Maria Regina Canhos Vicentin em: Excessiva presença
“Mamãe, papai, já estou bem grandinho e posso me virar sozinho. Por favor, deixem que eu resolva isso a meu modo!” Que tal? Essa frase faz sentido para você? Já percebeu como existem mamães e papais manipuladores, que seguem pela vida afora acreditando que o filho não é capaz de dar um passo se eles não estiverem por perto? Chega a ser sufocante, não é mesmo? E os palpites, então… Vêm aos montes: “por que você não faz assim?”, “aquela cor fica melhor”, “deixe que faço isso pra você”, “não se esqueça de passar por aqui na volta”, “só estou ligando pra perguntar se você esqueceu que tem família”… E, por ai vai. Seus pais até esquecem que você se casou há muito tempo, tem filhos e um lar para tomar conta. Esquecem, na verdade, que hoje você possui também outra família. Vivem cobrando sua presença ou enchendo sua cabeça com lamentações, passando-se por vítimas, porque ainda não encontraram nada melhor para fazer depois que você e seus irmãos saíram de casa.
Olha, se você passa por essa situação toda a semana, preste atenção no que vou lhe dizer: se deixar, eles vão monitorá-lo a vida toda. Vão tomar conta dos seus gastos, bisbilhotar suas gavetas e panelas, infernizar reclamando de suas crianças… Sempre ressaltando que se você os tivesse ouvido não estaria passando por isso ou por aquilo. Acreditam que têm a receita do bem viver e querem impô-la a todo custo. Só se esquecem de que tiveram a mesma chance anos atrás, e que, se a vida não foi melhor com eles, é justamente porque não foram melhores com ela, pois colhemos o que plantamos. E, agora, querem viver novamente o que já passou. Sabe como? Através de você! É isso mesmo; querem viver a sua vida. Ou não percebeu isso?
Preste atenção nas sugestões deles. Parecem alternativas ou imposições? Não sabe?! É fácil perceber. Repare. Quando você faz o contrário ou algo diferente do que eles sugerem, como se comportam? Esperam pacientemente até que o resultado se configure ou ficam aborrecidos e “emburrados” dizendo que não confia neles e vai acabar “quebrando a cara”? Lembro-me de um desenho, em que havia dois personagens. Cada vez que algo saía errado, diziam entre si: – “Eu te disse, eu te disse”, e o outro falava: – “Eu sei…”; e percorriam assim um longo caminho repetindo essas palavras.
Veja bem, você não precisa provar seu amor aos seus pais fazendo tudo o que desejam que faça. Tem sua própria cabeça e pode caminhar com as próprias pernas. Simplesmente agradeça as sugestões, e avalie o que é melhor ser feito. Caso decida por algo diferente do que lhe sugeriram, assuma sua escolha, e esclareça que, para você, outra opção mostrou-se mais interessante. Não precisa sentir remorso, nem culpa. Todos têm sua chance de viver esta vida. Eles tiveram a deles e, pensando bem, continuam tendo. Liberte-se dessa excessiva presença. Como dizia uma colega de faculdade: “Viva e deixe viver”!
Maria Regina Canhos Vicentin (e.mail: contato@mariaregina.com.br) é escritora.