Dom Mauro Montagnoli / Bispo diocesano de Ilhéus

Dom Mauro Montagnoli / Bispo diocesano de Ilhéus

Temos diante dos olhos Jesus Cristo, Rei do Universo, o Ressuscitado e na nossa frente os irmãos pobres e abandonados, lembrados por Jesus no Evangelho. A celebração de Jesus Cristo rei do Universo quer nos ajudar a descobrir e vivenciar o sentido da presença do Senhor entre nós e na história, voltados para os que têm fome, sede, estão presos, doentes e abandonados. O que fazemos por eles? Se não estivermos em companhia deles ouviremos a sentença: “afastai-vos de mim, malditos….”.
Somos convidados a comemorar a vitória da justiça que aconteceu na ressurreição de Jesus e continua acontecendo nos gestos de misericórdia, bondade, solidariedade, partilha do pão e da prática da justiça.

A celebração de Jesus Cristo rei do Universo encerra o ano litúrgico. Jesus Cristo Rei surge como a meta a que tende todo o peregrinar da humanidade (cf. Gaudium et Spes, n. 45).

Proclamamos Jesus Cristo centro e Senhor da história, desde o começo até sua consumação: “O Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim” (Ap 22,12-13).
Durante o exílio na Babilônia Ezequiel aparece como o profeta da esperança e porta-voz do Deus libertador, que busca e cuida de seu rebanho e de cada ovelha em particular (cf. Ez 34,11-12.15-17).

Ele ajuda a descobrir os motivos que levaram o país inteiro ao desastre e à submissão aos babilônios. São as lideranças que, em vez de zelar pelo bem-estar do povo, acabaram desunindo e devorando-o, permitindo que se tornasse presa fácil da ganância internacional. No exílio Deus vai cuidar das ovelhas que são o seu povo.
Deus é o pastor que liberta e salva as vítimas da ganância dos poderosos. Deus vai retirar seu povo da escravidão, reconduzi-lo à terra de onde saiu, cuidando para que a justiça e o direito sejam a base da nova sociedade: “Mas a ovelha gorda, a ovelha forte, eu a vigiarei; farei meu rebanho pastar segundo o direito”. Deus fará justiça entre uma ovelha e outra. O Senhor toma conta de suas ovelhas.

O Evangelho de Mateus, capítulo 25, versículos 31 a 46, descreve o juízo final. “Todos os povos da terra serão reunidos diante dele”. Ele senta em seu trono glorioso. O Filho do Homem chega em sua glória, como rei, para julgar todos os povos e confirmar seu modo de viver conforme a misericórdia praticada com os excluídos, os pobres. Ele, como Pastor, separará as ovelhas dos cabritos e dirá: “Vinde, benditos em meu Pai, recebei o Reino como herança! Porque eu tive fome, sede, era estrangeiro, estava nu, doente, preso (…) e fostes solidários comigo e eu vos declaro: Todas as vezes que fizestes a um destes mais pequeninos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes”.

Jesus, o Filho do Homem, identifica-se com cada necessitado, seu irmão. O Ressuscitado julgará “todas as nações” sem distinção: os que creram, os cristãos, serão julgados pelo cumprimento do Evangelho; os que não são cristãos, serão julgados pela fidelidade à ética, à verdade e à justiça. O critério da separação é a prática da justiça, do direito e da misericórdia.

A lei maior é o amor ao próximo. A sentença faz-se em forma de bênção e de maldição; a aprovação será “herdar o Reino”. O castigo, o “fogo eterno”; lembrança do mal e de suas inevitáveis consequências.

Jesus iniciou sua vida pública “proclamando a Boa Nova de Deus: “Completou-se o tempo, e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede na Boa Nova” (Mc 1,14-15).

Jesus Cristo é sacramento da salvação. Ele continua nos desafiando colocando-nos diante dos irmãos menores e mais fracos.

O Reino de que Jesus fala é um reino não de poder, mas sim de serviço: “O Filho do homem não veio para ser servido. Ele veio para servir” (Mt 20,28). Esse é o critério do julgamento. Entrar no reino supõe que os discípulos tenham seguido os passos do pastor, do mestre a serviço de todos, especialmente dos mais necessitados.
Celebrando a realeza de Jesus, ressuscitado pela justiça e misericórdia de Deus, somos julgados pelos pobres mais pequeninos.

É possível proclamar a realeza de Cristo enquanto seus irmãos prediletos são excluídos da liberdade e do direito à vida digna? Chamá-lo de Cristo Rei e deixá-lo com fome, com sede, sem casa, nu, doente, aprisionado, sem direito à educação em nosso meio? “Entre nós está, e não o conhecemos, entre nós está e nós o desprezamos”.

 

Dom Mauro Montagnoli

Bispo Diocesano