CORTAR ÁRVORES É FÁCIL!
Em Ilhéus, na contra mão do que se recomenda no restante do mundo civilizado, existe uma infeliz tradição de “solucionar” qualquer dificuldade relativa à urbanização, da forma mais fácil e quase sempre, indevida. Seja no serviço público como no privado, todas as vezes que aparecem dificuldades na execução ou na manutenção das construções e das vias públicas, ou mesmo das residências particulares, que tem alguma interferência com as árvores próximas, a única ideia que surge é simples e rápida: CORTE A ÁRVORE! Se caírem as folhas que “sujam” o quintal ou o passeio, CORTE A ÁRVORE! Se as raízes se expandem e ameaçam os pisos, tubulações ou edificações… CORTE A ÁRVORE… Se deseja fazer uma modificação na via ou uma construção qualquer e existe uma árvore no caminho, CORTE A ÁRVORE!
Claro que muitas vezes surgem necessidades reais e imprescindíveis de retirar árvores para viabilizar serviços e obras que tragam benefícios à população e não existe outra solução que não seja a retirada ou substituição de determinada cobertura vegetal. E nesses casos não há qualquer problema em fazê-lo, pois se trata, antes de tudo, de uma escolha inteligente que tenha como fim a melhoria da qualidade de vida do ser humano.
Mas nada justifica a falta de cuidado e a “preguiça” de pensar em soluções construtivas e urbanísticas que evitem a pura e simples eliminação destas que são as maiores aliadas do homem para manter um ambiente sadio e equilibrado dentro das cidades.
Como arquiteto e urbanista, não consigo aceitar as soluções fáceis que vemos todos os dias e acabam sempre criando ambientes cada vez mais inóspitos ao retirar nossas amigas do reino vegetal. Sabemos que sem as árvores as temperaturas aumentam a níveis insuportáveis, o barulho se torna altamente prejudicial à saúde mental e física e o ambiente urbano passa a ser depressivo e assustador. Portanto para executar qualquer obra, se necessita ter previamente projetos arquitetônicos ou urbanísticos elaborados com extrema consciência e responsabilidade dos arquitetos, tendo a visão clara que as áreas verdes são imprescindíveis para a vida humana e nunca devem estar em segundo plano nos programas e objetivos finais das obras. Não há justificativa para fazer as intervenções sem buscar soluções que consigam aliar as funcionalidades necessárias ao projeto, com a preservação e melhoria ambiental.
As notícias veiculadas na tv a respeito da eliminação de amendoeiras na Av. Soares Lopes em Ilhéus, teve como justificativa as supostas obras relativas aos acessos da nova ponte, mas essa informação não tem fundamento, pois para esses acessos não há necessidade de eliminar um conjunto tão grande de árvores. Seria até compreensível que uma ou outra árvore tivesse que ser substituída ou eliminada, mas nunca uma linha continua no canteiro central da via. Sabemos que essas amendoeiras,
historicamente sofreram podas mal feitas que as deformaram e agigantaram. Mas nem por isso a solução seria eliminá-las. O ideal seria começar a fazer podas corretamente e profissionalmente, para que as mesmas voltem a ter uma forma natural e com dimensões compatíveis com o meio em que se encontram. (Quando se faz a poda de forma correta mantendo-as relativamente baixas, as raízes não necessitam se expandir e causar problemas maiores nem seus galhos se tornam ameaças).
Não se pode aceitar que projetos de engenharia sejam feitos sem antes haver um projeto urbanístico em cuja elaboração os arquitetos pensem e solucionem todos os problemas de forma sistêmica, dando a devida importância a cada uma das variáveis. Isso evitaria, por exemplo, que ocorressem erros estratégicos como o que ocorre na duplicação do trecho da Avenida Tancredo Neves, entre o aeroporto e o conjunto CEPLUS (rodovia Ilhéus/ Olivença) na zona sul. Ali, foi feito um projeto geométrico de engenharia, antes de elaborar um projeto urbanístico, onde deveriam ser levadas em consideração todas as variáveis, tais como os fluxos de pedestres e respectivas passarelas, das linhas de ônibus urbanos com seus respectivos pontos de parada, dos acessos às escolas, faculdades, clubes recreativos e pousadas, dos acessos às praias, da ciclovia e das coberturas vegetais. E aqui eu pergunto: será que realmente seria necessário retirar todos os Ipês daquela avenida? Eu sei bem o quão difícil plantá-los, pois o foram quando eu estava à frente da Secretaria de obras 30 anos atrás. Será realmente necessário eliminar o acesso (pequena rótula) em frente ao posto de gasolina e Hotel Opaba, obrigando a todos a fazer um percurso desnecessário em sentido oposto aos seus destinos?
Parece que precisamos urgentemente repensar o planejamento urbano em nossa cidade, para não fazer sempre o mais fácil.
Cortar árvores é fácil!
Alan Dick Megi – Arquiteto e Urbanista,
Especialista em Planejamento Urbano e Gestão de Cidades.
Concordo plenamente com o arquiteto Alan
É uma bsurdo o que acontece em Ilheus, a irresponsabilidade com o meio ambiente é terrivel, nunca vi governantes gostar tanto de derrubar arvores igual aos que governam Ilheus.
É desumano.
Excelente!!
Análise perfeita, de quem conhece o assunto, com profundidade. Lamentável que sejam dadas tão pouca importância, ao planejamento urbano, em nossa cidade, a ponto de estarem remendando, aqui, e alí, sempre que precisam intervir, pontualmente, na malha urbana. Bom que se diga, que Ilhéus possui tradição na elaboração de planos urbanísticos, tendo inclusie o PLAMI, que serviu de referência a diversas cidades do país. E não foi o único a ser elaborado com o propósito de direcionar, conscientemente, tais intervenções. Lamentavelmente, por decisões tempestivas, políticas, ou mesmo, por interesses diversos, foram esquecidos nas prateleiras empoeiradas de alguma sala, e até, incinerados, para retirá-los do caminho. Hoje assistimos, Jandaias atordoadas, pela perda dos seus abrigos, e uma população revoltada, após o sono letárgico, em que vivia. Bom seria que houvesse um plano de manejo decente, para que hoje não estivéssemos a lamentar. Parabéns pela lucidez. Espero, sinceramente, que ainda haja como remediar a situação. Só não sei a que preço.
Prezado Alan Dick
Bom dia
Parabéns pela brilhante e oportuna colocação. Como Ilheense nato e da gema fiquei mito triste com essa situação e muito mais com toda a repercursão causada por este ato impensado.
Não pretendo ser redundante pois tudo foi muito bem colocado por você; apenas acrescento que se fosse uma árvore que ameaçasse uma casa que após diversos pedidos a órgaos competentes não sendo atendido por burocracia ou empurra empurra como estamoss cansados de preenciar, garanto que aquele que por desespero de perder a vida junto com o bem material tivesse demolido por conta própria tenho certeza que seria preso, multa em cima e excecrado pelos ” órgão competentes “.
Apenas um desabafo sem esperança por experiência prória de sensibilizar alguém pois…a vida como sempre continua. Uma pena!!!!
Forte abraço querido Alan e mais uma vez parabéns
José Rabat Chame
Vitória da Conquista-Ba
jabista , fez nada…