REALIZAÇÕES E HISTÓRIA DA CEPLAC – 1957-2014

 1985 – F I M  D O   P R O C A C A U

 

                    Estamos há quatro meses para terminar o maior e mais importante programa da CEPLAC.  Diga-se de passagem, um dos grandes programas no setor agrícola brasileiro neste último decênio.

Aqui e acolá, alguns produtores, ainda sob a influência deste plano, plantam ou renovam cacauais.  Na verdade, são poucos, comparados com aquela fase áurea, de entusiasmo e de condições econômicas e assistenciais favoráveis.

Durante todo o período, existiram os momentos de euforia, de apoio geral, de produtores, instituições e governo, de adeptos às práticas agrícolas e, consequentemente, um crescimento das áreas plantadas e renovadas;  depois, os primeiros embates, as preocupações com as tendências dos preços internacionais, os questionamentos sobre a expansão na Amazônia, os insucessos, poucos, mas existentes, e a queda do ritmo e dedicação às atividades do plano.

A produtividade técnica decresceu, devido à escassez de recursos financeiros, dos elevados custos dos insumos, da queda dos preços e, porque não, da acomodação a um Plano, que foi no princípio, uma “Bandeira”, uma diretriz, um exemplo para o planejamento de instituições agrícolas.  Foram, mais os fatores externos, os causadores deste declínio de “performance”, que os propósitos da instituição.

Apesar de tudo, foram plantados 232.804 hectares e renovados 40.615 hectares até dezembro de 1984; resta ainda, conferir os dados das atividades, neste ano tumultuado e carente de tudo, principalmente de recursos financeiros e seu custo.

E o Brasil, saltou de 234.000 toneladas (1976) de produção para 366.000 toneladas (1984/85), com expectativa de 500.000 toneladas em 1990, quando todas as áreas plantadas, neste período, estiverem produzindo.  Apesar de todos os contratempos, as avaliações técnicas indicam um sucesso do programa e a oferta de benefícios para toda a economia do cacau.

Um grito de alerta foi dado em Maio/84.  Era a promessa de um novo PROCACAU – o Procacau II.  Nele, uma avaliação global dos principais problemas da economia cacaueira e uma projeção futura, de ações desejáveis para os produtores de cacau.

Foi uma chamada de atenção aos técnicos, dirigentes e líderes rurais, para as preocupações com o futuro, para a situação de problemas básicos, como a qualidade do cacau, o consumo de chocolate e a renovação de cacauais decadentes.  Um pouco de discordância, incompreensões ou mesmo, “ciumada profissional” surgiram, mas, uma decisão firme da ex-administração ceplaqueana prevalecerá iniciando o NOVO PROCACAU.

Encerra-se assim, um plano decenal, criado, executado, elogiado e até, servido de anteparo e defesa, na conquista de recursos financeiros para a região cacaueira; salvador da CEPLAC, nas investidas políticas.  Os benefícios estão aí, distribuídos por todas as regiões cacaueiras; diretos ou indiretos, os frutos apareceram, dando novo alento e novas esperanças para os produtores.  Dentro dos propósitos definidos, o PROCACAU foi um êxito, uma vitória técnica, institucional e, especialmente, dos produtores que participaram.

O que faremos a partir de 1986?

Quais as metas e planos da CEPLAC ou do Brasil para o futuro, em termos de expansão da cultura do Cacau?

Continuaremos estimulando os agricultores a novos planos, em ritmo acelerado?

E a Amazônia, com seu potencial fabuloso para o desenvolvimento do cacau?

É preciso entender que a situação hoje, é bem diferente de 1975/76, época do nascimento do PROCACAU; e quando observamos isto, referimo-nos às condições internacionais e nacionais, com ênfase no campo regional e institucional.

Querer novamente agir, na base do “eu acho”, e com isto estimular a organização a desenvolver ações e planos, sem uma previsão das consequências econômico-sociais, não condiz com a responsabilidade e posição técnica da CEPLAC; desejar ver o Brasil como o maior produtor mundial de cacau, não é o mesmo, que vencer olimpíadas ou copa do mundo.  O “maior”, neste caso, pode não ser o “melhor”, o mais eficiente, o que produz mais divisas e benefícios para aqueles que trabalham nesta sociedade cacaueira.

O certo é que, direcionar e quantificar as ações brasileiras e, neste caso, da CEPLAC, não é fácil, nem de caráter promocional.  Representa uma gestão de estudos, análises, pesquisas e projeções da situação econômica, política e social dos países produtores, consumidores e suas relações com o Brasil.

Está aí, o Acordo Internacional do Cacau, com estimativas de produção e moagens, se entrelaçando, entre anos de superávit e anos de déficit.  Está aí, este mesmo Acordo, com problemas operativos e políticos, que não permitem uma eficiência na estabilidade dos preços.  Estão aí, a Costa do Marfim e Malásia, com um alto crescimento de produção e custos mais baixos.

Estão também, os problemas brasileiros, econômico e financeiro, que vão desde a carência de recursos para implantar cacauais até, ao não pagamento da contribuição ao Estoque Regulador do Acordo Internacional do Cacau.

Expandir a produção, quando a situação internacional é conflitante, de difícil obtenção de um novo Acordo, de perspectivas duvidosas para manutenção dos preços atuais e, internamente, uma carência de recursos e com reflexos na atividade técnica, torna-se uma decisão perigosa.  Ao tomá-la, é preciso um embasamento técnico e de exato conhecimento da realidade e dos planos dos países produtores e consumidores.  Requer uma decisão firme, técnica e política.

A tomada de decisão é, portanto, de grande importância e de alto peso econômico e social para as regiões produtoras e para o próprio país.  Daí, ela deva ser tomada conscientemente e participativa por todas as autoridades e instituições, vinculadas à economia do cacau.

E o que estamos fazendo?

Desde janeiro de 1984 que, as preocupações com estes aspectos afloraram.  Buscou-se sensibilizar a administração sobre a importância dos planos futuros, a necessidade do conhecimento “in loco” dos países concorrentes, da associação a instituições interessadas e, finalmente, a formação de um grupo técnico para delinear os estudos.

Uma missão técnica à Malásia, uma tentativa de missão à África, o levantamento de dados, a conscientização da nova administração  e  alguns documentos  foram os primeiros passos .  Pressionado pelo tempo e pelas dificuldades atuais, não será possível, um estudo, ao nível desejado, para uma instituição como a CEPLAC.  Mas, ele virá, com um retrato da atual situação brasileira de produção e produtividade de cacau, do potencial de recursos disponíveis e das análises econômicas internacionais, norteando os nossos propósitos a partir de 1986.

Iremos recomendar novos plantios? Ou, apenas renovação de cacauais decadentes e aumento de produtividade, através de nova tecnologia?

Esta é a grande questão, a grande problemática que não é só da CEPLAC e sim, dos produtores, exportadores, industriais e órgãos governamentais.  Quais as consequências de qualquer uma destas alternativas para o futuro? Quem será o responsável por esta decisão? O Conselho Deliberativo da CEPLAC ou um conjunto de dirigentes das instituições vinculadas a esta economia?

Estamos certo que, estas preocupações estarão presentes na mente de todos, os que têm sobre si, a responsabilidade de decidir e conduzir instituições vinculadas ao CACAU.  Elas vivem diariamente sobre mim, como nos momentos de criação do PROCACAU em 1974/75.  A crença que todas estas ideias se concretizem, é a aspiração que temos.

   Brasília, DF – dezembro de 1985.

 Jorge Raymundo Vieira, Eng. Agrônomo, MS – aposentado CEPLAC.


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