Fui numa elegante clínica do centro da cidade e, por esperar quarenta minutos pelo atendimento do dermatologista, quase tive que trocar de  consultório e procurar o otorrino, devido à dor de ouvidos provocada pela zueira do salão de espera. Muitas funcionárias  se comunicavam, à distancia, aos gritos, exemplo seguido pelas suas amigas que ali apareciam para o bate-papo e por alguns clientes que, também, não leram os pequenos avisos pedindo silêncio no local. Ali, só a TV ligada e alguns pacientes não faziam barulho.

Infelizmente, em alguns setores, ainda vivemos perto da Idade da Pedra.

1) Tabaréus exibicionistas com alto-falantes nos seus carros circulando, pela madrugada, nas ruas de zonas residenciais ou barraqueiros de capeta com o som-ambiente em altura de quase furar o tímpano dos seus clientes pinguços e dos eventuais passantes.

2) Uma loja numa esquina do Calçadão Pedro II, por exemplo, emprega um ser humano sem a menor condição de atender ao público, ligando aparelhos de som no limite máximo do volume e, depois, tocando com toda garra um sinão de bronze para avisar uma boa venda. Quando se cansa deste esforço, o ser humano se senta, ou melhor, se refastela, se sacodindo numa cadeira giratória, com as pernas esticadas à frente e bem separadas, deixando um palmo da sua  barriga balofa de fora e mostrando o seu rombudo umbigo. Êta, Bahia… O gerente local, um jovem e esclarecido capixaba, disse que nas suas primeiras semanas neste serviço, também se assustava com a gritaria ali corriqueira.

3) Agora, são os meus vizinhos evangélicos, pensando que Deus é surdo e cantando, a todos pulmões, seus louvores num microfone acoplado a uma caixa de som no seu volume máximo. A Festa do São João, os sinos das igrejas, os atabaques dos candomblés e o nefasto carnaval são eventuais. No caso dos meus vizinhos, a agressão é diária, durante o dia e durante o inicio da noite, na hora que muitos precisam do descanso físico e mental pelo seu dia de trabalho realizado.

Quem desrespeita e agride o seu próximo, desta maneira, pode ser, na verdade, pessoas com baixíssima auto-estima e necessidade de afirmação e que encontram, neste ato incivil, uma forma de se auto-afirmarem, de se sentirem poderosos.

É claro que os costumes humanos variam no tempo e no espaço. Na Turquia, por exemplo, onde se consume a maior quantidade de sal por pessoa/dia no planeta (18g!!!), se fala baixíssimo, em todos os seus estamentos sociais. Aqui na nossa Bahia, infelizmente, é esta catástrofe.

Vamos imitar os turcos no seu respeito aos ouvidos alheios e lembrarmos sempre que Deus não é surdo, que ouve as nossas orações sejam em voz baixa, em murmúrios ou em silêncio.