A CIGANA… leu a minha mão…
Perambulava, num determinado fim de semana, pelas ruas, quando pela principal surge, no meio da multidão, ela, uma cigana, linda, cintura fininha, quadris largos, olhos verdes, ombros descobertos, seios fartos, pele cor de jambo, vestido rodado de escamas, vermelhas, que chacoalhavam ao caminhar e aquele seu conjunto transformou-a, de imediato, na visão mais perfeita até então vista por meus inocentes e infantis olhos.
Apaixonado, louco de amor no seu rastro, segui seus passos rua a dentro inebriando-me com seu perfume…
Oferecia-se a cigana para ler mãos, o que fiz, durante sua caminhada pela cidade, por três vezes, em diferentes pontos.
Lia a Cigana minha mão enquanto eu inebriava-me com a visão de seus seios apertados dentro de um espartilho cheio de cadarços e fitas.
Mentirosa!,…
me prometeu um destino completamente diferente do que se deu… mas, a avassaladora figura descontrolou minha tenra experiência e existência, talvez, por ser minha primeira paixão, por 1ª vista, eu tenha sucumbido a tentação de assedia-la e cheio de novas emoções convidei-a para comigo namorar.
Sou casada!,…
– eu não ligo!,…
Meu Marido!,…
– que é que tem!,…
Meu acampamento é muito vigiado!
– eu invado!
Eu cobro caro!
– eu pago!
Sabe onde acampamos!
– sei!,…
Vá a meia noite e vigie a barraca em que o lampião piscar por cinco vezes é a minha barraca; leve 100 cruzeiros, será o seu preço para dormir comigo.
Onde arranjar 100 cruzeiros um jovem de 16 anos nos idos de 1970?
Fui para casa desesperado e pedi a mamãe que, coitada, por não ter, negou de pronto.
Corri a garagem da casa e fiz um assalto!,… roubei do papai a caixa de ferramentas, o estepe do fusca, peguei minha bicicleta velha, meu patins e a prancha de surf, ainda , para completar os 100 cruzeiros tive que vender até o meu melhor par de bamba.
Arranjados os 100 cruzeiros parti, conforme o combinado, para próximo ao acampamento cigano esperando que de uma daquelas muitas barracas viesse o sinal combinado; deu meia noite e nada!,… uma hora da manhã e nada!,… quase duas horas da manhã e finalmente, eu congelando pelo vento frio da beira do rio, veio o sinal; cinco vezes, apagou-se e acendeu a luz de um lampião.
Corri para a barraca indicada pelo sinal e lá estava ela toda esvoaçante numa camisola de cetim bege, sex, que muito combinava com a sua cor; virou-se para mim que me sentia a meio metro do chão embebido com o seu perfume e disse: deite-se ai que já volto; joguei-me de costas num amontoado de almofadas acetinadas para esperar a minha CIGANA.
Quando abri os olhos deparei-me com a visão do inferno…
Um cigano de quase dois metros de altura me espreitava de frente…
Deitado, ao chão, sobre cetins, foi essa a impressão que tive de sua altura, trazia nas mãos uma espingarda, enorme, que tinha seu cano quase que encostado em minha testa.
Disse-me o cigano:
Prometeu pagar 100 cruzeiros para dormir com minha mulher?
– sisisisisisisisisisismmmmmmm
Cadê o dinheiro?
– tirei o dinheiro do bolço, bem devagarinho, que ele tomou de um só golpe.
Pagou para dormir?,… Vai dormir!,…
– não precisa não, eu me enganei….
Cala a boca que quem manda aqui sou eu!
– sim senhor!
É para dormir!,… se se virar nas almofadas leva um balaço entendeu?
– sim senhor!
Entrou a cigana no ambiente e beijando o cigano, na minha frente, se deitou ao meu lado sem qualquer cerimonia, virou-se para o lado e dormiu na maior…
O cigano sentou-se numa cadeira, ao meu lado, mantendo a espingarda voltada para meu rosto por todo o fim da noite; eu me mijei todo nas calças sem sequer me mexer até o amanhecer.
Quando do crepúsculo a cigana acordou, espreguiçou-se toda por cima de mim e o cigano ainda me vigiando falou-me:
Rape fora seu moleque!,… nunca mais volte aqui !,… se não morre!
As dores do corpo provocadas por inercia ao longo mais de três horas foi o que me impediu de sair dali mais rápido.
Fiquei traumatizado!,…
ainda hoje, 60 anos, 43 anos depois desse episódio, morro de medo de CIGANAS.
Nem que elas me prometam a vida eterna quero meia com elas…
Acontecimentos dessa magnitude é que dão beleza / leveza e entendimento das boas coisas da vida; quem nunca viveu uma grande emoção amorosa ou fez uma loucura em nome do amor, como mesmo disse o poeta, passou pela vida e não viveu…
A CIGANA leu a minha mão!,… pra nunca mais!
Leonardo Garcia Diniz.
-Uma “gloriosa”, também chamada de “palmira” pelos jovens da minha época pretérita, seria muito mais barata e sem traumas. rsrsrsrsrsrsrs
, rapaz que golpe em! E ainda teve que dá conta da caixa de ferramentas e do estrepe.E
m Camacã tem um acampamento cigano, mas fila longe da Loja.