por Juventino Ribeiro – Ilhéus – Bahia

Gostei do texto de José Goulão, Mentiras e Mitos Europeus, publicado no Jornal de Angola, no dia 21 deste mês. Quando morei em Angola, estive a ler uns escritos dele e minha opinião é de que se trata de articulista dotado de acuidade e amplo discernimento no trato sobre assuntos da conjuntura internacional. Estou, inclusive, a procurar pelo livro de sua autoria, “Um Rei na Manga de Hitler”.

A abordagem sobre as manifestações nas comemorações do Dia da Europa, em seu artigo, confirma meu entendimento de que foi apenas mais um dia criado por legisladores que bem sabem o valor aviltado das datas comemorativas. Não são levadas a sério, pois há casos de sobreposição dessas comemorações que chegam a atingir a mais de 90 por mês. Ofuscam o verdadeiro sentido dessas datas. O povo encontrou no Parlamento Europeu portas semiabertas e corações fechados para buscar soluções para suas aflições.

Robert Shuman, foi o idealizador da União Europeia, a 9 de maio de 1950. Nasceu em Luxemburgo, foi advogado e político, chegando a ser ministro dos negócios estrangeiros da França, de 1948 a 1952.

Em seu famoso discurso, também conhecido como Declaração Shuman, tido como embrião da União Europeia, lemos: A paz mundial não poderá ser salvaguardada sem esforços criativos à altura dos perigos que a ameaçam.

Mais adiante: Assim se realizará, simples e rapidamente, a fusão de interesses, indispensável à criação de uma comunidade econômica e introduzirá o fermento de uma comunidade mais vasta e mais profunda entre países durante muito tempo opostos por divisões sangrentas.

Ao contrário de um cartel internacional que tende a repartir e explorar os mercados nacionais com base em práticas restritivas e na manutenção de elevados lucros, a organização projetada assegurará a fusão dos mercados e a expansão da produção.

Entendo que os últimos acontecimentos no Continente Europeu têm se distanciado dos propósitos iniciais e preocupado muitos líderes mundiais. Além de ser berço de incalculáveis fortunas, é também guardiã de fortunas externas (até daquelas de origens duvidosas), oriundas dos quatro cantos do mundo. A Suíça, os Condados, os Países Baixos e outras ilhas fiscais, sempre foram cofres fortes onde essas riquezas estariam a salvo, devido à estabilidade irrestrita de que a Europa sempre fora detentora.

Quando ouço falar de algum sítio europeu, me vem à mente a longa história do continente, seus inventos, sua cultura, sua arte esculpida, pintada e cantada, desde as grandes obras clássicas, passando pelo rock pop de The Beatles, dos Rolling Stones e de tantos outros astros que nos encantam até hoje.

A Europa foi berço do Renascentismo, da Revolução Francesa, da Revolução Industrial, das Guerras Mundiais I e II, da Primavera de Praga, da Unificação das Alemanhas, com a queda do Muro de Berlim; da Perestroika, sos fundamentalismos políticos, do nazismo, do fascismo e do comunismo, nas suas diversas versões.

Entendo que os governos que financiam órgãos “guardiães da paz”, a exemplo da OTAN, o fazem para proteger o capitalismo que, sem o menor escrúpulo, é capaz de meter a mão nos bolsos de anciãos portugueses de mais de 80 anos para lhe tomar 11 por cento de suas mirradas reformas, sem levar em conta os longos anos de árduo trabalho e de contribuições para o instituto da previdência social. Essa atitude talvez abrevie os poucos anos de vida que restam a esses ancestrais de várias gerações, hoje a duvidarem do advento de melhores dias.

Cidadãos em vários cantos do continente têm pesadelos e já sentem chamas a se aproximarem do estopim de uma possível convulsão social que, a todo custo, a OTAN é responsável por evitar.

Em paz, espero que a Europa continue a produzir de tudo que mais gosto: arte, cultura, boa música na companhia de espanholas e francesas, com bons queijos e vinhos, claro. Que os conspiradores do bem nos ouçam!