Numa cidade bem pequena que deixamos citar o nome, existia um agricultor que gostava muito de receber visitas para jogar conversa fora, como ele mesmo dizia.
Certo dia um doutor, foi até lá a convite do dito homem. Mas para chegar até a fazenda tinha necessidade de passar por uma cancela. O doutor subiu no lombo de um cavalo manso, e seguiu viagem ao encontro do tal fazendeiro.
Quando se aproximava da cancela ficou meio preocupado, pois ele era meio gordinho e teria que descer do cavalo para abri-la ou pedir a algum trabalhador rural, visando ter passagem e seguir viagem.
De repente, o doutor ficou mais animado porque viu aproximar-se dele um trabalhador rural, velho, de chapéu de couro, porém, de cara feia.
– O doutor disse: negro velho abra essa cancela ai que eu quero passar.
– O trabalhador: quem é o senhor, nunca vi por essas bandas?
– O doutor continuou: eu sou doutor e vou para fazenda do coronel.
– O trabalhador: o que é doutor, respondeu o velho na sua ignorância?
– O doutor respondeu: vamos homem, abre logo, doutor é um homem que estuda as leis e sabe de tudo!
– O trabalhador retrucou contrariado, achando que aquele homem estava lhe tratando mal e ficou com raiva, imaginando que tinha recebido ordens, e assim respondeu: se o senhor é doutor e sabe de tudo, não precisa das outras pessoas, abre sua cancela e passe logo, eu vou cuidar das minhas tarefas na roça do meu patrão.
A humildade não faz mal a ninguém, apenas torna o homem justo, nivelando o seu poder de dar e receber benefícios iguais.O velho trabalhador rural não recebeu inicialmente um “bom dia”! Faltou ao homem que se dizia doutor, pedir, por favor, o que queria do outro ser humano. A intransigência dificulta a união entre os seres humanos, e demonstra falta de solidariedade no respeito obrigatório de forma recíproca.

—
Eduardo Afonso