por Raymundo Sá Barretto Neto

(E) Jorge Amado, Sa Barretto, Telmo Padilha, Florisvaldo Mattos e James Amado.

(E) Jorge Amado, Sa Barretto, Telmo Padilha, Florisvaldo Mattos e James Amado.

21 de fevereiro de 1924, Ilhéus, Bahia. Nasce nesse dia um menino, batizado com o nome de Raymundo, esse menino cresce atento ao movimento de sua cidade. Em 1930 morre o seu avô materno, um velho comerciante que representava a Companhia de Navegação Baiana, em um tempo que ainda não existia na região os automóveis. Em 1932 perde o seu pai, filho caçula do segundo casamento, o menino Raymundo, observador por natureza, passa a testemunhar as historias daquele tempo. Em 1930, com seis anos de idade com a chamada Revolução de 30, em Ilhéus, relata Sá Barretto, tinha apenas três rádios, um na casa de Mario Pessoa, outro, na de Edgar Lira, e o terceiro na de Estefânio de Sousa. Diz ele: – Lembro-me de que ninguém ia à casa de Estêfanio, diziam que a mulher dele “era muito chata”. Então se revezavam grupos enormes entre a casa de Edgar e de Mario.

Aos vinte e um anos Sá Barretto juntamente com seu irmão mais velho José Pacheco (Zé Checo) Vai morar no Rio de Janeiro onde passam a ter um comercio, o ano era 1945, período movimentado na politica nacional e o Rio de Janeiro sendo a capital federal era o centro dos acontecimentos. Eles procuram um velho conhecido da família, João Mangabeira, figura de destaque na politica do país, começou sua carreira de advogado e politica na região do cacau, quando recém formado no ano de 1900 foi residir em Ilhéus, onde 8 anos depois foi prefeito da cidade, em 1910 deputado defendendo os interesses da região sul baiana, nele Jorge Amado se inspirou pra criar o personagem Mundinho Falcão do romance Gabriela, sua administração foi um marco na politica da região. Raymundo e José ao procura-lo no Rio foram muito bem recebidos, e frequentavam sua casa, através de João Mangabeira tiveram acesso as seções da câmara federal, e também no período da constituinte de 1946. Residem lá por quase três anos.
Voltam para Ilhéus em 1947, em 48 casa-se com Itassucê, em 49 morre Zé Checo aos 30 anos de idade. Em 1951 aos 27 anos Sá Barretto em conversa com um amigo tabelião da cidade, que estava próximo de se aposentar, demonstrou interesse em ocupar a função, tendo todo apoiou do amigo que o encaminhou para as formalizações necessárias para ocupar o cargo. Exerceu com dedicação o tabelionato por mais de 40 anos.

Sá Barretto se interessou por tudo que dissesse respeito a cultura de sua cidade, se aproximando e buscando conhecer os seus principais agentes. Em conversa recente com Mãe Elza responsável pelo Terreiro Matamba Tombenci Neto fundado em 1885, ela me falou da amizade do meu avô Sá Barretto com o pai dela, e que ainda hoje ela reza todas noites para ele, Dr Soares Lopes e outras pessoas que tinham a satisfação em servir a comunidade. Sá Barretto conviveu ainda em sua infância com figuras lendárias de nossa cidade, a exemplo do poeta Sosigenes Costa, o escritor Adonias Filho e do musico João. O seu interesse pela cultura era tanto que o fez aproximar de pessoas bem mais velhas que ele, personalidades como Eusinio Lavigne , nascido em Castelo Novo distrito de Ilhéus no ano de 1883, do velho Adriano Silva Junior, do já citado João Mangabeira e outras diversas. Quando ele estava na casa dos 60 anos, esses amigos muitos já tinham morrido. Com 70 anos Sá Barretto se atualizou, fez um curso de informática e passou a ser um internauta, ele dizia que os amigos tinham quase todos ido embora e que agora ele estava a fazer amizade com a juventude.

Gostava tanto de viver, mas o fato de ter levado uma vida sedentária e ter tido problemas de saúde ainda jovem, comprometeu um pouco a sua velhice, e então ele dizia aos 77 que estava já na prorrogação. Esse é o avô que guardo no meu coração um homem de bom humor, de bem com a vida, a serviço da comunidade em que viveu por 79 anos.