Nesses dias, um jogador de futebol italiano se mostrou indignado ao saber que muitos brasileiros usam catchup na pizza. Essa polêmica é antiga.
Na Itália, nem pensar. Em São Paulo também não – embora no passado isso tenha sido bem mais rígido – mas até hoje muitas cantinas italianas tradicionais ainda se orgulham de não servir o condimento vilão. Curioso é que, na mesma São Paulo, se come cachorro quente com purê de batata, enquanto o original americano é (ou era) somente pão, salsicha, olhe lá uma mostardazinha e nada mais.
Trata-se de questão cultural, devemos entender. Até concordo que o costume seja sempre preservado no país de origem, inclusive pelos turistas, em sinal de respeito à cultura local. Fora isso, que a liberdade e a criatividade do paladar criem asas e decolem.
 O Brasil é um país imenso, diverso, acolheu e acolhe toda sorte de imigrantes de inúmeras nacionalidades, incorporando diferentes culturas em todas as áreas, sobretudo na gastronomia. É natural que surjam algumas adaptações ou variações.
Um exemplo claro, mas que passa despercebido, é o nosso famoso acarajé. Originário da África faz séculos, o bolinho era recheado apenas de pimenta a gosto e servido num pedaço de folha de bananeira em vez de papel. Com o passar do tempo, dentro e fora da Bahia foram introduzidas outras opções de recheios, as mais variadas, até mesmo salada e marisco catado. Dizia um conhecido historiador baiano que “o acarajé virou acarabúrguer”. Aliás, nada de estarrecedor se o nosso quitute se popularizasse nos Estados Unidos (ou Itália) é lá ganhasse o recheio de… picles.
Pra finalizar, pode ser que você não acredite, mas conheço alguém que adora estrogonofe com farinha de mandioca. Esquisito, inimaginável, mas é só pensar que gosto não se discute e pronto. Vida que segue e cada um na sua.
Nilson Pessoa