por JUVENTINO RIBEIRO 

“O efeito prático das várias medidas governamentais não se traduziu em melhorias significativas para o cotidiano do nordestino, pois em vez da propalada implantação de obras de infraestrutura, de indústria de bens e serviços o que tem ocorrido mesmo foi implantação da indústria da seca”.

Tem sido notório que oligarquias econômicas e políticas do Nordeste sempre se utilizaram de recursos do governo em benefício próprio, sob pretexto de combater as mazelas do fenômeno climático. Outras secas atingiriam a região nas décadas seguintes, sendo que a mais abrangente teve início em 1979 e durou quase cinco anos. Fome e saques se espalharam pela região. Estima-se que não houve colheita em nenhuma lavoura dentro de uma área de 1,5 milhão de km2.

Dados oficiais dão conta de que, naquela época, morreram 3,5 milhões de pessoas por conta de enfermidades e desnutrição. Ficaram famosos os noticiários da TV mostrando crianças esqueléticas a brincar com ossos de animais mortos de fome e sede. Estarrecia também a divulgação do desespero dos sertanejos na busca por alimentação. Comiam qualquer animal que se mexesse na rala e séquida vegetação da caatinga: calangos, teiús, jiboias, ratos e lagartixas.

E nota-se que todo esse descaso ocorreu acentuadamente no período dos anos de chumbo da dominação das fardas, que muitos insistem em propugnar por seu retorno, como baluarte da moralidade, para combater a corrupção que tem assolado por todas as áreas deste nosso Brasil varonil.

Devido a medidas meramente paliativas, o fenômeno repetiu-se com mais intensidade nos anos de 1993, 1998 e 2001. No fim da década de 1990, Pernambuco viveu o pior racionamento de água de sua história: a região metropolitana, incluindo Recife, passou a receber água encanada apenas uma vez por semana. Em 2001, aliada à crise de energia elétrica que colocava em risco todo o País, a estiagem tornou-se ainda mais preocupante.

Um dos projetos do governo federal para possibilitar maior irrigação na área do semiárido, é a transposição do Rio São Francisco, cujas raízes já teriam sido fincadas na época do Império. É uma obra bastante polêmica, tanto por sua viabilidade econômica como por seu impacto ambiental, agora às voltas com escândalos por denúncias de superfaturamento das obras.

No entanto, o efeito prático das várias medidas governamentais não se traduziu em melhorias significativas para o cotidiano do nordestino, pois em vez da propalada implantação de obras de infraestrutura, de indústria de bens e serviços, o que tem ocorrido mesmo foi implantação da indústria da seca. Trata-se de  nefasto conjunto de procedimentos de que se utilizam poderosos grupos nordestinos que se valem do fenômeno e, sobretudo, do mito da seca, para colherem benefícios governamentais em proveito próprio.

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