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junho 2016
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BASTIDORES DA CONSTRUÇÃO DO TEATRO MUNICIPAL DE ILHÉUS

Alan Dick Megi – Arquiteto e Urbanista

Alan Dick Megi

Agora que, pela segunda vez fui chamado a participar das obras de recuperação do equipamento cultural que mais orgulha o ilheense, me vêm à mente toda a minha história com ele.

Algumas relações com pessoas ou com coisas começam e acabam logo, outras perduram por muito e muito tempo.  A minha relação com o Teatro Municipal de Ilhéus começou em julho de 1973, quando eu contava com apenas 16 anos e pela primeira vez pisei em solo ilheense em férias escolares. Passeando à noite a pé com meus pais e familiares, estranhando o centro da cidade totalmente deserto, onde não encontrávamos sequer um lugar para jantar pois tudo estava fechado, exceto o bar e restaurante que hoje se chama Vesúvio. Sem imaginar que algum dia viria a morar nesta cidade, lembro como se fosse hoje, minha admiração por aquele prédio azul e branco em ruínas, completamente abandonado, onde em sua fachada se lia “CINE TEATRO ILHEOS”. Fiquei ali no meio da rua meio escura, imaginando o quanto ele tinha sido importante no passado e como poderia vir a ser no futuro, se alguém se dignasse a recuperá-lo. Naquela época eu estava fazendo um cursinho pré-vestibular em Curitiba que me serviu para entrar na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo.  Cinco anos depois, já formado, o destino quis que eu viesse diretamente a Ilhéus onde meus pais haviam fixado residência.  Logo que cheguei, muito jovem e ainda imberbe, comecei a trabalhar na Prefeitura na época em que era prefeito o Sr. Antonio Olímpio. Logo tomei conhecimento que havia um projeto para transformar aquele prédio na “Casa de Cultura”, um sonho do então Secretário de educação Wilson Rosa. Fiquei feliz, mas nem tanto, quando vi que o projeto proposto alterava substancialmente as características do local, principalmente na área onde funciona a sorveteria Ponto Chick, a qual daria lugar a uma torre de vidro temperado de uns 3 ou 4  pavimentos, onde seriam instalados os banheiros, administração e a central de ar condicionado. Na praça em frente seria construído um coreto e no seu subsolo a casa de força para fornecer a energia necessária.

Passou o tempo e nada foi feito, até que assumiu a prefeitura o Sr. Jabes Ribeiro, também muito jovem à época. Em uma das primeiras reuniões comigo, no cargo de Assessor de Planejamento, me afirmou que levaria adiante a obra, determinando que eu elaborasse o projeto do novo teatro.  A princípio fiquei um pouco receoso de perder tempo com um projeto que poderia ser “engavetado”, pois sabia ser uma obra de alta complexidade e que demandaria elevados custos, imaginando que aquela decisão poderia ser apenas “fogo de palha” de um jovem prefeito sonhador.

Depois, fiquei exultante com a rara oportunidade que se apresentava e o meu primeiro pedido foi para que a prefeitura desapropriasse a casa vizinha ao lado, a qual se encontrava fechada, para que ali pudéssemos construir as instalações de apoio, camarins, administração, oficinas, ampliação lateral das coxias do palco, e onde poderiam ser realizadas outras atividades paralelas e afins. Assim, atendendo minha solicitação, o prefeito determinou a desapropriação do imóvel.

Mas logo depois veio o primeiro grande obstáculo e a decepção: Um grupo de médicos havia comprado a casa para instalar ali uma Clínica que prometia ser um avanço no atendimento médico na cidade, motivo pelo qual o grupo de proprietários foi em comissão ao prefeito e depois de algumas horas e muitos argumentos, convenceram-no a desistir da desapropriação.

Desânimo a parte, resolvi solicitar outra desapropriação: ao fundo do teatro havia um pequeno sobrado onde antes funcionava um escritório pertencente a Fernando Olímpio, prédio este que posteriormente demolimos e onde finalmente pudemos projetar e instalar a casa de força, os camarins, a administração e a central de ar condicionado. Mas não tivemos espaço para aumentar lateralmente as coxias do palco como queríamos se utilizássemos o outro imóvel. Uma pena!

Elaborado o projeto arquitetônico, partimos para contratar um dos maiores especialistas em acústica e instalações cênicas do país, o arquiteto Roberto Thompson Motta, decisão que se mostrou acertadíssima, pois os mais exigentes músicos e renomados artistas do país nunca economizaram os elogios à excelente acústica e às instalações cenotécnicas do nosso teatro.

Novamente o destino quis que eu continuasse ligado ao assunto, pois logo depois de concluído o projeto fui nomeado Secretário de Obras e passei então à responsabilidade de executar o que havíamos projetado. No dia do início das obras, ao arrancar as madeiras que fechavam as portas daquelas quatro paredes que restavam do antigo Cine Teatro, uma cena me marcou:   no meio do matagal que crescia entre escombros, no espaço aproximado onde hoje se situa o palco, se sobressaía um pé de mamão carregado de frutos, o qual provavelmente fora ali “plantado” por algum passarinho que levou as sementes. E eram somente os pássaros os privilegiados que podiam se deliciar com aqueles frutos, pois só eles tinham asas para ter acesso ao local.

Hoje, no mesmo espaço, aquele palco rende outros frutos: os frutos perenes que a cultura nos oferece, proporcionando-nos asas para que todos possam alçar voos mais altos em direção aos muitos palcos da vida!

Que bom ter sido infundada a minha primeira preocupação e poder constatar que aquela decisão de construir o teatro não era “fogo de palha” de um jovem prefeito sonhador.

E apesar da tristeza de ver a falta de manutenção e o abandono durante anos, que bom termos a oportunidade de novamente trabalhar para recuperar tão especial patrimônio!

Feliz aniversário Ilhéus!

3 respostas para “BASTIDORES DA CONSTRUÇÃO DO TEATRO MUNICIPAL DE ILHÉUS”

  • Lia says:

    Parabéns Pai,por ter agarrado a oportunidade com tanta responsabilidade e sapiência
    mesmo sendo tão novo! Seus receios e medos eram normais, mas graças também a excelente competência do Sr. Prefeito Jabes Ribeiro na época,pudemos ver tantas peças boas de teatro que nasceram ali através de artistas regionais!
    Um presente que a cidade ganhou que deve sempre ser valorizado e lembrado; pois até
    eu mesma já dei meus shows no palco desse Teatro como dançarina e atriz amadora…
    Seria interessante agora ver a ONG a qual faço parte realizando mais leituras dramáticas através das histórias dessa vez contadas por crianças carentes baianas e encenadas por atores regionais… lógico comigo fazendo parte do elenco!

    Parabéns Pai

    Feliz aniversário Ilhéus!

  • Hugo Seguchi says:

    Arquiteto e Urbanista Alan Dick, meu amigo e conselheiro do CAU/BA. Que bom que você possa ter dado uma contribuição a história cultural da cidade que escolheu para viver. E muitas outras contribuições logicamente. Parabéns.

  • Parabens Alan.
    Com a fortuna que já “rolou” em Ilhéus, nos tempos áureos, éramos para morar numa cidade que respiraria cultura. Mas para os mandatários de outrora, Ilheus sempre foi uma espécie de galinha “dos frutos de ouro”. Tanto que quando viajavam para Salvador, diziam:– “VOU PRA BAHIA”.
    Fernando Florencio (Ilheense adotado)

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