:: ‘Falaê’
A intolerância e os crimes contra homossexuais
Episódios de agressões contra homossexuais foram destaque nos noticiários dos grandes jornais do país nos últimos dias. E não foram agressões leves, dessas que passam despercebidas no cotidiano. Foram casos que chegaram à tentativa de homicídio, somente pelo fato de as vítimas não terem a mesma orientação sexual dos seus agressores. A intolerância está à flor da pele nas grandes capitais.
O caso mais grave aconteceu no Rio de Janeiro, onde um militar atirou em um jovem, após tê-lo humilhado e ofendido apenas em função de sua homossexualidade. O militar será indiciado por tentativa de homicídio duplamente qualificado.
Outro episódio de violência ocorreu em São Paulo, onde um grupo de jovens, quase todos adolescentes, menores de idade, agrediram outros jovens na Avenida Paulista, palco da Parada Gay, simplesmente por não serem heterossexuais. A Polícia Civil está investigando se o que motivou o crime foi a homofobia, já que uma das vítimas foi chamada de “bicha”, “gay” e de outros termos discriminatórios. Se neste caso houver punição, ela será por agressão. Mas para tais punições pouco importa se elas se deram em razão de atos homofóbicos ou não. No entanto, não houvesse agressão ou tentativa de homicídio, a punição seria muito mais difícil já que no Brasil não é crime discriminar em razão de orientação sexual.
Só tem um jeito de fazer valer a pena!
Penso que qualquer coisa que nos propomos a fazer precisa valer algo de bom. Precisa servir para algum crescimento, alguma evolução, mínima que seja. Assim, de atitude em atitude, de escolha em escolha, vamos desenhando a pessoa que de fato desejamos ser!
Felizmente, muitas leituras, músicas, conversas e até filmes terminam servindo para fortalecer essa minha crença e mostrar que realmente “é preciso saber viver”. Quando assisti “O Poder Além da Vida” pela primeira vez, fiquei encantada com a forma que esta mensagem é transmitida no filme. Baseado numa história verídica, o roteiro conta sobre um ginasta em crise existencial que encontra um amigo, uma espécie de mestre, com quem aprende lições fundamentais para seu amadurecimento.
E numa das melhores cenas, o mestre diz ao rapaz algo mais ou menos assim: se quer fazer a sua vida valer a pena, precisa aprender a responder três perguntas e vivenciar essas respostas. São elas:
Ousar é preciso.
Navegar também é preciso, principalmente em tempos internéticos. Ser audaz significa muito para mim. Também podem me chamar de atrevida. Vou gostar.
Há algumas semanas a palavra Ousadia, ouvida de uma boca e com uma voz que amo muito, está na minha cabeça. Linda palavra, de lindos significados. Gosto demais de tudo que quer dizer movimento, andar para frente, criar, fazer, acontecer. Ousadia é tudo isso e muito mais, sempre acima do que é permitido até aquele momento. Ultrapassou, ousou. Pode ser uma transgressão, mas sempre feita com muita racionalidade.
Ousar requer decisão, coragem, vontade, desejo. Para ousar é preciso aprender, enfrentar, e muitas vezes desafiar o estabelecido, o comum. Quem ousa, arrisca o tudo ou nada, certamente sempre na busca dessa tal felicidade. Ousar é mais humano do que animal, que aprende atavicamente. Para ousar é preciso pensar e raciocinar. Coisa de gente.
Ousar é preciso. De precisão de movimentos, já que sempre é a busca de uma realização. Ninguém ousa de bobeira, mesmo que assim lhe pareça. E há, sim, a relação com o navegar precisamente em águas que podem não ser tão estáticas. É dos navegadores antigos a frase gloriosa: “Navegar é preciso; viver não é preciso”. Teria sido dita primeiro por Pompeu, general romano, aos marinheiros amedrontados que se recusavam a viajar durante e para a guerra. Horácio começou a imortalizá-la, e finalmente, Fernando Pessoa, a trazê-la para nós em nosso tempo:
“…Quero para mim o espírito [d] esta frase, transformada a forma para a casar como eu sou: Viver não é necessário; o que é necessário é criar. Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. Só quero torná-la grande, ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo…”
“As horas em que ninguém mandou” – coluna Carlos Brickmann
Comecemos com uma dúvida: um homem de idade, há muitos anos lutando contra o câncer, submetido a mais de dez operações, internado há uma quinzena por obstrução intestinal, sofre um infarto agudo. E não corre risco de vida? Torcer pela vitória do vice-presidente José Alencar sobre os males que o atingem é uma coisa; aceitar a prestação de informações inverossímeis é outra. Estaremos de volta aos tempos em que se falava de “sinais vitais preservados”?
