(NOTAS DE BELMONTE – ‘BEBEL’ PARA OS MAIS CHEGADOS)

Para o arquiteto paulista Júlio Louzada, o Jequitinhonha de 500 anos atrás possuía uns dois quilômetros de boca(a outra margem, imagino, pela Barra do Peso, acidente geográfico falado como limite da Capitania dos Ilhéus e de Porto Seguro) como inserido em “Umas e Outras… ( I )” e, constatava,  provando por á mais bê, que a Serra do Lapão no município de Santa Luzia existe picos de 900 metros de altura, que superam, portanto, os 400 do famoso Monte Pascoal da Serra dos Aimorés, e da oficial história do Descobrimento.

Então, se a esquadra cabralina navegava no sentido norte-sul e se o Jequitinhonha, de acordo com Louzada, era o rio de maior força na região sul da Bahia nessa época, os montes ‘lapanos’ são mais um adendo que o grito de “terra à vista” da Nau Capitânia, pode sim, antes do ancoradouro seguro, ter soado ligeiramente mais ao norte, mesmo contrariando radicais defensores da unicidade da Descoberta.

Como se nota, dizer de Bebel sem o Jequitinhonha seria impossível. Vindo da Serra do Espinhaço das Minas Gerais, suas águas até o oceano percorrem 1.100 quilômetros de histórias. E tudo tem a ver com seu leito e margens reluzentes. E lá vão, com a ajuda dos Botocudos, os pioneiros subindo o grande rio. O ouro, a prata, o diamante, a esmeralda abundam, e criam o sonho de riqueza de cada desbravador. As terras pelo rio banhadas e as adjacentes iam se transformando num mar, aliás, em dois, um de prosperidade econômica, e outro comprovadamente insecável: o de uma cultura marcante. É farta nelas a produção de manifestações a exemplo do artesanato cerâmico, madeireiro; da tecelagem; na música os ‘poetas trovadores’ e as ‘lavadeiras cantadeiras’ encantam.

Já é pujante e intenso o comércio Bahia-Minas e vice-versa, e o rio o seu motor. Como a viagem era demorada e diante da incessante e diversificada movimentação de mercadorias, tem-se inclusive que o governo da Província da Bahia em 1874 autorizou a construção de uma estrada de ferro margeando o Jequitinhonha com ponto final em Bom Jardim nas Minas Gerais. Bebel era próspera. Na região de sua nascente, apelidada pelos homens de Alto Jequitinhonha, a terra de JK, Diamantina, como o nome de cara induz, era a bambambã do pedaço. E o rio, importante, imponente, virou vale: Vale do Jequitinhonha! Mas a natureza –dizem– exaurida, reclamara. Mas os governos mineiro, baiano e o central, fascinados pelo brilho do “ouro” de outras plagas, não hesitaram em abandoná-lo, em deixá-lo à própria sorte.  Os enriquecidos não foram poucos, outros acordaram do sonho sonhado, e o Vale este, passou a ser chamado, possivelmente com certo exagero, de Vale da Miséria. De um tempo para cá as chamadas terras do Jequitinhonha foram literalmente tomadas por investimentos privados de plantios de ‘eucaliptos’ para celulose e papel. Houve também a mão do poder público, mas de leve, sem a intensidade necessária. Qual a vantagem social comparativa entre progresso versus dano ambiental causado por esta cultura são indagações que fluem. Mas isso é outra história.

A rápida navegação –sem bússola– por umas das primeiras ligações litoral-interior do Brasil chega o momento de baixar âncora. Mas a embarcação não tardará a partir. O marinheiro aproveita a paradinha para colocar em ordem as coisas, conferir o livro de bordo para as próximas anotações e aventar que, a real possibilidade –seja versado na “casualidade” ou “intencionalidade”– da imensa planície da foz do Jequitinhonha ter sido a terra brasileira dos primeiros contactos dos portugueses, positivamente é mais ‘uma’ de outras nada comuns ligadas à cidade belmontense.

                                               Heckel Januário


Para ler a 1ª PARTE clique AQUI.