O CACAUEIRO PEDE SOCORRO
Luiz Ferreira da Silva
Pesquisador da CEPLAC/Solos, aposentado.
luizferreira1937@gmail.com
O nosso livro- TRIBUTO À ANTIGA CEPLAC. INSTITIUIÇÃO AGRÍCOLA ÚNICA – é apenas um elo da cadeia CACAU. Não basta a sua revitalização que deve ser vista globalmente; entendendo – se a planta, quem labuta com a terra e quem dá suporte técnico. Ou seja: O CACAUEIRO, O CACAUICULTOR E A CEPLAC.
Neste contexto, a solução financeira do produtor de cacau vem em primeiro lugar, condição fundamental à sobrevivência da cacauicultura, pois sem a sua capitalização o cacaueiro pode entrar na lista de espécies em vias de extinção como o jacarandá ou o mico leão dourado. E a CEPLAC, seguir o mesmo caminho. AMBOS À REBOQUE.
Portanto, se o Brasil deseja ter chocolate, auferir dólares e distribuir rendas tem que imediatamente implantar um programa amplo em atendimento a esse tripé, sobretudo aos seus requerimentos financeiros. Afora disso, são remendos políticos que se rasgam constantemente.
Com a introdução da vassoura de bruxa, em maio 1989, o cacau baiano foi contaminado exponencialmente, cuja doença se expandiu rapidamente para todos os quadrantes da região do cacau no sul da Bahia. Isso devido a fatores altamente favoráveis para a propagação do microrganismo, tais como: áreas contínuas de extensas plantações envelhecidas; topografia fortemente ondulada, com altitude relativa de mais de 300 metros; temperatura declinante no inverno (é a zona de cacau mais fria do mundo) e rica densidade da rede hidrográfica.
A distribuição regular das chuvas ao longo do ano, sem períodos secos bem definidos, propicia os lançamentos contínuos de ramos e folhagem novos (flushing), o que é de excepcional favorecimento para a vassoura-de-bruxa.
A doença chegou ao sul da Bahia, numa hora desvantajosa, crítica mesmo, quando a cacauicultura se encontrava “quebrada”, debilitada e mergulhada em grave crise de produção. Os cacauais envelhecidos, sem condições de competitividade.
A região se empobreceu e, decorridos quase duas décadas, as dúvidas aumentam com relação ao seu controle eficaz, haja vista a falta de condições operacionais da CEPLAC, uma organização sem liderança técnica, antes um modelo eficaz; hoje, sem ânimos e sem recursos, provida de ingerência política insensata e incompetente, ademais da triste omissão de seus funcionários e da sociedade do cacau.
E, neste contexto, o “Theobroma” agoniza. Ele passa a ser prioridade; uma questão de sobrevivência do cultivo, que poderá desaparecer, constituindo-se no primeiro caso na história da agricultura brasileira.
Para reforçar essa premissa, basta se voltar a 1970 quando o café foi contaminado pela terrível ferrugem. Em menos de 10 anos a cafeicultura voltou ao seu patamar de produção, porque possuía instituições capazes de cuidar do cafeeiro, o que não está acontecendo com o cacaueiro.
Vale a pena contextualizar: o país tem uma dívida com o cacau, sejam pelo trabalho dos pioneiros e posteriores abnegados empreendedores e, principalmente, pelos muitos anos de manutenção da lavoura cacaueira a expensas de uma taxa contributiva, devendo ser vista como Patrimônio Nacional e deve ser “tombada” em termos pragmáticos.
Duas ações são vitais para a recuperação da lavoura cacaueira, que são interdependentes:
- 1. A implantação do PROCACAU-II, com base na experiência adquirida com o PROCACAU-I, que possibilitou expandir a lavoura sul baiana em 600 mil hectares e consolidar dois polos importantes na Amazônia (Rondônia/Ariquemes, Jaru e Ouro Preto) e no Pará (Transamazônica)
Nesta nova configuração, a Amazônia teria uma visão diferenciada, pela experiência e novos conhecimentos dos polos e, principalmente, por dispor de uma imensidão de terras mais baratas, providas de um potencial de solos férteis, profundos e produtivos, com um clima característico – período seco bem determinado, que viabiliza a convivência com a “vassoura-de-bruxa”, de forma mais econômica e, tendo como produtores, antigos “sem-terra”, que operam suas propriedades com a força de trabalho do conjunto familiar. Seria instituída uma meta de plantio de 250 mil hectares para os próximos 10 anos, bem acima dos 150 mil hectares propostos anteriormente.
No caso da reestruturação da economia cacaueira sul-baiana/capixaba, o enfoque seria a replantação dos velhos cacauais infectados com a vassoura-de-bruxa, estabelecendo-se uma meta de 300 mil hectares.
