Cheguei a alcançar o finzinho do tempo em que as greves eram proibidas e a opressão corria solta. O atual governador do estado viveu ativamente aqueles tempos, em defesa da democracia e das liberdades individuais. Hoje está do lado oposto. Coisas do destino.
É de orgulhar qualquer trabalhador mal pago, que viveu ou não aquela época, a forma organizada, coesa e estratégica com que os policiais militares vêem conduzindo sua greve, escolhendo cuidadosamente o período sutil e delicado do verão/carnaval, ocupando a Assembléia, que é do povo, e obtendo altíssimo índice de adesão da classe. Não são baderneiros, são trabalhadores que arriscam a vida por muito pouco e estão tentando conquistar melhorias.
No início, o governo tentou difundir a notícia de “greve parcial”, mas não colou. O resultado aí está. Os PM’s não arredam pé de receber a GAP já, no que estão corretíssimos, após anos e anos de enrolação (espero que mantenham o pulso firme nesse pleito).
Uma semana pro carnaval e, no ofício da condução e monitoramento de milhões de pessoas nas ruas de Salvador, ninguém melhor do que os policiais militares, com todo respeito às demais forças armadas que fariam a segurança no caso de persistência da greve.
Torçamos para que o governo do estado assine a fatura e ponha logo fim à contenda, sem a velha história de postergar o pagamento, alegando falta de verba, empurrando pra nove meses o problema que tem que resolver agora. Lembremos que o governo federal está com o cofre cheio e 170 milhões de reais é um trocado, comparado ao que concedeu recentemente ao FMI. O governo federal pode, sim, financiar.
A solução existe, porque dinheiro existe. O problema é político. É o efeito dominó que essa greve, se bem sucedida, causará em todas as polícias, de todo o país. Ainda mais em ano eleitoral…

Nilson Pessoa
Ilhéus/Ba.