Paulo de Oliveira em: MEMÓRIAS DO FUSQUINHA DE JAPONÊS.
Não tem mais retrocesso, Japonês está decidido. Após completar bodas de ouro dirigindo o mesmo carro da Volkswagen, o Fusca, infelizmente chegou o triste momento da despedida. Lamentável!
Mesmo sendo aquele tipo fechado às emoções, durão como dizem os amigos, está complicado para o nosso amigo Eduardo Japonês abandonar o seu companheiro de longas datas.
Eduardo já comprou um carro novo da Fiat. Um espetáculo! Ele planeja tomar algumas aulas de pilotagem numa autoescola da cidade, para se acostumar com o novo veículo espaçoso, que possui câmbio automático, direção hidráulica, bancos de couro, ar condicionado, injeção eletrônica, freios ABS, airbag duplo, computador de bordo, GPS, pneus radiais e rodas de liga leve, que mete inveja a qualquer carro da Mac Laren.
Porém, dirigir esse carro contemporâneo não é o principal problema de Eduardo Japonês. Vocês imaginam por quê?
Japonês deu à louca, trancou seu carro novo na garagem, porque o seu velho fusca está deprimido e enciumado. O Fusca já ameaçou se jogar da ponte Ilhéus – Pontal, e por duas vezes tentou amassar seu Fiat novo e foi contido por Anselmo, que energicamente impediu a prática das “Vias de Fato” do fusca contra o seu rival moderninho.
Por causa dessa situação, Japonês encontra-se com o coração partido. Dividido, ele não consegue conter as lágrimas só de imaginar o olhar melancólico do seu fusquinha implorando e dizendo constantemente para ele:
– Fica comigo, fica?
O fusquinha continua falando sem parar e só Japonês consegue ouvi-lo dizer:
– Eu conheço todos os seus gostos e manias, conheço todos os seus amigos e paradas onde tu costumas beber uma cervejinha gelada, bater babinha na praia aos domingos e jogar conversa fora.
– Por vários anos, na AFC, você me estacionava sempre de frente para o campo de futebol Society só para eu te ver jogar na lateral esquerda. Lembra? Todo mundo sabe disso. Nem me importava com as boladas que tomava daqueles pernas-de-pau invejosos!
– Eu ficava divagando nos meus pensamentos quando você ia jogar o baba da praia e me deixava ali no estacionamento tomando sol e chuva. Nesses instantes de solidão, eu relembrava dos passes mágicos que você dava para Arthur fazer seus belos gols, dos dribles secos e desconcertantes, inclusive em Carlota. Poxa! Eu dizia orgulhoso, meu amigo Japonês é o maior lateral esquerdo que já vi jogar na AFC, no Bahia do professor Antônio Sebica, na liga de Coxó, cujo massagista era o velho Dú! Inclusive, comparo o seu futebol com o antigo craque do Botafogo e da Seleção Brasileira – o professor Nilton Santos, nos seus dias de glória e muito superior ao do seu Tio Dominguinhos. Por outro lado, a imprensa falada e escrita comenta que o único gol que você fez na vida futebolística foi em cima de Rogério. Os invejosos de plantão dizem que ele deixou, e, eu bem sei que você sempre foi um lateral “atacativo”.
Seu fusquinha não para de tagarelar no seu ouvido.
-E aí Japonês! Você vai ter coragem de me vender? Fica comigo vai! Qual é o valor afinal dessa nossa convivência? Desses nossos segredos? Das noites que, incansavelmente, percorríamos a nossa querida Ilhéus, fazendo um city tour pelo Vilelinha de açúcar, Malhadinho de mel, Nossa Senhora da Vitória e tantas outras. Nós compartilhávamos segredos e mesmo quando você, que “dificilmente” se zangava, dava aquelas freadas bruscas ou arrancava rapidamente, eu nunca reclamei. Como afinal você avalia isso?
– Ah! Quantas vezes eu tive que voltar para o lar, tanto durante a noite ou dia, levando você que estava sentindo-se mal e não podia dirigir. Nunca utilizei o GPS nem o satélite, mas sempre andava devagar e te balançando como se fora um bebê.
– Lembra você que, há muitos anos atrás, eu era vermelho? Lembra-se disso? Seus colegas diziam: – Esse carro é de flamenguista! – E nós somos vascaínos roxos até morrer. Eu detestava essa gozação, porque você me olhava meio atravessado e não dizia nada. Pois bem, o Vascão perdeu pro Urubu 1×0. Dia seguinte você acordou de ressaca, arregalou os olhos para mim e falou:
– Esse carro está feio demais, eu vou dar um jeito nisso!
