Até hoje a lembrança da imagem de urnas, tamanho família, sendo retiradas do Congresso Nacional, me faz sorrir! E elas pareciam mesmo, endossando a inteligente tirada de Alexandre Garcia, com a arca do Indiana Jones. Lembra do filme? “Mas da discordância”, completara o âncora.

A passagem, para quem esteve ligado, já dá para ir manjando. Envolve a Lei dos Royalties, ou melhor, o seu artigo terceiro que insere que os ganhos dos estados e municípios produtores de petróleo na concessão de sua exploração, doravante diminuirão, e os dos não produtores, ao contrário ampliarão, valendo de imediato para este ano novo, cláusula esta vetada pela Presidenta da República no final de novembro passado, só aceitando-a para contratos futuros. No mês seguinte os congressistas decidiram votar o veto presidencial. Como a fila das desaprovações parecia a do SUS de tão grande, e as regras, institucional e constitucional, exigiam (óbvio, continuam) um seguimento cronológico de votação, o impasse foi formado. Os parlamentares tentaram alterá-lo, mas um ministro do STF entrou decidido a acabar com o fuzuê: Peraí! Querem atropelar novamente? Vamos com calma: pela ordem, pela ordem, senhores!

Então deputados e senadores resolveram juntar tudo num balaio e, concluir de afogadilho, sem, portanto, as necessárias análises e discussões. Mas o clima quente da sessão entre as bancadas de não produtores e de produtores não deixou que houvesse um acordo para a votação; e a temperatura esquentou tanto que a reunião mais pareceu um “rinque de boxe”, como salientara um membro diretor congressual. No final os literais caixões saindo em fila indiana do nosso Poder Legislativo, vazios como entraram, completavam a razão que a mim provocou e ainda provoca a hilaridade. Um congressista exaltado chegou a bradar da tribuna: Isto é uma afronta a democracia!

A participação do Ibope para uma pesquisa de boca de urna, caso a votação fosse confirmada, seria desnecessário, pois estava na cara que os não produtores ganhariam de goleada. Analisando de supetão, caberia a meu ver, e com justiça, a distribuição imediata da grana com os demais estados federados, afinal de contas, a imensidão do mar verde-amarelo –imitando  o propagado slogan aqui de nosso governo baiano–, “é água de todos nós”. Por outro lado, fazendo mais um exerciciozinho mental, surgiria na parada uma contradiçãozinha porque a vitória dos não produtores driblaria até –aceitando o drible ou não– a mandatária republicana maior e a sua convicção de que uma sociedade para alcançar o estágio de desenvolvimento da formulação “de cada um segundo sua capacidade a cada um segundo sua necessidade” teria primeiramente de atravessar incólume o de “…a cada um segundo seu trabalho”.

Ou, sei lá, possivelmente os congressistas, patentemente a maioria, com a demonstrada capacidade de mutação e de inovar com humor, longe de estarem de olho somente e simplesmente na gorda bufunfa gerada pelo precioso óleo, tenham se transformados em ferrenhos socialistas!

Heckel Januário