Do outro lado, na Estrela do Norte, dois cavalos arreados e selados, prontos estavam para nos conduzir à Lombardia, de Pasquale Magnavita.

Podia-se ir de carro até lá, mas o escritório de extensão de Itapebi naqueles despontados dias dos anos 70 do século passado, embora já atendesse a uma considerável quantidade de propriedades do município, só contava com uma picape. Toda preta e o nome Ceplac em letras garrafais brancas em suas portas, esses tipos de viaturas mais os jipes Willys, rodando em todo Sul da Bahia, se tipificavam por essas características, dando a eles, visibilidades.

Na programação mensal de viagens, essas, digamos assim, agências extensionistas, procuravam fundamentadas em metas, conciliar o atendimento a pequenos, médios e grandes produtores, mutuários e, não financiados, estes, inclusive, persuadidos diuturnamente a aderirem ao sistema Ceplac. Na de Itapebi, em razão do problema exposto, era-se também imperativo ajustar com Zé Ribeiro, agrônomo chefe naquele momento (o motorista era o Hermes Lemos) esses deslocamentos. Como uma das soluções se buscava, segundo objetivos e necessidades, estabelecer num imóvel –com a prévia aquiescência do proprietário–  o chamado ‘quartel general’, e assim com uma semana ou mais de estadia, se tentar visitar o maior  número de fazendas possíveis.  Vale lembrar que, de boa contribuição para o dinamismo da extensão rural e por tabela, para a melhoria laboral do extensionista, o programa de financiamento de veículos do órgão, ainda estava passando pela fase germinativa.

Antes que esqueçamos, para os curiosos da Região Cacaueira, a Estrela do Norte, era uma fazenda de cacau situada à margem esquerda do rio Jequitinhonha (defronte à Itapebi). Tendo tudo a ver com a fundação desta cidade, o seu primeiro proprietário fora José Francisco de Souza, conhecido como Juca de Vicente. Notícias dão conta que, não obstante, seu casarão sede de arquitetura portuguesa estivesse dentro de um entorno de imóveis tramitando processo de tombamento pelo governo estadual, fora demolido em 2013, com veementes protestos de muitos itapebienses.

Bom, estagiava o técnico agrícola Tonho Seara, e este escrevinhador programara com este colega estagiário via transporte de tração animal uma supervisão ao plantio de cacau financiado na referida propriedade acima. Combinamos sair na matina, mas o dia de inverno amanhecendo debaixo de chuva, atrapalhara um pouco.  Uma breve e enganadora pausa da chuvarada nos encorajando na decisão de não falhar o compromisso com o administrador em espera, batemos o martelo.  Atravessamos o Jequitinhonha de canoa e com o guia à frente, enfrentando troncos, barrancos, lama e a vertical água a cair copiosamente em nossos lombos e nos dos animais, finalmente, à tardinha, chagávamos ao destino. Molhados, tal e quais ‘pintos encharcados’, desapeamos. Coincidentemente, Guilherme Bastos, um dos dirigentes do Depex (Departamento de Extensão – atualmente Centro – CENEX) em andanças de inspeção pelo extremo sul baiano, estava ali.  Mal, mal começamos a passar-lhe os detalhes da área implantada, não titubeou em dizer de nossas más condições de trabalho e, afirmando haver um motorista interessado –por possuir laços familiares na cidade– em trabalhar em Itapebi, nos prometeu mandar um jipe dentro de uma semana. Não deu outra. Antes mesmo do prazo prometido pintava Jones (Jones era irmão do Rui Chapéu, famoso campeão de sinuca que, se não estamos enganados, trabalhara na Ceplac) conduzindo o veículo.

Com se expectava, a chegada de mais um meio locomotivo rodoviário contribuiu decisivamente para, eliminando a fadiga, elevar a produtividade da extensão rural no local.

Mais tarde ao ser transferido para a Capitania dos Ilhéus, ficamos melhor conhecendo este diretor extensionista, e de suas atitudes sempre educadas, e gentis, e humanistas.

Heckel Januário


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