Em complemento, um adicional programa de erradicação das áreas “envassouradas”, fontes de contaminação dos novos plantios como salvaguarda futura.
- E, ademais, a revitalização da pesquisa, outra ação em concomitância e sine qua non, haja vista a necessidade de se dispor de uma nova base genética voltada à resistência clonal, que exige maciço investimento em recursos financeiros e, sobretudo, humanos, eivados de pesquisadores capacitados e em tempo integral.
Essa questão está a exigir outra CEPLAC que, para voltar a ser proficiente, deve levar tempo, haja vista se encontrar debilitada, com o agravante que mais de 65% do seu corpo funcional já recebem o adicional de pré-aposentadoria e outros tantos se descomprometeram, conforme reclamam os produtores de cacau.
Com ou sem CEPLAC, é urgente se implantar um PROJETO INTEGRADO DE PESQUISAS VOLTADO AO CONTROLE DA VASSOURA DE BRUXA, constituído de pesquisadores habilitados nas áreas do melhoramento genético, fisiologia vegetal, fitopatologia, fitotecnia e bioquímica, sob a coordenação de um líder de pesquisa.
Provavelmente, o Grupo seria alocado nas dependências da CEPLAC pela estrutura física existente, sobretudo de campo, absorvendo a massa crítica disponível que se incorporaria à Unidade com os pesquisadores de outras Instituições, todos eles ligados administrativamente às suas origens institucionais e funcionalmente ao Projeto Matricial.
Essa concepção de pesquisa integrada nada tem a ver com projetos disciplinares efetuados por Organizações em suas dependências, sobretudo como “encomendas”, que mais satisfazem à curiosidade científica e/ou a produção técnica para fins de melhoria curricular do pesquisador, inexistindo a concentração holística no problema.
Sob as asas do Ministério da Agricultura estão a CEPLAC e a EMBRAPA que já seriam duas fontes de pesquisadores, somando-se outras cabeças pensantes advindas de Instituições consentâneas.
Este projeto teria um mandato de 5 anos, prorrogável a mais 5, tempo em que se formariam pesquisadores capazes de recompor o grupo e seguir nas pesquisas sine die.
Para reforçar essa ideia, notadamente no caso de ter a sua factibilidade contestada, recorro ao Projeto Radam da década de 70.
Procedido ao levantamento radargramétrico da Amazônia, de interesse estratégico do Governo Brasileiro, foram recrutados de suas Instituições os mais gabaritados técnicos, que se estabeleceram em Belém na missão decenal de orientar, coordenar e até executar os mapeamentos climáticos, geológicos, hidrológicos, pedológicos, florestais, uso da terra, após o que todo o acervo foi absorvido pelo IBGE e continuado com os trabalhos em detalhamento com a equipe remanescente. Havia, assim, uma determinação política-institucional de interesse nacional.
O cacau pode muito bem ser assim visualizado. A questão, pois, está nas mãos do Governo Federal. O que o país almeja em ternos de cacau, há de se perguntar?
E cabe a sociedade cacaueira, entendendo-se o produtor, os organismos sindicais, os chocolateiros e outros afins, reivindicar tal comportamento do Estado Brasileiro.
Não há outro caminho, assim creio!
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Luiz Ferreira da Silva, 79, é natural de Coruripe, Al. Engenheiro Agrônomo pela UFRRJ (1962). Pós graduou-se em Foto-Pedologia (CIAF/Governo Holandês). Iniciou-se na CEPLAC em janeiro de 1963 e exerceu atividades de pesquisador/Solos, bem como gerenciais: Chefe da Divisão de Geociências, Diretor do Centro de Pesquisas do Cacau, Diretor da CEPLAC-Amazônia e Coordenador-Adjunto regional (BA). Publicou 75 trabalhos técnicos sobre Solos/Pedologia; Zoneamentos Agroecológicos, Levantamento de Recursos Naturais e Manejo de Solos. Também, um livro sobre os Solos da Região cacaueira; e quatro outros sobre solos tropicais, uso e manejo. Realizou diversas missões técnicas ao exterior, com destaque à África cacaueira (Costa do Marfim, Ghana e Nigéria) e ao Sudeste Asiático (Índia e Malásia). Participou de Grupos de Trabalho promovidos pela FAO, Universidade da Carolina do Norte e EMBRAPA. Aposentou-se em 1991 e passou a exercer atividades de consultorias às universidades e instituições agrícolas.
UM ALERTA
O CULTIVO DO CACAU PODE DESAPARECER DA BAHIA CONSUBSTANCIANDO CASO INÉDITO DA INCOMPETÊNCIA DA AGRICULTURA BRASILEIRA. SEM PRECEDENTES, POIS!
PENSEM NISSO!!!!!