por Tomé Pacheco

NA FEDERAÇÃO PAULISTA DE FUTEBOL E PENITENCIÁRIA FEMININA –III

Tomé Pacheco

Continuo aqui nesta História de um Ilheense a terceira parte de minha passagem pela Federação Paulista de Futebol e pela Penitenciária Feminina.

Em Caraguatatuba

O juiz da partida era eu. O jogo se dava pela segunda divisão entre o Caraguá e o ADC Guarulhos. O jogo desenrolava-se duro quando o  Caraguá fez 1 a 0. Daí então bastava cair um jogador, não importava de qual equipe, para um senhor chamado João, massagista do time da casa (do Caraguá), entrar em campo para fazer cera. Eu então o adverti: “Só entre em campo quando eu autorizar”. O sujeito, assim como pagando pra ver, não deu bola. Num lance o volante do time do Caraguá caiu em campo e o seu João de prima, adentra o gramado sem minha autorização, e perto do atleta contundido baixou a mala de medicamento. Ah, bicho, eu peguei essa mala e já de saco cheio com aquele abuso, fui até a arquibancada e, joguei no meio da torcida. Aí foi um “Deus nos acuda”! Em seguida chamei o policiamento e pedi que retirasse o seu João de campo. Rapaz, o cara saiu de campo tirando dos cachorros e botando em mim. Mas não teve jeito: ficou sem a sua mala de massagem.

Em Monte Aprazível

O jogo em Monte Aprazível também era da segunda divisão. Aqui abro um parêntese para dizer que embora os jogos dos níveis (segunda e terceira divisões), obviamente não fossem como o de primeira, no campeonato paulista eles eram disputadíssimos, portanto, duros e pegados, e o juiz e auxiliares deveriam estar sempre atentos, redobrando a atenção. Continuemos. Pois bem, a uma altura do jogo os jogadores do Monte Aprazível estavam descendo o sarrafo. No meio do 1º tempo, para se ter uma ideia da violência do time caseiro, eu já tinha mandado 2 para o chuveiro. Como o estádio estava em reforma e havia pedras e pedaços de paus por todo lugar, eu só sei que quando me encaminhava para o vestiário, de repente me vir estirado no gramado: acertaram uma tremenda pedrada em minha cabeça que foi necessário fazer uma cirurgia no local. Quando encerrei o jogo fiz todo o relatório do ocorrido.

Em São Bernardo do Campo

Outra vez fomos escaldo para São Bernardo do Campo. Fui de carona com o , o José Aparecido de Oliveira. Ele todo desanimado falou “Tomé, eu já não agüento mais, estou desmotivado. Faz doze anos eu apitando intermediaria, juniores, segunda divisão. Talvez esse seja o meu último jogo”. Eu animei-o: “Zé, tenha mais um pouco de paciência, os feras, Delcídio, Aragão, Romualdo, Arnaldo Cezar e outros, estão se aposentado e a Copinha está vindo ai. É uma ótima vitrine”. Não deu outra. Ele foi escalado para apitar a Copinha, e o senhor Gustavo (diretor de arbitragem da Federação Paulista de Futebol) estava observando alguns árbitros para preencher as vagas deixadas pelos porretões. E foi numa dessas espiadas do Gustavo que faria o se tornar famoso. O seu Gustavo chegou para o Farah (presidente da Federação Paulista) e comentou: “Descobri o árbitro que vai apitar a final do campeonato paulista”. O Farah deu uma risadinha meio incrédula. Mas parecia que estava escrito.  O então teve sua prova de fogo ao ser realmente lançado no clássico São Paulo e Corinthians em pleno Morumbi lotado. Ó, vou te contar: o cara tirou de letra. Ao final do jogo o estava muito emocionado e a imprensa todo em cima. Chorando e emocionado ele dedicou sua arbitragem a todos os colegas, principalmente aqueles que estavam apitando no interior: eu fui um deles.