Pois é: o vice-presidente José Alencar na UTI, com infarto agudo e suboclusão intestinal. O presidente Lula do outro lado do mundo, em Seul. O terceiro na linha da sucessão, Michel Temer, presidente da Câmara dos Deputados, em Buenos Aires. O quarto na linha de sucessão é o presidente do Senado, José Sarney.
Alguém ouviu algo sobre a posse de Sarney, nas horas (poucas, felizmente) em que dele seria a missão de presidir o país? Talvez não seja preciso tomar posse, formalmente. Alguém ouviu algo sobre os atos de Sarney como presidente?
Mas, afinal de contas, qual a importância disso? Mesmo na Coreia, o presidente Lula tinha acesso a todas as informações necessárias e condições para dar todas as ordens que quisesse. O que traz à tona a verdadeira questão: por que existe ainda toda uma estrutura de vices, caríssima, que hoje só serve para barganhar alianças, montada numa época em que as telecomunicações não existiam?
É um bom caminho para iniciar a reforma política: cortar o desnecessário, até a Vice-Presidência. E contar a verdade aos cidadãos, por desagradável que seja.
Quem nunca comeu melado
Circo da Notícia
“Imprensa, sim, e sem censura”- Carlos Brickmann, para o Observatório da Imprensa
São dias de boas notícias para a liberdade de imprensa:
1 – A presidente eleita Dilma Rousseff fez um discurso de defesa explícita da liberdade de imprensa e prometeu zelar por ela;
2 – Dois jornalistas de primeiro time, Eugênio Bucci e Ricardo Kotscho, ambos ligados ao presidente Lula, ambos ex-colaboradores de seu Governo, tomaram posição aberta e firme em favor da liberdade de imprensa. Sua posição democrática já era conhecida, mas vale ressaltar a coragem de, no calor da eleição, declará-la publicamente;
3 – Dois historiadores importantes, Carlos Fico e Jesse Jane Vieira, se rebelaram contra a política do Projeto Memórias Reveladas, cuja função deveria ser abrir e manter disponíveis os documentos da ditadura militar, mas que restringiu o acesso ao material alegando que as informações poderiam ser utilizadas na campanha eleitoral. Carlos Fico e Jesse Jane, num país em que agarrar-se aos cargos parece um comportamento natural, preferiram sair, para não compactuar com a política restritiva de informações.
4 – uma ativa organização de jornalistas, a Abraji, Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, tomou posição aberta e militante em favor da abertura dos documentos e defendeu a promulgação de uma lei de acesso a informações públicas.
A declaração da presidente Dilma seria ainda melhor se, em vez de prometer zelar pela liberdade de imprensa, assumisse o espírito da Primeira Emenda da Constituição americana e se declarasse disposta a lutar contra qualquer interferência na liberdade de expressão. Mas o que disse já foi excelente – especialmente depois que o presidente Lula, em várias declarações, defendeu a liberdade de “divulgar informações corretas” (e quem decidirá se as informações são corretas?), e parlamentares do PT, em movimento articulado, se mobilizaram em vários Estados para criar comissões de controle da imprensa.
Bons ventos, enfim. E que, além de bons, podem anular os furacões que se formavam no horizonte.
Bucci
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Uma questão humanitária, não tributária
Ela estava lá, bem ao lado do corredor, envolta no cheiro típico dos grandes hospitais, um cheiro que lembra assepsia e tristeza. O movimento era intenso, pessoas passavam por ela, deitada naquela maca, e sem notá-la por certo, por entender que era apenas mais uma; dessa forma, mal podiam perceber sua dor, seu desespero, seu abandono. Com certo cuidado, tentei me aproximar da pobre mulher e constatei seu sofrimento na longa espera para ser atendida num dos maiores hospitais públicos do país.
Por um instante, como se fosse um filme daqueles de cunho documentário, me vieram inúmeras imagens de pessoas na mesma condição, e que naquele exato momento sofriam o desalento de ser obrigadas a sofrer no corredor frio de um hospital por um simples motivo: a insensibilidade do poder público com a saúde dos pobres. Questionei, então, onde estaria a dignidade humana quando milhares de pessoas humildes, hipossuficientes, sem recursos, agonizam por falta de uma estrutura digna da saúde pública? Quais argumentos tributários, econômicos, poderiam superar o sofrimento, o desespero de um pai ou mãe da periferia ao ver seu filho não ter assistência digna por parte de um hospital público nesse imenso Brasil?
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Impaciências.
