JORGE VIEIRA / CEPLAC EM 30 ARTIGOS (VI)
REALIZAÇÕES E HISTÓRIA DA CEPLAC – 1957-2014
1985 – F I M D O P R O C A C A U
Estamos há quatro meses para terminar o maior e mais importante programa da CEPLAC. Diga-se de passagem, um dos grandes programas no setor agrícola brasileiro neste último decênio.
Aqui e acolá, alguns produtores, ainda sob a influência deste plano, plantam ou renovam cacauais. Na verdade, são poucos, comparados com aquela fase áurea, de entusiasmo e de condições econômicas e assistenciais favoráveis.
Durante todo o período, existiram os momentos de euforia, de apoio geral, de produtores, instituições e governo, de adeptos às práticas agrícolas e, consequentemente, um crescimento das áreas plantadas e renovadas; depois, os primeiros embates, as preocupações com as tendências dos preços internacionais, os questionamentos sobre a expansão na Amazônia, os insucessos, poucos, mas existentes, e a queda do ritmo e dedicação às atividades do plano.
A produtividade técnica decresceu, devido à escassez de recursos financeiros, dos elevados custos dos insumos, da queda dos preços e, porque não, da acomodação a um Plano, que foi no princípio, uma “Bandeira”, uma diretriz, um exemplo para o planejamento de instituições agrícolas. Foram, mais os fatores externos, os causadores deste declínio de “performance”, que os propósitos da instituição.
Apesar de tudo, foram plantados 232.804 hectares e renovados 40.615 hectares até dezembro de 1984; resta ainda, conferir os dados das atividades, neste ano tumultuado e carente de tudo, principalmente de recursos financeiros e seu custo.
E o Brasil, saltou de 234.000 toneladas (1976) de produção para 366.000 toneladas (1984/85), com expectativa de 500.000 toneladas em 1990, quando todas as áreas plantadas, neste período, estiverem produzindo. Apesar de todos os contratempos, as avaliações técnicas indicam um sucesso do programa e a oferta de benefícios para toda a economia do cacau.
Um grito de alerta foi dado em Maio/84. Era a promessa de um novo PROCACAU – o Procacau II. Nele, uma avaliação global dos principais problemas da economia cacaueira e uma projeção futura, de ações desejáveis para os produtores de cacau.
Foi uma chamada de atenção aos técnicos, dirigentes e líderes rurais, para as preocupações com o futuro, para a situação de problemas básicos, como a qualidade do cacau, o consumo de chocolate e a renovação de cacauais decadentes. Um pouco de discordância, incompreensões ou mesmo, “ciumada profissional” surgiram, mas, uma decisão firme da ex-administração ceplaqueana prevalecerá iniciando o NOVO PROCACAU.
Encerra-se assim, um plano decenal, criado, executado, elogiado e até, servido de anteparo e defesa, na conquista de recursos financeiros para a região cacaueira; salvador da CEPLAC, nas investidas políticas. Os benefícios estão aí, distribuídos por todas as regiões cacaueiras; diretos ou indiretos, os frutos apareceram, dando novo alento e novas esperanças para os produtores. Dentro dos propósitos definidos, o PROCACAU foi um êxito, uma vitória técnica, institucional e, especialmente, dos produtores que participaram.
O que faremos a partir de 1986?
Quais as metas e planos da CEPLAC ou do Brasil para o futuro, em termos de expansão da cultura do Cacau?
Continuaremos estimulando os agricultores a novos planos, em ritmo acelerado?
E a Amazônia, com seu potencial fabuloso para o desenvolvimento do cacau?
É preciso entender que a situação hoje, é bem diferente de 1975/76, época do nascimento do PROCACAU; e quando observamos isto, referimo-nos às condições internacionais e nacionais, com ênfase no campo regional e institucional.
Querer novamente agir, na base do “eu acho”, e com isto estimular a organização a desenvolver ações e planos, sem uma previsão das consequências econômico-sociais, não condiz com a responsabilidade e posição técnica da CEPLAC; desejar ver o Brasil como o maior produtor mundial de cacau, não é o mesmo, que vencer olimpíadas ou copa do mundo. O “maior”, neste caso, pode não ser o “melhor”, o mais eficiente, o que produz mais divisas e benefícios para aqueles que trabalham nesta sociedade cacaueira.
O certo é que, direcionar e quantificar as ações brasileiras e, neste caso, da CEPLAC, não é fácil, nem de caráter promocional. Representa uma gestão de estudos, análises, pesquisas e projeções da situação econômica, política e social dos países produtores, consumidores e suas relações com o Brasil.
Está aí, o Acordo Internacional do Cacau, com estimativas de produção e moagens, se entrelaçando, entre anos de superávit e anos de déficit. Está aí, este mesmo Acordo, com problemas operativos e políticos, que não permitem uma eficiência na estabilidade dos preços. Estão aí, a Costa do Marfim e Malásia, com um alto crescimento de produção e custos mais baixos.
Estão também, os problemas brasileiros, econômico e financeiro, que vão desde a carência de recursos para implantar cacauais até, ao não pagamento da contribuição ao Estoque Regulador do Acordo Internacional do Cacau.
Expandir a produção, quando a situação internacional é conflitante, de difícil obtenção de um novo Acordo, de perspectivas duvidosas para manutenção dos preços atuais e, internamente, uma carência de recursos e com reflexos na atividade técnica, torna-se uma decisão perigosa. Ao tomá-la, é preciso um embasamento técnico e de exato conhecimento da realidade e dos planos dos países produtores e consumidores. Requer uma decisão firme, técnica e política.
A tomada de decisão é, portanto, de grande importância e de alto peso econômico e social para as regiões produtoras e para o próprio país. Daí, ela deva ser tomada conscientemente e participativa por todas as autoridades e instituições, vinculadas à economia do cacau.
E o que estamos fazendo?
Desde janeiro de 1984 que, as preocupações com estes aspectos afloraram. Buscou-se sensibilizar a administração sobre a importância dos planos futuros, a necessidade do conhecimento “in loco” dos países concorrentes, da associação a instituições interessadas e, finalmente, a formação de um grupo técnico para delinear os estudos.
Uma missão técnica à Malásia, uma tentativa de missão à África, o levantamento de dados, a conscientização da nova administração e alguns documentos foram os primeiros passos . Pressionado pelo tempo e pelas dificuldades atuais, não será possível, um estudo, ao nível desejado, para uma instituição como a CEPLAC. Mas, ele virá, com um retrato da atual situação brasileira de produção e produtividade de cacau, do potencial de recursos disponíveis e das análises econômicas internacionais, norteando os nossos propósitos a partir de 1986.
Iremos recomendar novos plantios? Ou, apenas renovação de cacauais decadentes e aumento de produtividade, através de nova tecnologia?
Esta é a grande questão, a grande problemática que não é só da CEPLAC e sim, dos produtores, exportadores, industriais e órgãos governamentais. Quais as consequências de qualquer uma destas alternativas para o futuro? Quem será o responsável por esta decisão? O Conselho Deliberativo da CEPLAC ou um conjunto de dirigentes das instituições vinculadas a esta economia?
Estamos certo que, estas preocupações estarão presentes na mente de todos, os que têm sobre si, a responsabilidade de decidir e conduzir instituições vinculadas ao CACAU. Elas vivem diariamente sobre mim, como nos momentos de criação do PROCACAU em 1974/75. A crença que todas estas ideias se concretizem, é a aspiração que temos.
Brasília, DF – dezembro de 1985.
Jorge Raymundo Vieira, Eng. Agrônomo, MS – aposentado CEPLAC.
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