm a mínima consciência do sentimento que será despertado, podendo perceber muito tempo depois.

Seja o que for que aconteceu, analise o fato, as circunstâncias que isso ocorreu e procure expressar seu arrependimento. Ter raiva de alguém a quem devemos amar também nos induz a culpa. Somos ensinados desde crianças que sentir raiva é errado e mantemos essa crença por muitos e muitos anos. Sentir raiva é um sentimento natural. Podemos ter raiva, o que não nos dá o direito de sermos cruéis com quem quer que seja.

Há casos que essa culpa excessiva é gerada desde o nascimento ou gestação, fazendo com que se sinta culpado apenas pela própria presença, como se estivesse atrapalhando os projetos da mãe, do pai ou de ambos, impedindo o desenvolvimento deles.

Atrapalhou projetos ou os pais não se programaram para ter um filho naquele momento da vida? É ainda mais acentuada em casos em que a mãe falece durante o parto, podendo gerar conflitos eternos.

Depois vem a culpa pelos filhos pequenos que são deixados no maternal ou com a babá, enquanto a mãe trabalha, gerando uma necessidade profunda de reparar essa ausência. Depois vem a culpa pelo divórcio, onde um dos pais não tem mais o contato íntimo com seus filhos e se culpa também pela ausência e busca compensar sendo muito permissivo, compreensivo, tendo dificuldades em impor limites, mesmo consciente que são necessários; muitas vezes compensando a ausência com bens materiais. Pode haver a culpa por quem decidiu pelo rompimento da relação pelo sofrimento causado ao outro.

Há casos de abuso sexual durante a infância, maus-tratos e que, quando adultos, a pessoa se culpa por ter permitido tal abuso. Mas é preciso entender que não há culpa alguma, não houve permissão, mas sim medo, inocência. Dificilmente uma criança vítima de algum tipo de abuso e maus-tratos busca ajuda. O medo sobrepõe-se ao sofrimento, por mais intenso que seja. Se você não sabia como se defender, como pode se culpar por isso?

Há a culpa pelo sofrimento que causamos a alguém, independente dessa pessoa já ter nos machucado anteriormente. Há a culpa reprimida, silenciosa, onde quem a sente não conta para ninguém. Acontece em geral quando há traição não assumida. A própria pessoa pode se lamentar em sofrimento, mas a outra nunca saberá, apesar de que também há casos em que não se assume para o outro nem para si mesmo, nunca reconhecendo ou assumindo o que faz.

A traição não é só sentida quando há uma traição pelo fato de ter mantido relações sexuais com outra pessoa, mas, principalmente, quando se trai a confiança, seja em qualquer área, profissional, afetiva, familiar, pessoal.

Há culpa por sentir-se feliz, por fazer algo para si, por não fazer nada, por dormir até mais tarde, por sentir prazer. Ou seja, a sociedade – e as normas por ela imposta – nos enchem de culpas que dificilmente conseguimos nos libertar.

Culpa pelo que não fizemos

Muitas vezes sentimos culpa por coisas que não fizemos, mas que por algum motivo nos induzem a nos culpar. Por exemplo, culpar-se pela morte de alguém, por um acidente que aconteceu sem sua intenção, por alguém ter ido embora.

Podemos nos culpar pelas palavras que não foram ditas, as atitudes que não foram tomadas, o cuidado que não tivemos, por falar quando deveríamos nos calar, calar quando deveríamos falar, ver quando não deveríamos ter visto, não ver quando deveríamos ter visto, tocar quando não deveríamos ter tocado, não tocar quando deveríamos tocar, ir embora quando deveríamos ficar, ficar quando deveríamos ter ido embora, aceitar quando deveríamos recusar, recusar quando deveríamos aceitar, sentir quando não devíamos sentir, não sentir quando deveríamos sentir. Enfim, são muitas as situações em que nos culpamos por não termos agido.

É aquela sensação de não termos feito tudo que podíamos ou o suficiente, por algo, alguém, uma causa. Pode ser forte após o falecimento de uma pessoa muito amada ao sentirmos que não fizemos tudo que poderíamos fazer enquanto estava viva. É o caso da filha que perde a mãe, e se culpa apenas após sua morte por tudo que deixou de fazer por ela enquanto estava ao seu lado.

Se há culpa por terem abusado de você quando criança e não ter conseguido reagir, gritar, pedir ajuda, procure se tranqüilizar. Lembre-se que você era apenas uma criança coagida pelo medo e que não sabia reagir. Hoje poderá fazer outras escolhas e não mais permitir que o maltratem ou abusem de sua inocência e pureza, não mais se escondendo de medo como criança, mas defendendo-se como um adulto que sabe diferenciar a verdade de um jogo de poder e manipulação.

Numa separação é comum a culpa quando tomamos consciência que não fizemos o que poderíamos ter feito para que a relação não terminasse. Há a culpa quando os dois pais trabalham ou um dos dois o cria sozinho.

Enfim, cada um sabe as culpas que carrega dentro de si. Seja qual for a(s) culpa(s) que sente, olhe(as) de frente. Perceba o quanto está se permitindo continuar com fantasmas que apenas o torturam ao se cobrar o que fez ou não fez. Se perceber que realmente cometeu um erro ou injustiça, se for possível, peça desculpas, assuma seu erro, mas liberte-se de qualquer culpa que o esteja paralisando e fazendo sofrer.

Colaboração de Luiz Castro

Bacharel Administração de Empresa