por Guilherme Albagli

Cadeirinha de pompom
come carne com feijão
Sexta-feira da Paixão
arreia Maria a cadeira no chão…

Qual a idéia central desta antiga rima infantil?

O disparate de se comer carne e feijão na Sexta-feira Santa.
Pois é: antigamente, na quaresma – os quarenta dias que antecedem a sexta-feira maior-, era exigido aos católicos a total abstinência da carne;  passado o tempo, ou com pena dos fiéis ou por perceber alguma dificuldade no cumprimento deste preceito, a Igreja liberou tal proibição, permitindo o consumo do peixe, alimento mais “fraco” que a carne vermelha.

Mais tempo passado, o peixe e os mariscos passaram a ser parte integral da festa e hoje, quem ainda cumpre o “jejum” acha que deve comer obrigatoriamente peixe neste dia de luto pelo assassinato de Yeshua Ben-Yossef, o Rabino de Nazaré.

O álcool, também, era proibido, neste dia, sendo apenas o vinho permitido.

Hoje, o sentido da festa mudou largamente, se vendo nas mesas uma coleção de iguarias afro-baianas que, talvez, exijam mais tempo para digestão que a carne vermelha.

Antes associada a esta festa-triste, cor rôxa, predominante nas  procissões exibindo réplica em tamanho real do Senhor Morto, cheio de sangue, contusões, coroa de espinhos e cabelos humanos que assustavam as crianças, cedeu lugar à decoração carnavalesca que hoje se vê na Soares Lopes, coroando os estandes que  divulgam o trabalho dos artistas locais e do Governo da Bahia.

Quem quizer manter o espirito original da festa, então, deverá realmente jejuar, para enaltecer a tristeza pela crucifixação, permitindo a reflexão sobre as injustiças que ainda ocorrem e o nosso papel crucial em combatê-las.