Será que existe este exemplar perdido na nossa política? Ou é um dinossauro?

Vejamos então o que aconteceu comigo esta manhã.

Voltou o tempo das filas de madrugada para conseguir uma ficha para atendimento médico, e não é dos velhos tempos da previdência social, quando se pernoitava na porta da dita agência para conseguir uma ficha para o médico.

Lembrei-me também que existia uma tal pedra de marcação que um brioso cidadão preocupado com a saúde pública ficava encarregado de marcar a fila com o detalhe da pedra, ou seja, o paciente combinava e quando chegava ainda no escuro na agência já encontrava a pedra definindo o seu lugar de origem, claro que este servicinho tinha um preço a pagar.

Em todas as clínicas particulares da nossa cidade, sem exceção, para se conseguir uma ficha para uma consulta médica tem-se que chegar ao raiar do dia para ser preferencialmente já o décimo ou vigésimo por ordem de chegada.

E o atendimento lá pras 11:00 horas, se der sorte do profissional médico não ter nenhum contratempo para chegar no horário, e não adianta berrar alegando que pertence a plano A ou B, nessa hora é tudo farinha do mesmo saco, tem que pernoitar na fila ou vá se queixar ao delegado.

Cancelei minha visita tradicional ao Clube do Samba, para chegar legal na clínica e passei nessa segunda-feira por mais um dia de acordar cedinho para uma consulta médica, mas já estou acostumado com essa nova rotina, mesmo dispondo de plano de saúde, é uma novidade normal em nossa cidade, se estiver aumentando ou diminuindo a prosa que apareça alguém com uma justificativa plausível e que diga se estou inventando um causo que não existe.

Mas valeu chegar cedo à clínica, pois lá encontrei um velho amigo de infância e que hoje mora em outra cidade e que também está emplacado de vereador e presidente da câmara do lugar e a conversa rolou solta, pois tempo não era problema, por sinal tínhamos bastante para colocar a conversa em dia.

A conversa derivou para política, o homem é um presidente da câmara e já estava gozando de suas segundas merecidas “férias”, o famoso recesso parlamentar regiamente remunerado, e que vai até início de março, é mole ou quer mais?

E segue a conversa. Disse-me meu amigo que na sua atual cidade o prefeito é de fato um político exemplar, cheguei até a me arrepiar quando ele falou esta asneira, mas como foi o amigo de infância que disse tive que engolir pacientemente.

Disse também que o prefeito exemplar não tinha nenhum problema com os edis, que sempre fazia reuniões em sua casa com os vereadores e demais secretários para discutir o andamento dos trabalhos executados pela prefeitura, que tinha cancelado uma licitação para coleta de lixo porque a firma vencedora não estava atendendo o contrato, que tinha conseguido com um deputado uma frota mecânica para o município e que estava encerrando o primeiro ano de mandato com a promessa feita ao tribunal de contas que iria no próximo ano atender plenamente a respeitada Lei de Responsabilidade Fiscal, e que se dane o resto.

É ou não é um prefeito exemplar? O nome da cidade não digo nem de pirraça, afinal, seria trair a confiança do meu amigo de infância.

A conversa rolando e na minha cabeça passando o que acontece na nossa sofrida cidade.

Encerrando um ano de mandato e ninguém sabe quem é a firma ganhadora da licitação do lixo, que ninguém sabe qual o horário de se colocar o lixo domiciliar nas portas para coleta, que aqui existe (pasmem) uma secretaria de relações institucionais, que o entrosamento do alcaide com a câmara é pra lá de bom, que os deputados andam por aqui prometendo isso e aquilo e ninguém vê nada acontecer, que o cardápio muda a cada dia, um dia é a revitalização das centrais de abastecimento, noutro dia os 43 milhões para saneamento do Pontal e demais obras de infreestrutura, do novo hospital regional, das reformas do combalido prédio escolar General Osório e do nosso teatro, da continuação da urbanização da Zona Sul e de um tal recapeamento asfáltico que vem desde os tempos de campanha, rapidinho passou tudo na minha cabecinha que ainda funciona sem precisar de remédios.

Ah! Sem deixar por menos o projeto intermodal e a gloriosa ponte.

Quando estava zuando nesses pensamentos, fui acordado pelo chamado da atendente da clínica e sequer me despedir do meu amigo de infância.

Mas que a conversa foi boa não tenho a menor dúvida e também fui atendido pelo médico que elogiou os meus exames, pediu que continuasse nos exercícios físicos e moderasse na comida e na gelada, aí doutor também é pedir demais.

Sacanagem e ironia à parte torço desesperadamente pra que tudo dê certo e Ilhéus volte a trilhar os trilhos do desenvolvimento.

ZÉCARLOS JUNIOR