O sinal ainda ia fechar, mas o pedestre já está lá no meio da rua, driblando a faixa. O sinal vai amarelando e o cara de trás já tacou a mão na buzina. Se você deixar passar o tal pedestre, ainda vai é ser muito xingado pelo tal motorista que, em geral, gesticulará muito com as mãos, talvez dedos. A fila do caixa não anda, ninguém atende a porcaria do telefone e quem ficou de ligar não liga. Você fuma, come, bebe mais do que deve e pode começar a espumar
O elevador vem vindo, mas o coitado do botão de chamada é massacrado, como se acelerador fosse. O cara vai descer daqui a dez pontos, mas já está na porta do ônibus, empatando a saída e outras coisas. Nem bem o Metrô parou, tem invasão de gente saindo e entrando pelo mesmo lugar, a porta – e duas coisas não ocupam o mesmo lugar no espaço. Às vezes a gente nem percebe, mas já está com ela incrustada: a impaciência. Entre os sintomas, o tamborilar de dedos na mesa, o pezinho batendo ou sacudindo mais nervosamente, vontade de esganar o mundo, uma certa agonia. Se não é TPM, é impaciência.
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“Ano do Tigre, Dia das Bruxas” – coluna Carlos Brickmann
Foi uma bela vitória de Dilma Rousseff, com ampla vantagem sobre o adversário José Serra, do PSDB. Mas, apesar da lavada eleitoral, a vantagem de Dilma não é suficiente para fazer o que quiser, à vontade. A oposição venceu nos Estados mais ricos e de maior população; neles habitam, hoje, 52,3% dos eleitores brasileiros. Presidente é presidente, seu poder é incontrastável; os governadores têm muito menos força e, em grande parte, dependem de recursos da União. Mas juntando-se os governadores de São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Santa Catarina, Mato Grosso, Goiás e outros Estados, forma-se um poder capaz de conter uma eventual afoiteza e as possíveis bravatas do Governo Federal.
As primeiras palavras de Dilma como presidente eleita foram moderadas – moderação que pode ter irritado os bolsões sinceros porém radicais de seu partido, mas que se tornou obrigatória diante da divisão do poder no país. O eleitorado está rachado ao meio – pouco mais da metade com o PT, na eleição presidencial, pouco mais da metade com a oposição, nas eleições estaduais. A forte frase de Dilma em favor da liberdade de imprensa pode ser lida a partir dessa divisão de forças: “Prefiro o barulho da imprensa livre ao silêncio das ditaduras”.
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Insurreição eleitoral
As previsões, as profecias, as certezas dogmáticas enunciadas pelos “especialistas” das mais variadas áreas anunciavam um desfecho inequívoco para a eleição presidencial: a vitória arrasadora de Dilma Rousseff no primeiro turno e o desbaratamento de qualquer tipo de oposição.
Seria o triunfo, a consagração do lulo-petismo, a vitória de um projeto de poder popular contra “tudo o que aí está”, contra as “elites opressoras” que dominaram o Brasil durante 500 anos.
Popularidade fictícia
Lula e sua candidata eram – e continuam a ser – consagrados nas pesquisas. Mas, como já frisei diversas vezes no Radar da Mídia, trata-se de uma ficção, desmentida sempre que é confrontada com a realidade. Neste caso com a realidade das urnas.
Votaram em Dilma 47.651.434 eleitores, de um total de 135.804.433. Ou seja, apenas 35,08% do eleitorado.
Onde estão, pois, os mais de 80% de popularidade de Lula? Ele que de forma escandalosa – e ilegal – transformou a eleição de Dilma Rousseff em seu virtual terceiro mandato, chegando a subir em palanques, sem a presença de sua pupila, pedindo votos para si, ou que nas propagandas no rádio e na televisão afirmou sem pejo: “Quem vota em Dilma, vota em mim”.
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Vácuo, vazio, vade retro.
Toda semana antes de escrever tento me concentrar no tema que está mais ou menos presente, circulando na cabeça das pessoas, e busco traduzir um pouco desse enorme sentimento coletivo. Pois bem, desta vez se eu tivesse que depender disso, a página seria um branco, um enorme ponto de interrogação, a incógnita. O desenho de um risquinho. O vácuo. Sem ideia do que iria preenchê-lo.
Desde que comecei recebo dezenas de mensagens e cartas a cada texto que escrevo, toda semana, vindas de pessoas as mais variadas a cada dia, agradecendo e dizendo que eu coloquei no papel naquela hora exatamente o que elas pensavam, sentiam, ou tinham vergonha de afirmar. “Tirou as palavras de minha boca”. “Gostaria de ter escrito isso”. “Nunca ninguém foi tão direta nesse assunto”. “Faço minhas suas palavras”.
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