INTERAÇÃO ENTRE AMIGOS

O bar de Zequito’s é bastante eclético, reúnem-se fregueses de diversas categorias profissionais e cada um tem sua preferência de lazer, a culinária é a que predomina.

Semanalmente em especial nos dias de sábado ou domingo normalmente somos surpreendidos por um determinado freqüentador que com muita boa vontade prepara um prato especial pra que os amigos degustem. Recentemente fomos agraciados com o prato especial “Bacalhau a Mendes de Sá” com alguns ingredientes de praxe. O cardápio é muito variado, contudo o churrasco vem sendo o mais requisitado.                                                                                                                    E por falar em peixe (Bacalhau) no livro “Crônicas da Capitania” de Hélio Pólvora, relata uma história à respeito de “um médico que   tinha  o hábito de  caminhar pelos arredores de  Pirangy fazendo sua terapia matinal e ocupacional.  Numa certa manhã ao passar próximo ao rio Almada, encontrou um pescador com uma corda de peixes penduradas no dedão:

– Peixe fresco?

– Fresquinho, doutor!

– Pegou agora no rio?

– Agorinha mesmo. Tem uns que ainda estão bulindo. Olhe aqui.

E exibia peixes enormes.

– Eu fico com o robalo.

– Leve a corda toda doutor.

– Não,  somente o robalete.

Acertava o preço, pagava e despedia-se:

– Entregue o robalo a Jezabel.

O pescador afastava-se e o doutor retornava a caminhada a esmo.

De passagem pela porta do açougue, o doutor encantava-se com um paulista roliço, bem redondinho, todo ele aparado – peça magnífica para um lombo. E como morria pela boca, entrava e comprava.

– Me faça um favor: mande entregar a Jezabel.

Continuava nas suas perambulações. E assim, de compra em compra, o médico enchia a boca de saliva, prelibando o almoço farto em casa de Jezabel, e gastava tempo para ir fortalecendo o apetite.

Meio-dia, em ponto, entrava em casa de Jezabel. A mulher corria a pôr a mesa. O lombo estirava-se, cortado, na baixela, bem no centro da mesa, rodeado por um caldo grosso de encher as vistas.

– Lombo?  Eu lhe mandei um robalo  – queixava-se o médico.

– Está ficando doido? Eu recebi foi um paulista redondo.

– Recheou direito? Botou toucinho?

– Botei, homem!

O médico fartava-se. Se lhe acontecia encontrar à mesa uma moqueca de robalo, aquele robalo que ele havia comprado na beira do rio, ou então pitus do Almada, o diálogo variava um pouco.

– Moqueca de peixe? Mas eu lhe mandei um paulista… eu lhe mandei pitus graúdos…

– Está de memória fraca. É, a idade está chegando…”

Na verdade o que ocorria é que em Pirangy  havia duas Jezabel, ambas cozinheiras de mão cheia, ambas apaixonadas pelo médico, que as visitava com freqüência. Com elas teve vários filhos. Mas os fornecedores não se emendavam. Ora o robalo ia para uma Jezabel, ora para outra. Ora o paulista e os pitus eram entregues a uma Jezabel, ora a outra. De modo que o feliz médico, nas suas andanças por Pirangy, dificilmente sabia o que o esperava à mesa, o que ia comer.

 

Colaboração de Luiz Castro

Bacharel Administração de Empresa