O CASO NETO

O (o José Aparecido de Oliveira )sempre comentava “Rapaz, esse Neto é um mau caráter”. Como é até hoje, eu acho. E completava: “Fica me esculhambando, me chamando de preto vagabundo e sempre sai com essa de: ‘apita essa merda, seu macaco; eu sou jogador de seleção brasileira, e você macaco, apitou onde? Nunca nem saiu do Brasil, filho da puta!’”. Como o estava começando e o Neto além de jogar no Corinthians era da Seleção Brasileira, ele engolia sapo, calado. Mas não tardou em razão de suas grandes atuações como árbitro, ser premiado para fazer parte do quadro da FIFA. O tempo passou e certa feita novamente pelo campeonato paulista estava apitando Corinthians e São Paulo. O marcou uma falta do Neto e o mesmo o xingou. Ah, não deu outra: Prontamente o levantou o Cartão Vermelho e, “tome”. O Neto então chegou perto do e deu-lhe uma cusparada no rosto. Bicho, um gesto que pode ser considerado, mais que desprezível, deplorável, de falta de educação, um desrespeito de um ser humano para com outro. É por isso e por mais outras coisas que eu o considero um tremendo crápula, indigno de merecer algum respeito.  Agora fica ele lá na Bandeirantes falando um monte de abobrinhas!  Sou mais o professor Osmar: grande homem, grande médico e grande jornalista, além de um excelente professor de anatomia. Tenho orgulho de dizer que Osmar, com uma didática que poucos têm, foi meu professor na Faculdade de Guarulhos em 1983. Observo que a aula dele era tão boa e atraente, que era a era a única que não faltava ninguém. Digo que nem espirrar se podia, de tão interessante que era. Por isso deixo aqui meus parabéns, professor Osmar, e muito obrigado por tudo que aprendi.

Um pouco de Osmar Roberto de Godoy – O Árbitro

Grande cara. Destemido, bom caráter, boa pessoa, bom companheiro, pau para toda obra, como é até hoje.

Estava recomeçando na arbitragem em 1986 e  tive o prazer de conhecê-lo sendo  seu auxiliar no jogo São Carlense e Velo Clube. Fazia 12 anos que o Velo não ganhava para o São Carlense em seu próprio campo. Nesse jogo o Velo fez 1 a 0. No segundo tempo por volta dos 28 minutos, a bola foi chutada nas arquibancadas. Prontamente o representante de Federação Paulista jogou a bola reserva para o Godoy. Ele devolveu falando “Eu só reinicio o jogo com aquela bola. Pode tirar essa daqui”. Então os representantes do futebol da cidade de São Carlos quiseram saber o porquê ele queria a bola do início da partida. Ele respondeu: “Porque esse monte de palhaço que estão escondendo a bola são uns canalhas e acham que somos bestas. Tá dito: eu só reinicio o jogo se eles devolverem a bola”. Os policiais tiveram que subir na arquibancada e trazer a bola, que levaram mais ou menos uns 12 minutos. Foi deste episódio que eu passei a admirá-lo mais ainda, pois completava o conhecimento de um cara retado e destemido. No conhecido caso Junior Baiano, no qual numa partida o atleta o acusara, com gestos, de embriaguez, não hesitara, demonstrando coragem, em falar no programa Globo Exporte. “Se eu soubesse que a justiça brasileira não era tão morosa (como ainda é) meu problema com o Junior Baiano eu tinha resolvido na bala”. E resolveria mesmo pelo que conheço deste magnífico árbitro que além de não ter “papa na língua” é um “cara macho, sem medo de cara feia”. Por isso, Godoy, sou seu fã! Ele falou e não mentiu.

 

Em Itaquaquecetuba

Fui escalado para Itaquaquecetuba para apitar um jogo de terceira divisão. Eu fui de trem e nesse vagão que eu estava os bancos eram geminados. Sentei e comecei a ler um livro, pois a viagem era longa.

Sentou-se um senhor em minhas costas e ascendeu um cigarro (eu detesto cigarro), e como um castigo, a fumaça vinha toda para mim. Virei para o cidadão e gentilmente pedi, por favor, se dava para expelir a fumaça pela janela. Pra que fui falar! Rapaz, o cara levantou-se pegou o maço de cigarros e foi para o meio do vagão e começou a falar alto: “Fumantes, vamos todos fumar juntos e jogar a fumaça na cara desse careca metido a besta que está se incomodado com a fumaça”. Ninguém dentro do vagão entendeu nada, e muito menos eu. O vagão para se ter uma ideia, estava lotado, mas o cara cansou e sentou-se ao mesmo lugar que estava, junto de mim, portanto.  Daí eu dei uma de fingir que estava lendo. Eu estava na janela quando o cara se prontificou a descer. Eu saí mais rápido e fui pro meio do vagão. Menino! O cara deu um soco tão violento que, se eu não estivesse atento, e não tirasse a cara de banda, estaria fudi… E depois saiu do trem. O pior é que o sujeito deu bobeira, não embarcou, o trem partiu e eu fiquei da janela gozando com a cara do babaca: “Viu, filho da puta, segue sua viagem de pé”.

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