PONTAL – OLIVENÇA uma extensão do passado –II
Esta Praça em Olivença, nos remete a lembrar de nosso tempo de criança e adolescente (1957 a 1969). Naquela época, ela era mais importante do que mesmo o balneário Tororomba. Nela se realizava a sua maior tradição – A PUXADA DO MASTRO DE SÃO SEBASTIÃO – que iniciava por volta das quatro da madrugada do dia 06 de janeiro (Dia de Reis), não importando em que dia da semana caísse o dia 06.
Era um começo de uma jornada, que terminava por volta das 19:00 horas em frente à igreja matriz de Nossa Senhora da Escada, onde finalmente era celebrada uma missa, e lá no seu interior colocavam-se as cordas que serviram para puxarem os mastros.
Era um dia todo especial para os habitantes, não só de Olivença, mas para os que viviam naquela redondeza, num agitamento sem igual. Os nativos, na sua maioria cabocla, se vestiam a rigor. Usavam suas roupas mais bonitas, e ou até mesmo confeccionadas para aquela ocasião.
Como não se lembrar de Everaldo Rezende Mendonça, branco de olhos azuis, que desde sua adolescência e até onde sua saúde permitiu, se tornou o “SINEIRO” oficial da festa, que partia para mata junto com os “machadeiros”, para escolherem as duas árvores (troncos), para substituírem o mastro principal e o secundário (que servia para proteger a imagem de São Sebastião) em frente à igreja.
O tronco principal era arrastado pela praia pelos adultos, já o tronco menor, era arrastado pelas crianças, que se deliciavam, arrastando para ás águas do mar, a fim de facilitar o seu deslocamento e aproveitavam para banhar-se, jogar água para cima, pular, mergulhar e subir até a restinga para deliciar das frutas silvestres que lá não faltavam como: Araçá (Fruto parecido com a goiaba, mas de menor tamanho e gosto um pouco ácido), Cardo de Praia (Planta espinhosa, com o fruto de mesocarpo comestível de cor esbranquiçada e sementes pretas, Garu (Fruto de casca avermelhada e mesocarpo tipo uma massa adocicada), maçaranduba (fruta de cor avermelhada, seu mesocarpo comestível, adocicada com um leite viscoso), Coco de Xangó ou Xandó, fruta tipo parecido com uma espiga de milho, com fruto de cor alaranjado para o vermelho quando madura, de sabor doce).
A saída se dava em frente à fazenda Ypiranga de Vivaldo Mendonça, onde desde cedo já era armado uma barraquinha na praia, com bolos de milho, tapioca e outras guloseimas como: xerém, puba na palha de bananeira, além do cafezinho e algumas aguardentes, para esquentar o sangue, como diziam os cablocos.
Era a concentração desde aproximadamente das 11:00 horas, que findava quando os “machadeiros” deixavam a mata trazendo os troncos, e aí sim, começava o cortejo numa espécie de penitência, isto por volta das 15:00 horas. Os que ali estavam em sua maioria, cumpriam suas promessas pela graça alcançada. Chegando a Olivença em torno das 18:00 horas.
No trajeto, no lugar chamado “Água dos Milagres”, era a vez de entrar em cena os músicos, que chamávamos de “Zabumba”, com suas vestimentas a caráter, com suas gaitas, realexos, triângulos e caixas (instrumentos musicais). Um som tão suave, que penetrava em nossos ouvidos como um verdadeiro bálsamo em louvor a DEUS. Eles acompanhavam o cortejo até a porta da igreja, onde o foguetório brindava a todos.
Já no dia 20 de janeiro, o dia consagrado a São Sebastião, se erguia o novo mastro, e o antigo se fazia uma grande fogueira à noite para completar aquele folclore, que o os tempos modernos apagou de Olivença. Hoje o que se ver não é mais uma tradição (folclore), e sim, uma mistura com trio elétrico, carros de som e cada um a seu bel prazer, desfigurando com suas músicas variadas do pior ao péssimo, que nada tem haver com outrora.
Tínhamos já as músicas decoradas para cantar em todo trajeto, de mais ou menos dois quilômetros, e para quem não lembra mais, vai aí para matar a saudade. “Aruê dão! aruê, dão, dão! Eia, leva, puxa o mastro, que é de São Sebastião” – “Aruê, dão, aruê dão, dão! Leva pessoal, e aguenta corda e viva São Sebastião” e algumas outras que não me lembro mais.
Ora, não somos contrários à modernização, mas existem tradições que precisam ser mantidas na sua originalidade, pois esta é a razão principal para que os turistas assistam a festa como na realidade acontece em todo Brasil, onde estas tradições do passado são mantidas até hoje.
O maior exemplo disso é o nosso bairro do Pontal, que já vinha introduzindo aos poucos, aquele “velhos carnavais” de marchinhas e blocos. E este ano deslanchará de vez, com a inclusão do baile à noite, como se fosse o velho clube Social do Pontal. Tudo liderado pelo colega Abobreira, o Sr. Clélio, e de toda equipe da nova Associação dos Moradores do Pontal (AMOP).
Fico feliz por saber que nosso trabalho no livro “Pontal Ontem & hoje – Memórias” atingiu o seu conclame e tenho quase que certeza, que as outras tradições citadas no livro do Pontal irão voltar, para o bem desta comunidade.
José Rezende Mendonça.
Pontalense desde 1951.
Para ler a 1ª PARTE clique AQUI.
Mais uma vez, o meu amigo-irmão nos presenteia com reminiscências que só nos leva a um pasado glorioso.
Resgatando a verdadeira essência das festividades populares e provocando os desprovidos de HISTÓRIA, a repensar, o quão é importante a preservação de valores para uma cidade que se diz pretender subsistir também, da atividade TURÍSTICA.
Das Dortas !!!!!!!
Muito legal ver você por aqui !!!
Fiquei muito feliz !!!!!
Grande abraço e fique com DEUS (Sempre!).
Rabat.
Grande amigo Lusimar
A minha inquietação sobre o passado, cada vez mais desperta dentro de mim, por isso me sinto aliviado quando relato estes fatos que fizeram, e ainda fazem parte das nossas vidas.
Espero, que no futuro isto seja repensado e que sirva como fonte bibliográfica, para trabalhos das tradições da nossa Ilhéus. Aí sim,saberemos que nossa contribuição não foi em vão.
Um abraço e obrigado pelo comentário.
Seu amigo de sempre
Rezende
bom dia! voces acha que vai continuar assim, tambem depois que Olivença vai transformar-se in reserva indigenas?
abraços a todos