A prefeitura de Ilhéus, por determinação expressa de seus gestores, há algum tempo está fechando uma das pistas da Av. Soares Lopes, no Centro da cidade, ao tráfego de veículos motorizados, de modo a destiná-la para esportes e lazer por parte da população em geral.

O fechamento ocorre todos os dias, de segunda a sábado, das 5:00 às 8:30 da manhã, mediante a colocação de cones e sinalizadores, que são dispostos naquela Avenida e depois retirados. Aos domingos o fechamento se estende das 6:00 às 11:00 horas, salvo algum pequeno equívoco nos horários citados.

A iniciativa já foi sugerida por muitas pessoas, em várias ocasiões. Uma delas foi o Professor de Educação Física Alberto Kruschewsky. Não é, portanto, original. Mas isso fica em segundo plano diante do benefício proporcionado. O que importa é que naquele horário a pista fica livre para a prática de caminhada, corrida, ciclismo, skate, patins e outras atividades físicas ou recreativas. A população agradece!

Este fato também ilustra como pequenas atitudes do Poder Público têm, por vezes, o poder de melhorar a qualidade de vida do cidadão. Lembro-me, a esse respeito, o quanto foi bom quando Lula, ao assumir a Presidência, alterou o calendário de pagamento do INSS, que se estendia por dez intermináveis dias úteis, fazendo com que os últimos lotes fossem pagos em torno do dia 15, o que atrapalhava demais a vida de quem tinha o azar de neles receber. Ao instituir o atual modelo de pagamento em cinco lotes, pagos nos primeiros cinco dias úteis do mês, tudo melhorou mil vezes.

É preciso ter a coragem de elogiar e incentivar as boas iniciativas do Poder Público, independente de opção política ou ideológica. Primeiro porque se assim não fizermos, retiramos das ações e das pessoas uma coisa chamada mérito. E se o fazemos causamos um mal tremendo, tanto na vida pública quanto privada.

Já estive a frente, como gestor, de um ente de caráter público, no caso o Sindicato dos Servidores Municipais de Ilhéus. Naquela ocasião experimentei o quanto é ruim termos uma turma sempre pronta a dizer que tudo o que fazemos não presta, a ressaltar somente os nossos erros, a diminuir e desmerecer nossas boas iniciativas. Isso tira do administrador o gosto pelo trabalho, pela inovação, pela busca do acerto.

Na vida privada, por incrível que pareça, isto também ocorre. É comum observarmos nas famílias que há os “queridinhos”, aqueles que tudo o que fazem é bonzinho e lindo; e as “ovelhas negras”, de quem todas as ações, invariavelmente, não prestam!

Essa conduta familiar, por vezes aplicada até mesmo às crianças, ainda que de forma inconsciente, gera marcas psicológicas profundas. É comum uma criança dizer, quase chorando: “Fulano não gosta de mim!”, sendo que a antipatia que lhe é destinada não tem fundamento ou justificativa, porque na infância não temos culpa alguma.

Nada pior do que viver em um mundo sem méritos, onde o acerto é recebido com frieza ou hostilidade; e o erro festejado, por ser, este último, advindo do “queridinho” da vez, seja ele um parente, um chefe no trabalho ou mesmo um gestor público.

Finalmente, voltando à questão da Soares Lopes, ela nos convida a duas atitudes: primeiro de utilizá-la melhor, pois mesmo sem os cuidados adequados esta Avenida é um equipamento urbano fantástico. Segundo o de respeitar aos horários e às sinalizações ali colocadas, isso tanto para os motoristas quanto para os cidadãos, permanecendo cada um nas suas respectivas pistas durante o horário segregado. Afinal, nós cidadãos não temos só direitos, temos deveres também.

Julio Cezar de Oliveira Gomes

Professor, graduado em História; e Advogado, graduado em Direito, ambos pela UESC – Universidade Estadual de Santa Cruz.