:: 4/abr/2025 . 19:44
UFSB Ciência: Artigo na Nature conclui que grandes áreas florestais garantem maior biodiversidade que fragmentos menores

Em um artigo publicado na recente edição da revista Nature, cientistas reuniram evidências de que florestas mais extensas proporcionam maior quantidade e variedade de espécies na comparação com fragmentos florestais. A conclusão importa porque pode resolver uma discussão de décadas no âmbito das Ciências Ambientais. Além disso, os resultados reforçam a necessidade de criar e fazer valer leis e políticas públicas que promovam a preservação de grandes extensões de mata e a reconexão de fragmentos menores para o cuidado com a biodiversidade e o acesso aos serviços ecossistêmicos que ela oferece. A pesquisa tem entre seus autores o professor Luiz Fernando Magnago, da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB).
O estudo intitulado Species turnover does not recover biodiversity in fragmented landscapes foi liderado pelo biólogo Thiago Gonçalves-Souza e aborda um debate entre vertentes de pesquisadores preocupados com estratégias de conservação de biodiversidade. Diante da crescente urbanização e do avanço de monoculturas sobre áreas de floresta nativa, uma ala se voltou para o que seria possível preservar de biodiversidade em fragmentos florestais, o que gerou conhecimento sobre os efeitos da fragmentação. Outra ala focalizou a relevância da preservação de contínuas e extensas áreas de floresta para a manutenção da variedade de espécies animais e vegetais. Assim, há estudos anteriores que mostram que a fragmentação reduz a diversidade local (α) devido à perda de habitat, isolamento de populações e efeitos de borda. Outras pesquisas anteriores sugerem que a diversidade β (beta, a diferença entre comunidades em fragmentos) pode aumentar em paisagens fragmentadas, compensando a perda de α (alfa, a diversidade de espécies em um fragmento) e mantendo a diversidade γ (gama, a diversidade total da paisagem).
Essa discussão fomentou uma série de pesquisas ao longo dos anos, permitindo o acúmulo de dados que podem ser analisados com recursos computacionais. Essa foi a intenção do artigo publicado: uma meta-análise computacional com dados coletados e tratados de 37 estudos em seis continentes, a maior parte (64%) realizada na América Latina. A amostragem compreendeu dados daqueles estudos referentes a 4.006 espécies (33 anfíbios/répteis, 162 aves, 227 mamíferos, 1.859 invertebrados, 1.725 plantas) e estabeleceu uma comparação entre paisagens contínuas (florestas extensas, entre mil e 300 mil hectares) e fragmentadas (média de 148 hectares por fragmento). Para trabalhar a partir dos dados das 37 pesquisas anteriores, os pesquisadores trabalharam com o programa R e o banco de dados aberto e global LandFrag, padronizando a diversidade padrão nas escalas alfa, beta e gama e equalizando o esforço amostral entre fragmentos, dentre outras providências metodológicas.
As conclusões informam que a fragmentação florestal é ruim para a biodiversidade em todas as escalas, mesmo no nível beta, que não é suficiente para compensar a perda de espécies na paisagem total. A diversidade no nível local se reduz em 13,6% em paisagens fragmentadas; quando considerados fragmentos distantes entre si, há um pequeno aumento de biodiversidade, mas o efeito desaparece quando se controla a decadência da similaridade com a distância entre fragmentos, e mesmo assim, se mostrou insuficiente para compensar a queda de 12,1% de variedade de espécies na escala da paisagem total (gama) quando ocorre fragmentação. Os resultados da síntese global feita pelos pesquisadores foram tema de matéria na revista Fapesp.
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