– Pronto! Eu fiquei rosa choque, com o escapamento entupido e vazando óleo por uma semana só de imaginar o que você quis dizer com aquilo. Senti-me uma sucata velha, vira folha e descartável.
– Daí você me levou numa oficina, lá dentro conversou com o mecânico, me encarou na saída, balançou negativamente a cabeça e foi embora.
– Poxa! Você não imagina a angustia que eu senti. – Pensei. Será que o velho Japa tá zangado comigo e vai me abandonar aqui? Será que vou virar ferro velho?
– Fiquei três dias no mesmo lugar, daquela oficina, vendo os carros ser desmontados, sem saber o que iriam fazer comigo. De repente o mecânico se aproximou, abriu meu capô e desligou meu sistema elétrico. Meu, eu apaguei legal!
– Depois de um lapso de tempo acordei, fui recobrando os sentidos elétricos, de repente, olha quem eu vejo me observando com o sorriso largo de satisfação? Era você, meu amigo Japonês! Eu estava completamente reformado, reluzente, de pintura nova, com outra cor, novo sistema elétrico, borrachas, bancos, amortecedores e pneus, tudo novinho! Que emoção, não foi? – A gente passou no posto e pela primeira vez você pôs gasolina azul no meu tanque. Saímos para dar voltas e mais voltas pela cidade, enquanto você me exibia pros seus amigos. Isso foi massa!
– Maneiro! Enchi-me de vaidade, estufei meu capô e nós saímos buzinando pras gatinhas.
– E aí Japonês! Você vai ficar assim calado sem me dizer nada?
– Saiba você. Eu lembro-me muito bem! Que alguns meses depois dessa reforma geral, a gente estava no Cururupe e, quando vínhamos de volta para o Centro, me deu um apagão total, fiquei todo travado e não saia do lugar por nada! Já era madrugada, você me xingou muito e pensou que eu estava de birra. Você chamou Anselmo, ele já estava dormindo e mesmo assim veio nos socorrer. Tio Anselmo descobriu que você esquecera-se de colocar óleo no meu motor. O óleo secou até a última gota. Ele disse que meu motor estava batido. Ele te deu uma bronca enorme. Lembra? Quantas vezes eu reclamei no mostrador de temperatura e você nem me deu importância? Você ficou chateado e eu desesperado quando Anselmo disse:
– Já era cara, só outro!
– Ai, ai, ai! Dali eu fui rebocado para uma oficina e você mandou tirar meu motor. Pronto, pensei, vou virar sucata. Fiquei muitos dias apagado.
– Num belo dia de sol acordei com um motor novinho roncando macio! Você gastou uma grana preta! Recuperei-me do susto e ficamos de boa novamente. Saiba que fiquei muito orgulhoso com seu gesto. Viu meu amigo Japonês?
– A gente foi no posto e novamente você me surpreendeu! Encheu meu tanque com gasolina aditivada. Pô meu! Senti-me um garotão, foi como se eu tivesse tomado um RedBull, com guaraná em pó e açaí, ou um Viagra! Eu queria correr além dos 100 km/h e você não passava dos 40, como de costume. Bip, bip! Fazer o quê né?
– Naquela mesma semana, a gente deu carona para um pessoal. Pô meu foi uma aventura e tanto! Você não queria ir porque o lugar era boca quente, havia conflito de gangs naquele bairro. Já era mais de uma hora da manhã e não tinha mais ônibus. Seu coração amoleceu e você foi assim mesmo. Deixou o pessoal lá e viemos de volta. Você vinha a 30 por hora, de repente, ao longe, antes de uma curva, ouvimos um tiroteio, você disse e agora? Parou, desligou os faróis, esperou um pouquinho, aí passaram dois carros a toda velocidade por nós, você deixou a coisa acalmar e seguimos em frente. Adiante tinha dois caras baleados e um grupo de mal encarados ao redor. A gente foi devagarinho, de vidros fechados, aí bateram na minha chaparia pedindo para a gente socorrer os caras. Num segundo você engatou as marchas e arrancamos a toda velocidade. Os caras abriram fogo na gente. Você pisou fundo iupiiiii! Você que nunca passou dos 60Km, pela primeira vez você correu a 140Km/h. Eu me tremia todo, mas segurei o tranco! Nossa foi muita bala em cima da gente! Não sofremos nenhum arranhão. Os policiais nos abordaram. Contamos nossa aventura e fizemos a ocorrência. Eles perguntaram se eu era blindado, por que àqueles caras só tinham armas de grosso calibre. Se você não trocasse meu motor, né Japa? A gente tinha virado peneira.
– Tá vendo Japonês, a gente tem história pra caramba!
