Luiz Ferreira da Silva, 85.

Pesquisador aposentado da CEPLAC

   (Foto: Paulo Cortizo, Empreendedor Rural diversificado)

Com a infestação da vassoura-de-bruxa, dizimando milhares de hectares e provocando muita miséria no sul da Bahia, não só abalando a economia regional quanto deixando mais de 200 mil trabalhadores desempregados, um esforço sem igual até então tem que ser despendido para revitalizar a cacauicultora.

A Bahia sempre manteve a supremacia da produção de cacau brasileiro, em cujo solo fértil de rochas do cristalino geológico, plantado sob a mata atlântica sul baiana, construiu uma economia importante para o país, originou uma história, emoldurou uma civilização

No entanto, a renovação é fundamental com novos plantios, utilizando uma mistura de clones, além de uma nova concepção de agricultura. Não mais a de baixos insumos, mas a de precisão, na busca de altas produtividades, como é a nova visão do agronegócio brasileiro.

O Sul da Bahia ainda terá a sua vez, mas novos polos cacaueiros terão que ser implementados, em regiões que permitam o uso de tecnologias avançadas e não mais com visão puramente ecológica, a exemplo da “cabruca” (cacau plantado sob matas raleadas).

Novos plantios com terra preparada, cacaueiros adensados com copas fazendo toldo, sem deixar o sol chegar ao solo. Adubo nas covas, adredemente preparadas, fertirrigação, proteção fitossanitária. A pleno sol e utilização de maquinário agrícola.

Produtividades que podem chegar a 200 arrobas por hectare e nova concepção de renovação da lavoura; a cada 35 anos, com novos materiais genéticos dispostos. Não mais secularidade.

É preciso ter em mente que o tempo da baixa produtividade não mais se coaduna com o momento tecnológico da agricultura brasileira, cujo salto se deu com o uso de técnicas integradas, enfocada no manejo do solo, transformando os cerados, antes solos imprestáveis, em terras produtivas.

É preciso explicar ao leitor sobre os efeitos da agricultura no meio ambiente e a distinção entre ela, como a arte de ganhar dinheiro com a terra, e o uso da terra sob a concepção agroecológica.

Meu colega Bernardo van Raij (ENA, 1962), pesquisador aposentado do IAC, Campinas, contextualizou muito bem:

. “A agricultura é uma das atividades humanas que mais causa degradação ambiental, pela destruição de vegetação nativa e habitats, pela erosão e degradação do solo, pelo comprometimento dos recursos hídricos, pela poluição de água, ar e alimentos”.

• “Mas, a agricultura é essencial para a vida humana, por produzir alimentos e outros produtos úteis. É a atividade que mais emprega gente. A que produz maior superávit na balança de pagamentos. É fonte de satisfação humana, pela diversidade de produtos que oferece, tornando mais agradáveis às refeições, mais bonitas as paisagens”.

• “Temos que agir para tornar a agricultura sustentável e, para isso, cada pedaço de chão cultivado deve ser cuidado com carinho, para que produza o máximo, polua o mínimo e traga retorno para quem trabalha a terra”.

Então, exemplificando com o cacau, tem-se opções, considerando num extremo a “cabruca” (plantio sob a floresta nativa), variando o grau do sombreamento e, no outro, o cacau a pleno sol, sob sistema de altos insumos, incluindo a irrigação.

Nem muito ao sol e nem muito à sombra. Vai depender das condições fitogeográficas e estrutura de agricultura de precisão, mas sempre com o lápis na mão. Este é quem vai definir, pois o importante é o dinheiro que vai entrar no bolso; custo-benefício.

Como exemplos para colocar o leitor no epicentro dessa discussão:

– Uma área no Vale do rio Almada (Sul da Bahia), com boa distribuição de chuvas, relevo de anteparo aos ventos, solo fértil, sem necessitar de muito adubo. O cacau pode sob mata raleada produzir a contento e ser lucrativo. Os mesmos resultados não serão auferidos nos tabuleiros, de solos fracos e de baixa capacidade de retenção de água, havendo uma concorrência da mata cabrocada com os cacaueiros.

– De outra forma, uma área de cerrado num complexo de agricultura com uso de tecnologias avançadas, no qual a visão é de produzir o máximo numa unidade de área. Nesse caso, o cacau vai ser testado no mesmo escopo dos cultivos presentes, notadamente soja, milho e algodão, concorrendo em termos de ganhos líquidos. Não é só a produtividade que vai contar, mas o lucro final comparado àqueles.

O fundamental é se produzir cacau, seja do jeito que for, pois o país passou de exportador a importador, a região se empobreceu, a CEPLAC se afundou, o cacauicultor se endividou e a mão-de-obra se afavelou.

Urge, pois o programa integrado que revitalize a região cacaueira numa concepção holística, interagindo as pernas desse cavalete. Ações isoladas nada resolvem. (Maceió, AL, 17/05/2022)