Erradicados os Gravatás da Praça São João
por: Guilherme Albagli de Almeida
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Na língua dos Tupinambá, “cará” significa homem, agressivo, predador, assim como em outras famílias linguisticas, como a Quechumara, a Macrogê e a Carib, por exemplo. É porisso que temos tantos peixes e aves contendo o radical “cará”, como carapeba, caramurú, curimatá, carcará – todos animais agressivos, predadores -. O “cara”, que pensamos ser gíria de malandro é, na verdade, uma das dez mil palavras de origem Tupi encontradas no português do Brasil. Quase todas as denominações de grupos indígenas da fala Macrogê contém este mesmo radical: Krem, Kraô, Massacará, Carinhanha, Guerém e muitas dezenas de outros.
Pois entre os vegetais, também, aparece este mesmo radical: Gravatá, por exemplo, deriva de Cará-Guatá, que significa “um ser agressivo que anda”. Tal vegetal, chamado “Bromélia” pelos botânicos, se propaga “caminhando” sempre em determinada direção.
Mas porque seria tão agressiva esta bela planta? pelo serrilhado das beiradas das suas folhas ou pela sua especial capacidade de reter a água da chuva, tornando-se foco de chatos e perigosos mosquitos ? Quando a criamos em casa, podemos colocar inseticidas no seu cálice, alguns tão simples como rodelas de banana, que acidificam a água, impedindo a proliferação das cabeças-de-prego; mas quando estas bromélias são usadas nos ambientes públicos, que quase sempre tem nula manutenção, a coisa piora.
Pois nisto não pensou o ou a paisagista contratada pela Cidadelle para embelezar a Praça São João, no Pontal. Contaram-me que um conhecido ex-reitor universitário, morador do bairro, inspecionou estes gravatás, ali encontrando as larvas dos mosquitos que fizeram a festa sugando o nosso sangue e ali deixando os vírus do dengue, do chicungunha e do zika. Só quem foi sugado por estes mosquitos ( ou “mosquitas”, como os chama a nossa brilhante “presidenta” ), pode saber da extrema aflição dos contaminados, que ficam sem poder se virar na cama, subir e descer escadas, sentar-se ou levantar-se de cadeiras ou dos vasos sanitários de baixa altura.
Pois hoje, às seis da manhã, indo à padaria da Carol e do Zé tomar o meu café, vi todas as agressivas caminhantes toradas pela base. Não sei se este ato heroico foi de um contribuinte ou da PMI. Sendo trabalho noturno, imagino ter sido obra de algum vizinho consciente e disposto.
Seja lá quem foi, parabéns a quem teve a brilhante ideia e quem a executou. Agora só falta a PMI se valer da autorização judicial solicitada e atendida, para arrombar as portas das muitas casas fechadas que pontuam nossas ruas.
Obrigado, cara. O seu ato não foi em nada agressivo.