Texto de Élio Melo

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Corria o ano de 1551, quando se iniciou a construção da velha e tradicional capela de São Jorge dos Ilhéus, como um dos primeiro marcos da cristandade católica no Brasil, cuja freguesia foi criada a esforços do Padre Francisco Pires, em 1536, como uma homenagem aos fidalgos dos Figueiredos, e, especialmente, ao ilustre intelectual Jorge de Figueiredo Correia, quando era nosso primeiro Bispo Dom Pedro Fernandes de Sardinha, uma das vítimas da ação mortífera dos Caetés.

O primeiro vigário da capela foi Padre Francisco Pires, auxiliado pelos Padres: Manoel Andrade e Jorge Rodrigues, que o ajudaram na construção do templo.

Em agosto de 1565 já o templo apresentava vultoso aspecto, com ótimas proporções, quando foi inaugurado. Tinha três altares de talha de madeira de cedro, cancela de condurú, colunelos torneados, coro de pedra, piso em pedra lavrada e outras particularidades de fino gosto.

A igreja fora visitada pelos ilustres personagens Men de Sá, Estácio de Sá, Aspicuelta de Navarro, Manoel da Nóbrega, Anchieta, Grã, etc. Nessa época foi também construída a Santa Casa de Misericórdia.

Em 1560, porem, foi abandonada e danificada a Igreja, devido à epidemia variólica e outras doenças transmissíveis. Cessada a coação epidêmica, iniciou-se a reconstrução do castigado templo, que assistiu ao seguinte drama de injustiça humana: era vigário dessa igreja o fidalgo e eloqüente prelado Padre Manoel de Paiva, um dos dirigentes do antigo colégio de Ilhéus, então situado no lugar, onde se acha chantado o edifício da Prefeitura, cuja latitude de 15° é a cintura do Brasil.

A fim de ser quebrada a inflexibilidade do orgulho do Padre Manoel de Paiva, sacerdote de alta linhagem racial e apreciada inteligência, foi duramente punido pelo Padre Manoel da Nóbrega que mandou vende-lo em praça pública, como escravo, a fim de torná-lo humilde e diminuir a inteireza da sua vaidade, embora fosse um orador primoroso e descendente de família da mais alta fidalguia.

O povo, em massa, o adorava e o trazia, festivamente, sempre à sua residência. Nóbrega resentiu-se, e, talvez, se arrependesse da punição que mandou praticar, porque não sentiu o apoio de seus Pares e o sorriso dos fieis. Nóbrega era torturado pelos males do sofrimento de uma horrível gagueira; enquanto isto Anchieta ganhava glória perante Deus, o Brasil, a Bahia e Ilhéus.

Enviada por Alfredo Amorim da Silveira