Literatura de Cordel

Oriunda de Portugal, a literatura de cordel chegou ao Brasil em fins do século XVIII, ganhando força a partir do século XIX no interior nordestino.[2] Carlos Drummond de Andrade, reconhecido como um dos maiores poetas brasileiros do século XX, assim definiu, certa feita, a literatura de cordel: “A poesia de cordel é uma das manifestações mais puras do espírito inventivo, do senso de humor e da capacidade crítica do povo brasileiro, em suas camadas modestas do interior. O poeta cordelista exprime com felicidade aquilo que seus companheiros de vida e de classe econômica sentem realmente. A espontaneidade e graça dessas criações fazem com que o leitor urbano, mais sofisticado, lhes dedique interesse, despertando ainda a pesquisa e análise de eruditos universitários. É esta, pois, uma poesia de confraternização social que alcança uma grande área de sensibilidade”.

Em Ilhéus conhecemos dois cordelistas famosos: Janete Lainha e Gilton Silva Thomaz, cujas obras encontram-se nas bancas de revistas e na Casa de Cultura Jorge Amado.

O meu amigo Gilton lendo uma das minhas crônicas no blog r2cpress a qual focalizava a estória sobre A Ratoeira onde ele transformou em literatura de cordel:

“Na casa de uma fazenda/Certa feita aconteceu/Uma cena inusitada,/Quando um rato percebeu/A maior Indiferença/Em quem era amigo seu.

À tardinha, um ratinho,/Por uma sala passeava/Quando vê chegar o casal/Que na casa habitava,/A mulher com um pacote/Em silêncio desatava.

O rato dava cambalhotas/Corria em volta da sala/Ia no quarto, na cozinha/Depois entrava numa mala,/Essa história é engraçada/Veja como vou contá-la.

O ratinho todo feliz!/De olho no tal chegado,/Quando a mulher desenrolou/O que estava embrulhado/Deixou esse pobre rato/Muito aterrorizado.

O rato quase que morre/Sentiu uma tremedeira/E depressa encostou-se/No pé de uma cadeira/Vendo que no tal pacote/Tinha uma ratoeira.

Refazendo-se do susto/O rato saiu na carreira/Gritando a todo pulmão:/NA CASA TEM RATOEIRA!/Então disse à galinha/Que já subindo na jaqueira.

Mas a galinha sonolenta/Desta forma respondeu:/ -Me desculpe, senhor rato/Esse assunto não é meu/Não me prejudica em nada/Isso é lá problema seu.

O ratinho desesperado/Chega até o chiqueiro/-NA CASA TEM RATOEIRA!/Diz a esse do lameiro,/-Nada eu posso fazer!Fala o poço zombeteiro.

O rato pobre coitado,/Sai correndo e diz a vaca:/-TEM RATOEIRA LÁ NA CASA!/E essa, encostada na estaca,/Disse assim ao ratinho:/ -Por mim, você se lasca!!!

Não sou eu que mora lá/Como vê estou cá fora/E essa tal de ratoeira/Em nada me apavora./Senhor rato, te aconselho/Deixe a casa, vá embora!

Então o ratinho vendo/Que ninguém dava atenção/Nem a vaca e a galinha/Tampouco o porcalhão/Deu as costas a esses três/Retornando ao casarão.

O rato muito abatido/Absorto em pensamentos,/Como pode essa turma/Nesses preciosos momentos/Demonstrar indiferença/Sem querer envolvimentos.

Como foram indelicados/A vaca, o porco e a galinha/Todos correndo perigo,/Noção disso ninguém tinha/Sem querer olhar o próximo,/Oh! Que classe tão mesquinha!

O ratinho naquela noite/Procurou ficar acordado,/Também não quis sair/Para não ser agarrado/Por essa tal de ratoeira/Que ali tinham deixado.

E na calada da noite/Ouve-se um estalar/Era a tal de ratoeira/Que estava a trabalhar,/A mulher dona da casa/Veio para reparar.

E ao pegar na ratoeira/Essa mulher desastrosa,/Sentiu na mão direita/Uma dor angustiosa/Fora picada nessa hora/Por uma cobra venenosa.

A serpente venenosa/Caíra na ratoeira,/Fora pega pla cauda/E ficou prisioneira/No escuro, a mulher,/Não viu essa traiçoeira.

Com a picada da cobra/Essa mulher adoeceu,/Levaram-na a um hospital/Um médico lhe atendeu/Quando retornou à casa/O pior aconteceu.

A mulher voltou com febre/Com o corpo todo quente,/E para alimentar alguém/Com febre, muito doente,/O bom é canja de galinha!/Aconselhou uma parente.

Então esse fazendeiro/Foi logo providenciar/O principal ingrediente/Para sua mulher jantar,/Armou-se com um cutelo/E a galinha foi matar.

A mulher não melhorou/Retornando ao hospital/Veio os parentes visitá-la/E um povo da capital,/Mas como dar de comer/A todo esse pessoal?

O fazendeiro então correu/Em direção ao chiqueiro/E agarrando esse porco/O trouxe até o terreiro/Com pouco tempo esfolava/Esse porco zombeteiro.

Para internar a mulher/Não houve qualquer tarifa/Os parentes e os amigos/Até fizeram uma rifa,/Só que esses hospitais…/Fora dos padrões da FIFA!!!

Fora levada a um hospital/Desses de atendimento, SUS/Que atendem aos miseráveis/Esses indigentes, os nus/E no local que foi picada/Começou a sangrar pus.

Já era de esperar/O que iria acontecer/Num manhã de domingo,/O céu foi escurecer/E essa pobre criatura/Assim, veio a falecer.

Então veio muita gente/Para o sepultamento/Os parentes e amigos/Ouve grande ajuntamento/Povo que veio prestar/O sincero sentimento.

Assim, outro problema/No momento apareceu/Para alimentar o povo/O fazendeiro então correu/E ordenou matar a vaca,/A um empregado seu.

Depois do sepultamento/Quando o povo se despediu/O fazendeiro muito triste/Dessa fazenda então saiu/E o ratinho, são e salvo/A tudo isso assistiu.

Transportei para o Cordel/História muito envolvente/Onde um grupo preguiçoso/Mostra-se indiferente,/Assim, ficou o ratinho/Zombando muito contente.

Moral da história:

Na próxima vez que você ouvir dizer que alguém está diante de um problema e acreditar que o problema não lhe diz respeito, lembre-se que quando há uma ratoeira na casa, toda fazenda corre risco.

“O problema de um é problema de todos!”

Colaboração de Luiz Castro

Bacharel Administração de Empresa