Rabat:
Veja a seguir interessante texto que recebí da minha amiga Vera Paixão e que acredito vale a pena publicar. Pena não sabermos o seu autor, mas pela linguagem usada, depreende-se que deve ter sido escrito  por um irmão português, de bem com a vida e com a sua condição de sexalescente.
Aproveito para dizer aqui que aos 64 anos, sinto-me muito bem como SEXALESCENTE.
 OS SEXALESCENTES
Se estivermos atentos, podemos notar que está a aparecer uma nova
franja social: a das pessoas que andam à volta dos sessenta anos de
idade, os sexalescentes : é a geração que rejeita a palavra
“sexagenário”, porque simplesmente não está nos seus planos deixar-se
envelhecer.
Trata-se de uma verdadeira novidade demográfica – parecida com a que,
em meados do século XX, se deu com a consciência da idade da
adolescência, que deu identidade a uma massa de jovens oprimidos em
corpos desenvolvidos, que até então não sabiam onde meter-se nem como
vestir-se.
Este novo grupo humano que hoje ronda os sessenta teve uma vida
razoavelmente satisfatória.
São homens e mulheres independentes que trabalham há muitos anos e que
conseguiram mudar o significado tétrico que tantos autores deram
durante décadas ao conceito de trabalho. Que procuraram e encontraram
há muito a
actividade de que mais gostavam e que com ela ganharam a vida.
Talvez seja por isso que se sentem realizados… Alguns nem sonham em
reformar-se. E os que já se reformaram gozam plenamente cada dia sem
medo do ócio ou da solidão, crescem por dentro quer num, quer na
outra. Disfrutam a
situação, porque depois de anos de trabalho, criação dos
filhos,preocupações, falhanços e sucessos, sabe bem olhar para o mar
sem pensar em mais nada, ou seguir o voo de um pássaro da janela de um
5.º andar…
Neste universo de pessoas saudáveis, curiosas e activas, a mulher tem
um papel destacado. Traz décadas de experiência de fazer a sua
vontade, quando as suas mães só podiam obedecer, e de ocupar lugares
na sociedade que as suas mães nem tinham sonhado ocupar.
Esta mulher sexalescente sobreviveu à bebedeira de poder que lhe deu o
feminismo dos anos 60. Naqueles momentos da sua juventude em que eram
tantas as mudanças, parou e reflectiu sobre o que na realidade queria.
Algumas optaram por viver sozinhas, outras fizeram carreiras que
sempre tinham sido exclusivamente para homens, outras escolheram ter
filhos, outras não, foram jornalistas, atletas, juízas, médicas,
diplomatas… Mas cada uma fez o que quis : reconheçamos que não foi
fácil, e no entanto continuam a fazê-lo todos os dias.
Algumas coisas podem dar-se por adquiridas.
Por exemplo, não são pessoas que estejam paradas no tempo: a geração
dos “sessenta”, homens e mulheres, lida com o computador como se o
tivesse feito toda a vida. Escrevem aos filhos que estão longe (e
vêem-se), e até se
esquecem do velho telefone para contactar os amigos – mandam e-mails
com as suas notícias, ideias e vivências.
De uma maneira geral estão satisfeitos com o seu estado civil e quando
não estão, não se conformam e procuram mudá-lo. Raramente se desfazem
em prantos sentimentais.
Ao contrário dos jovens, os sexalescentes conhecem e pesam todos os riscos.
Ninguém se põe a chorar quando perde: apenas reflecte, toma nota, e
parte para outra…
Os maiores partilham a devoção pela juventude e as suas formas
superlativas, quase insolentes de beleza ; mas não se sentem em
retirada. Competem de outra forma, cultivam o seu próprio estilo… Os
homens não invejam a aparência das jovens estrelas do desporto, ou dos
que ostentam um fato Armani, nem as mulheres sonham em ter as formas
perfeitas de um modelo. Em vez disso, conhecem a importância de um
olhar cúmplice, de uma frase inteligente ou de um sorriso iluminado
pela experiência.
Hoje, as pessoas na década dos sessenta, como tem sido seu costume ao
longo da sua vida, estão a estrear uma idade que não tem nome. Antes
seriam velhos e agora já não o são. Hoje estão de boa saúde, física e
mental, recordam a juventude mas sem nostalgias parvas, porque a
juventude ela própria também está cheia de nostalgias e de problemas.
Celebram o sol em cada manhã e sorriem para si próprios…
Talvez por alguma secreta razão que só sabem e saberão os que chegam
aos 60 no século XXI …
Carlos da Silva Mascarenhas