Jurava como o cara era a decência, o caráter personificado. No plenário a contundência na acusação de seus pares por desvios de conduta me impressionava. Jamais imaginaria envolto em fraucatua. Ledo engano.
Já manjou pelo andar da carruagem de quem se trata? Claro que é do Demóstenes. Mas não é em absoluto o famoso ateniense do século quarto antes de Cristo, embora nome e arte de falar (com a licença da comparação extremada) façam confundir. Aquele usando a oratória foi um bravo defensor de Atenas, sua terra, este é o senador made in Brasil, de sobrenome Torres que, diferentemente do da Grécia antiga, usou tal ferramenta para se encobrir e praticar atos indignos, que com certeza lhe credenciarão de algum modo a entrar na história.
Quem o viu ao vivo ou pela TV Senado, eloquente, transparecendo seriedade, sinceridade e até patriotismo, deve estar estarrecido, perplexo. Não que o conceito do político e dos partidos –é triste dizer– seja digno de aplausos, mas como toda regra tem exceção, este parlamentar se encaixava nessa ressalva.
Amparado por já ter exercido uma relatoria de CPI, sinal na certa de competência e confiabilidade na Casa, confesso que se fosse necessário, apostaria sim, em sua ilibação. Jeito, treita e manha também não lhe faltavam, só que ao invés de utilizar tais “habilidades” para o bem coletivo, utilizou-as para interesses escusos. Mas bote ilicitude nisso. E qual espectador, mesmo o mais perspicaz, que não se iludiria diante de tamanha farsa!?
Evidentemente que a imputação de um crime implique o comprobatório, e o direito de defesa deva prevalecer. Porém esses princípios não devam servir de argumentos porque, conforme o divulgado nos meios de comunicação, entre a suspeição criminal e a abertura de inquérito pelo STF, o seu partido, o DEM, deu-lhe toda a atenção para a defesa. Bom, apesar de batido, é bom repetir: o fato diz respeito à ligação deste senador com o empresário contraventor Carlinhos Cachoeira, acusado de ser o chefe de uma quadrilha de jogo ilegal.
É isso aí. Tudo indica como se vê que a velha afirmação que diz que as aparências enganam, continua verdadeira e a andar pari passu e de braços dados com o nosso político. E assim, com a mentira prevalecendo, mais uma vez o Senado é abalado em sua credibilidade, e mais uma vez a consciência do eleitor violentada.

Heckel Januário