WebtivaHOSTING // webtiva.com . Webdesign da Bahia


abril 2018
D S T Q Q S S
1234567
891011121314
15161718192021
22232425262728
2930  








AS MÚSICAS DAQUELES TEMPOS

Anísio Cruz – abril 2018

Na manhã de hoje, como sempre faço, busco uma boa coletânea no Yutube, e ouço-a enquanto leio as principais notícias, os posts dos amigos, e se for o caso, respondo alguns. Rotina adotada, desde que me aposentei, e fiquei sem muito o que fazer. Daí a inquietação com que encaro o meu dia a dia, escrevendo, pintando as minhas telas, e assistindo futebol, quando passa um bom jogo, ou filmes de aventuras, e ficção científica, que me instigam. Nada muito emocionante, pois a vida já me trouxe muitas emoções, e reservou uma velhice calma, para o final dos meus dias. Hoje, especialmente, encontrei uma coletânea de MPB, dos anos 60 e 70, ou seja, no verdor da minha juventude, quando saí menino daqui de Ilhéus, e fui estudar na Capital, buscando uma vaga na Faculdade de Arquitetura, como muitos contemporâneos fizeram, com propósitos semelhantes, de concretizarmos os nossos sonhos de futuro. Tempos difíceis, em plena efervescência dos atos institucionais, geradores de fortes movimentos estudantis nos quais, como sempre, na vanguarda dos protestos, travávamos batalhas campais, enfrentando a polícia, braço forte da repressão.

Participei de muitas escaramuças, aspirei gás lacrimogêneo, e cuidei de sobreviver, correndo quando necessário. Vi companheiros de jornadas serem espancados, levando bordoadas dos soldados, sangrando pelo corpo, e pela alma, com a desesperadora sensação de impotência, que nos acometia, ao vê-los capturados, pois intuíamos que nunca mais seriam vistos. E assim foi, com muitos deles. Disso tudo, ficaram as amargas lembranças que me acompanham pelos meus dias, mas também a consolidação de fortes amizades, muitas das quais perduraram até os dias de hoje, transcorridos tantos anos. Assim é que ouço, em meio às músicas da coletânea, a épica canção do Geraldo Vandré, Prá Não Dizer Que Não Falei De Flores, que se tornou um verdadeiro hino da nossa geração. Até hoje guardo o pequeno Copacto (como eram chamados os pequenos discos de trabalho dos cantores), rapidamente retirado do mercado pelas forças repressivas, pois foi considerada subversiva pelos governantes militares. Mas eu logrei adquiri-lo, e guardá-lo, junto a outras lembranças. Ouvi-la então, me traz uma imensa saudade daqueles tempos aventureiros, e quase sempre algumas lágrimas teimam em rolar pela minha face. Mas não ficou apenas com ela. Outras músicas foram tocadas, e tocaram o meu “coração de estudante” dos anos 60, principalmente. “Como Nossos Pais” do Belchior, na voz saudosa da Elis Regina, trouxe-me de volta à realidade, com a energia transmitida pela sua extraordinária interpretação, e cada vez mais melancólico, fico a me perguntar, à luz da atual situação política do nosso país, se realmente valeram à pena, aqueles dias. Olho para trás, e encontro o idealismo vigente entre aqueles companheiros, que a qualquer custo queriam mudar o país, mudar o mundo, sei lá… E hoje, o que temos?

A comparação é estarrecedora, quando vemos nos noticiários, jovens queimando a nossa bandeira, enquanto outros empunham estranhos símbolos, desenham nos muros e nos seus corpos, frases absurdas, e pregam a libertação de um ídolo de barro, que construiu uma trajetória de encantamento, iludindo aos que o elegeram, privilegiando seus amigos e parceiros, enquanto enchia as burras de dinheiro, distribuído entre os seus diletos e arrogantes filhos. A grana surrupiada, espalhada em paraísos fiscais, ou transformados em bens patrimoniais, como apartamentos, sítios, dentre outros, e nos fazem falta. Muita falta.

1 resposta para “AS MÚSICAS DAQUELES TEMPOS”

Deixe uma resposta para heraldo faskomyde sa





















WebtivaHOSTING // webtiva.com . Webdesign da Bahia