– Me ouça Japa, você me conhece de olhos fechados, você vai me trocar por esse carro moderninho metido a besta?
– E aí Japonês, fica comigo vai! Você não gosta mais de mim?
– Eu sei que sou um carro velho e rabugento, já passamos muitos momentos juntos.
– Um dia você me salvou. Lembra?
– Depois que demos carona para uns seus colegas Rodela e Carlinhos. Um deles, Carlinhos Caicai, estava fumando, ele deixou cair uma baga de cigarro no meu banco de couro traseiro, ninguém viu nada, tava todo mundo bebaço. Você me deixou na garagem e brucutu na cama, nem tomou banho.
– Você acordou com seu filho gritando:
– Pai, pai! Paiiiii acorda! O carro tá pegando fogo!
– Ufa! Foi um corre, corre danado!
– Você conseguiu apagar o fogo. Só estragou o banco traseiro. Você me consertou rapidinho tá lembrado?
– Sabe Japa! Em todos esses anos a gente só teve um acidente, não é mesmo? A gente não ultrapassava o perímetro entre Iguape e Cururupe, às vezes, no máximo, a gente só ia até a Stac ou Mamoan.
– Quando andamos pelas ruas os guardas nem param mais a gente!
– Tio Rogério disse que dá muito trabalho pros guardas conferirem os documentos, porque eu tenho vários registros, um original, um quando mudei de cor, outro quando troquei o motor e outro quando troquei o chassi.
– Falando em Chassi! Lembra-se daquele incrível dia de aventura que tivemos, quando após passarmos o dia indo de “farmácia em farmácia tomando remédio” entramos noite adentro. Eu nunca reclamei! E no alvorecer do dia quando, na Avenida Ubaitaba, nas imediações da Serraria Master, aquele irresponsável poste, completamente bêbado, no meio da rua, indo, ora pra direita, ora pra esquerda, eu fazendo manobras bruscas e você nem percebeu, até que o poste veio e colidiu comigo. Eu o protegi. Você não teve nem um arranhãozinho. Não quero alegar, mas ouso indagar. Não me sacrifiquei para sua segurança? Isso não é fraternidade? Lembra que as consequências foram dois anos no estaleiro recuperando-me das inúmeras fraturas expostas. Eu nunca reclamei!
E o tio Heckel, hem? Quantas vezes vocês saiam para passear, tomar um “sorvete” e falavam do Bloco Chupa Rindo, dos babas que jogaram e do futebol de Januário que lembra muito o de Franz Beckenbauer. Eu nunca o desmenti, sempre permaneci calado! Quanto custa isso? Quanto custa o meu sentimento?
– Japonês! Eu já gastei o meu latim com você, veja lá o que você vai fazer comigo, viu?
– Pergunte a Itamar, a França, a Rabat, a Waldemar, a Marcos Muriçoca e tantos outros fusca maníacos, se eles pretendem vender meus primos fusquinhas? – Claro que vão dizer NÃO! Eles são loucos, tudo bem, mas não a esse ponto!
– Mas, Se você for me vender, pelo menos escolha alguém que ama os românticos fusquinhas!
– Àqueles, onde nos seus pés ainda cabem um sapato, ou melhor, um pedal velho!
– Ai eu vou chorar! Lembrei-me daquele refrão da musica do grupo Roupa Nova, que tocava no meu radinho, e nós curtíamos juntos:
“Você lembra, lembra? Naquele tempo eu tinha estrela nos olhos e um jeito de herói, era mais forte e veloz que qualquer mocinho de cowboy. É! Talvez eu seja simplesmente como um sapato velho, mas ainda sirvo se você quiser, basta você me calçar que eu aqueço o frio dos seus pés…”. – Te amo Japa!

Com esse papo cabeça e o melodrama do seu fusquinha, ficou difícil para Japonês convencer seu companheiro de que chegou à hora dele tomar rumo numa nova estrada, com outro dono. Japonês fincou um preço, a negociar, de $5.000,00. Vamos esperar para ver o desfecho dessa história. Dê seu palpite, comente o que Japonês deve fazer ou dê o melhor lance para adquirir esse fusquinha inteligente e maneiro.
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(Essa estória é fictícia, qualquer semelhança com fatos reais é mera coincidência).
























































Esse Paulinho não tem jeito. Vá fazer chantagem emocional assim adiante!
E aposto que Japonês não vai vender o fusquinha.
Abraços.
Como este fusca é realmente uma reliquia, aconselharia ao nosso Japa não vende-lo. Para mim um museu seria o lugar mais adequado para colocá-lo, junto com este diálogo porreta. Assim as novas gerações que gostam de automóveis iriam curtir a história do “fusca de Japonês”.
Rapaz eu quase chorei com essa estória. Jopones você vai vender seu fusca, agora ele é FAMOSISSIMO!
Acho que a gente deve doar R$1,00 cada um para Japones cuidar do seu fusquinha invocado.
Parabens Japonês, não desista do seu sonho você é um fusca maniaco.
Paulinho, vc foi muito feliz com êsse comentário. O grande problema é que ele terá que fazer um novo teste junto ao Detran para dirigir um outro veículo, pois todos nós sabemos que ele só sabe dirigir Fusca, e aquele dele.
M. Vinícius
To quase comprando o fusca de Japones só pra não ve-lo sofrer (ofusca) ! Que triste esse post.
Gilvania
O brimo Elias Medaur-CEF, comprou um gol zerinho, mas o fusquinha mandou reformar e não tem preço para venda.Ora sai de manhã para levar a esposa no colégio no gol, mas para o trabalho duro do dia a dia, o fusquinha é que aguenta os trancos.Também já tive o meu fuscão 1500 vermelho 1975 que me acompanhou por 20 anos e junto rodamos mais de 250 mil km, sem precisar fazer o motor, era só galolina,pneus,óleo e batéria o gastos que tive com com o velho fusquinha.Foi uma dor danada no coração quando troquei o fusca pela passat.
Melck Rabelo
Estou impressionado com essa relação entre o fusca e o lateral Japonês. Confesso que fui às lágrimas de tanta emoção, principalmente, por não saber que essa relação era tão duradoura e envolvia tanto sentimento.Prezado Japa, admito que estou solidarizando-me com o fusca.Rogério Midlej
colega Japonês
O pior de tudo é que eu nunca vi este fusca…será o Lombardi!!!!!!!!!!!!!!
De qualquer maneira não venda esta relíquia.
Um abraço
Rezende
Olha depois de ler este relato, eu não teria coragem de vendê-lo não. Afinal de contas há uma grande cumplicidade entre os dois. Japa, se liga ! aonde é que tú vai encontrar amizade como esta ? Se vc vendê-lo será execrado pela turma da AFC, podes até receber umas rebordosas. Olha que o fusca sabe de muitos segredos, e se ele resolve falar….aiaiai.
Jackson Adami disse.
É amigo japa com todo esse conhecimento sobre sua pessoa fica bastante perigoso o afastamento dessa convivência de tantos anos.
Já pensou quanto tempo o outro aprenderá o caminho da pedras, aonde tem as melhores cervas geladas, o ponto dos amigos boa prosa. Pois é amizade é como vinho, quanto mais velho melhor. Além do mais ele é o principal dedo duro. Nâo adianta se esconder que nós lhe achamos.
Este fusca é a amante sincera, não gostará de pousar em outros braços.
Eu conheci o pobrezinho.. ele parece ate com o meu vizinho Fuscahabat que sempre fica piscando o farol pras menininas aqui da rua!! rs
Se tio japa, nobre vascaino permitir, eu adoto o fusquinha e transformo ele no meu transportador de vascainos! Seria uma farra e tanto!!!!!
kkkkkkkkk
Notícia de 5 minutos atrás!
Soubemos que um pretendente pagou uma quantia alta pelo fusquinha,sem que o japa rejeitasse a proposta e após a concretização o didin na mão e o fusquinha saindo com o novo dono,o velho japa entrou em pânico e desmaiou.O SAMU foi chamado e o levou para o hospital,onde foi medicado com tranquilizantes, e no momento encontra-se na sua residência e passa bem,porém a transação foi desfeita e o pretendente saiu retado.Outra informação oportuna,é que o nosso japa já foi agraciado pela sorte que esse fusquinha lhe deu com 32 acertos no jogo do bicho com o milhar da placa do referido.Oh Japa fica com ele fica!
Rss
Éee amigo, JAPA, a coisa é seria e o mesmo que largar a raparica que adoramos, mas a tecnologia chegou e e hora de mudar de caranga, se seu fusca falasse com certeza ele iria chorar… Mas se vender que seja para alquem que saiba cuidar do bichinho!
Boa sorte!
E a mão de vaca heinn!!!! Não vamos esquecer quantos anos de mão de vaca Lombard (o fusquinha) possui… um marco na história do malhadinho de mel.
Valeu Japa!
Quantas reformas, quanto tombos e ele (O FUSCA) sempre lá!
Depois de tanto sol e chuva, acredito e ele vá pra dentro de uma garagem
e o FIAT vai ser colocado a prova (SOL E CHUVA)
rsrs